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FUTEBOL
Inédita repetição da fórmula, disputa pela liderança e volta de equipes tradicionais não evitam fracasso de público
Estádios vêem queda de 23% da torcida
CRISTIANO CIPRIANO POMBO
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasileiro-04 continua a fazer
história fora do campo. Já tem a
pior média de público desde 1971
e hoje, após a 36ª rodada, amarga
a perda de 1 milhão de pessoas
nos estádios em relação ao mesmo período do ano passado. É como se, de cada quatro torcedores
que foram aos estádios em 2003,
um tivesse desistido neste ano.
Ao todo, após 432 partidas, o
principal torneio de futebol do
país movimentou nesta temporada 3.277.620 aficionados, bem
abaixo dos 4.281.645 do mesmo
ponto do torneio em 2003, ano de
estréia dos pontos corridos.
A fuga do torcedor, além de deixar a Série A com a pífia marca de
7.587 pessoas por jogo, acarreta
aos clubes uma perda de ao menos R$ 15 milhões, levando-se em
conta apenas o preço mínimo de
R$ 15 por lugar na arquibancada.
Nem mesmo a manutenção do
regulamento, a publicação da tabela no final do ano passado, a
volta de Palmeiras e Botafogo à
elite, a vigência do Estatuto do
Torcedor desde o início do torneio e o fato de nenhum time ter
perdido pontos no tapetão evitaram a evasão dos estádios.
A discrepância fica mais evidente quando se compara os líderes
de público de 2003 e 2004. O Corinthians, clube que hoje é o mais
prestigiado pela torcida, com
15.374 aficionados por partida,
supera por pouco metade do que
o Cruzeiro movimentou em seus
jogos de 2003 (média de 26.758).
Para Virgílio Elísio, diretor do
departamento técnico da CBF, o
motivo da queda no número de
torcedores nos estádios é o mau
desempenho dos clubes tradicionais. "Os maiores "puxadores de
público" estão quase todos fora do
topo da tabela. Situações como a
dos cariocas e do Corinthians [no
início do torneio] afastam os fãs."
Elísio não comentou o retorno
dos tradicionais Palmeiras e Botafogo à Série A deste ano, mas
apontou o rebaixamento do Bahia no ano passado como outro
fator para explicar a perda de 1
milhão de torcedores em um ano.
A respeito da pífia média de público nos jogos dos paulistas
-7.781 torcedores por jogo-, a
explicação é a capacidade da Vila
Belmiro ("só 15 mil pagantes"),
aliada ao fato de os clubes da capital não terem disputado simultaneamente a liderança. "Sempre
que um dos integrantes do "trio de
ferro" esteve em alta, os outros
não acompanharam, o que desmotivou os torcedores a comparecerem aos clássicos."
Ainda sem tocar no desmanche
que muitos clubes sofreram neste
ano -o que motivou Ricardo
Teixeira a editar uma resolução
estipulando prazos para transferência de atletas-, Elísio cita o
campeonato de 2003 para analisar
a ainda mais baixa média dos cariocas (6.002). "Se, no ano passado, o Flamengo tivesse tido um
desempenho melhor, ele não teria
sido obrigado a mandar seus jogos deste ano em Volta Redonda,
o que colaborou para a queda da
média da competição."
Mauro Holzmann, do Clube
dos 13, também defende a tese do
enfraquecimento dos times tradicionais para justificar o fiasco de
público. "Mas não há vínculo nenhum entre a baixa média de público e o formato do campeonato
[pontos corridos]", ressalvou.
Até mesmo na ouvidoria do
Brasileiro o torcedor se faz menos
presente agora. "No ano passado,
quando criaram a ouvidoria, registrei mais de 5.000 contatos de
torcedores. Neste ano, esse número chega a, no máximo, 2.000",
disse Francisco Horta, ouvidor
das Séries A e B do Brasileiro.
Para reverter o quadro, o consolo parece ser a última rodada. Na
temporada passada, 239.033 fãs
viram as definições dos rebaixados e das vagas para as competições sul-americanas.
Colaborou Fábio Tura, do Datafolha
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