São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2004

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FUTEBOL

Inédita repetição da fórmula, disputa pela liderança e volta de equipes tradicionais não evitam fracasso de público

Estádios vêem queda de 23% da torcida

CRISTIANO CIPRIANO POMBO
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasileiro-04 continua a fazer história fora do campo. Já tem a pior média de público desde 1971 e hoje, após a 36ª rodada, amarga a perda de 1 milhão de pessoas nos estádios em relação ao mesmo período do ano passado. É como se, de cada quatro torcedores que foram aos estádios em 2003, um tivesse desistido neste ano.
Ao todo, após 432 partidas, o principal torneio de futebol do país movimentou nesta temporada 3.277.620 aficionados, bem abaixo dos 4.281.645 do mesmo ponto do torneio em 2003, ano de estréia dos pontos corridos.
A fuga do torcedor, além de deixar a Série A com a pífia marca de 7.587 pessoas por jogo, acarreta aos clubes uma perda de ao menos R$ 15 milhões, levando-se em conta apenas o preço mínimo de R$ 15 por lugar na arquibancada.
Nem mesmo a manutenção do regulamento, a publicação da tabela no final do ano passado, a volta de Palmeiras e Botafogo à elite, a vigência do Estatuto do Torcedor desde o início do torneio e o fato de nenhum time ter perdido pontos no tapetão evitaram a evasão dos estádios.
A discrepância fica mais evidente quando se compara os líderes de público de 2003 e 2004. O Corinthians, clube que hoje é o mais prestigiado pela torcida, com 15.374 aficionados por partida, supera por pouco metade do que o Cruzeiro movimentou em seus jogos de 2003 (média de 26.758).
Para Virgílio Elísio, diretor do departamento técnico da CBF, o motivo da queda no número de torcedores nos estádios é o mau desempenho dos clubes tradicionais. "Os maiores "puxadores de público" estão quase todos fora do topo da tabela. Situações como a dos cariocas e do Corinthians [no início do torneio] afastam os fãs."
Elísio não comentou o retorno dos tradicionais Palmeiras e Botafogo à Série A deste ano, mas apontou o rebaixamento do Bahia no ano passado como outro fator para explicar a perda de 1 milhão de torcedores em um ano.
A respeito da pífia média de público nos jogos dos paulistas -7.781 torcedores por jogo-, a explicação é a capacidade da Vila Belmiro ("só 15 mil pagantes"), aliada ao fato de os clubes da capital não terem disputado simultaneamente a liderança. "Sempre que um dos integrantes do "trio de ferro" esteve em alta, os outros não acompanharam, o que desmotivou os torcedores a comparecerem aos clássicos."
Ainda sem tocar no desmanche que muitos clubes sofreram neste ano -o que motivou Ricardo Teixeira a editar uma resolução estipulando prazos para transferência de atletas-, Elísio cita o campeonato de 2003 para analisar a ainda mais baixa média dos cariocas (6.002). "Se, no ano passado, o Flamengo tivesse tido um desempenho melhor, ele não teria sido obrigado a mandar seus jogos deste ano em Volta Redonda, o que colaborou para a queda da média da competição."
Mauro Holzmann, do Clube dos 13, também defende a tese do enfraquecimento dos times tradicionais para justificar o fiasco de público. "Mas não há vínculo nenhum entre a baixa média de público e o formato do campeonato [pontos corridos]", ressalvou.
Até mesmo na ouvidoria do Brasileiro o torcedor se faz menos presente agora. "No ano passado, quando criaram a ouvidoria, registrei mais de 5.000 contatos de torcedores. Neste ano, esse número chega a, no máximo, 2.000", disse Francisco Horta, ouvidor das Séries A e B do Brasileiro.
Para reverter o quadro, o consolo parece ser a última rodada. Na temporada passada, 239.033 fãs viram as definições dos rebaixados e das vagas para as competições sul-americanas.


Colaborou Fábio Tura, do Datafolha


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