São Paulo, domingo, 18 de setembro de 2011

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TOSTÃO

À sombra do futebol


Há, no futebol e na vida, coisas que podemos entender, mas que nunca vamos conhecer


O drible dado por Leandro Damião, esperança para a Copa, contra a Argentina, foi espetacular, mas não foi original. É um drible frequente no futsal e na várzea, de onde veio o jogador.
Fora o drible, Leandro Damião teve atuação discreta, porque a bola não chegava à frente e ele não se movimentava para recebê-la. Mesmo assim, foi bastante festejado, como se o drible fosse novidade e tivesse resultado em gol.
É o futebol dos melhores momentos, a espetacularização da imagem.
A presença de três marcadores no meio-campo protegeu os zagueiros brasileiros. Por outro lado, nenhum dos três avançou com talento. O mesmo ocorre com todos os outros da posição, convocados para a seleção principal.
Insisto, só teremos um excepcional armador quando os técnicos, desde os das categorias de base, acabarem com a rígida divisão no meio-campo entre os volantes que marcam, sem habilidade, e os meias habilidosos, que não marcam. É necessário desconstruir a maneira de jogar.
Hoje é dia de clássicos. Não há favoritos.
Gosto quando o Corinthians marca por pressão. Mas não é suficiente. Do meio para a frente, o Santos tem mais talento.
Em 2001, na final da Copa do Brasil, no Morumbi, o Grêmio, dirigido por Tite, marcou por pressão e massacrou o Corinthians. Depois disso, não sei o porquê, Tite abandonou essa postura. Virou um técnico comum, com altos e baixos. No atual Brasileirão, voltou a fazer isso em alguns jogos. Evidentemente, não dá para atuar dessa forma durante todo o tempo. É desgastante, além de arriscado.
Alguns jornalistas e treinadores não concordam e/ou não entendem a importância que dou ao acaso. Repito, falo isso quando há equilíbrio técnico. Não desvalorizo o trabalho e as condutas dos treinadores nem os detalhes técnicos e táticos. Não é uma coisa ou outra.
Acaso não tem nada a ver com sobrenatural. Nem é sorte. São detalhes corriqueiros, frequentes, mas que não sabemos onde e quando vão ocorrer. Muitos cientistas já destacaram a importância do imponderável em nossas vidas. É óbvio. É difícil compreender o óbvio.
Existe, no futebol e em todos os setores da vida, ao lado de fatos claros e evidentes, uma penumbra, uma sombra, algo indefinido, desconhecido. É como uma criança que, ao brincar, tenta agarrar sua sombra. É seu primeiro aprendizado filosófico, que há coisas no mundo que podemos refletir, chegar perto e até entender, mas que nunca vamos conhecer.


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