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FUTEBOL
O tempo driblou o craque
PLÍNIO FRAGA
DA SUCURSAL DO RIO
A década de 90 foi de Romário, sem dúvida. Tem a seu
favor que Maradona já vivia o
declínio no início dela; Ronaldo
era jovem demais na metade dos
90 e enfrentou contusões e o trauma da França no final desses
anos. Romário vivia o esplendor
no Barcelona, na seleção e, depois, no Flamengo.
Foi irrepreensível na partida
contra o Uruguai que classificou o
Brasil para a Copa de 1994 -da
qual foi a alegria em meio ao
competente, mas aborrecedor time de Carlos Alberto Parreira.
Poderia ter seguido no time de
1998, que amarelou na final contra a França. Mesmo que só fizesse figuração -papel que Ronaldo
afinal exerceu-, o fantasma de
sua presença levaria a França a
mudar a marcação. Quem sabe
abriria espaços para o então combalido Ronaldo?
Aos 38 anos, Romário anda mal
das pernas. E continua a tropeçar
nas palavras. "Depois de 1970,
posso me considerar o melhor.
Não tenho dúvidas disso", afirmou há três semanas.
O jogador fez da soberba companheira tão vistosa quanto seu
talento. Algo esperado para quem
se acostumou a ouvir no Maracanã: "Deus é dez, Romário é 11".
Na semana passada, ele chutou
a canela do técnico do Fluminense, Alexandre Gama, que opinou
que Ronaldo tem mais condições
de se tornar o maior jogador depois da era Pelé. "Ele entrou no
ônibus agora, não está nem em pé
e já quer sentar na janela", disse
ele sobre o treinador do próprio
time, com o humor malandro que
sempre lhe foi característico.
Listas de craques são como mãe.
Cada um tem a sua, sempre próxima da perfeição. Dizer que Zico
foi o craque dos anos 80, Romário
dos 90 e Ronaldo caminha para
ser o desta década é uma expressão racional de uma delas, mas
contestável. Romário pode ter sua
própria lista e incluir-se nela sem
falsa modéstia, porque toda modéstia é falsa, na frase de Millôr
Fernandes.
O triste é perceber que o jogador
parece perdido no labirinto do
tempo. É um gênio dos campos
perto de tornar-se um homem comum fora deles. Não soube construir além dos gramados -onde
era um dos escolhidos- algo que
lhe mantivesse na categoria dos
especiais. Tostão, aqui neste espaço, é exemplo raro e alentador.
Romário é inteligente, justifica
o chavão esportivo do craque que
pensa segundos antes dos zagueiros. Mas não sabe jogar sem a bola no campeonato da existência,
que, como toda competição por
pontos corridos, premia a regularidade e quem se preparou para
toda a jornada.
Romário já era um jogador genial aos 18 anos. O homem de
quase 40 deve sentir saudades
-nem que seja do fôlego e da velocidade- do rapazola. Algum
"peixe" deveria dar a ele como
presente um texto de F. Scott Fitzgerald, que talvez o ajudasse na
busca da saída do labirinto do
tempo: "Aos 18 anos, nossas certezas são como montanhas para as
quais olhamos. Aos 40, são como
cavernas onde nos escondemos".
Excepcionalmente hoje não é publicada
a coluna de José Geraldo Couto
Guerra nada fria
Stalin queria que o esporte
comprovasse a superioridade
do comunismo. Livros exumaram histórias do período, como
a excursão do Dínamo, cujo goleador era do Exército Vermelho, pela Inglaterra no pós-Segunda Guerra. Stalin, que já revirou tantas vezes no túmulo
desde a queda do Muro, deve
estar de boca aberta por Maria
Sharapova, a russa de 17 anos,
talentosa e bela, com contratos
de US$ 10 milhões. Ela, Svetlana
Kuznetsova e Anastasia Myskina podem bater as irmãs Williams, americanas, na guerra
nada fria do tênis, na qual a
conquista de corações e mentes
não tem precedência sobre os
dólares. Stalin é um tipo de Anna Kournikova da história: já
teve defensores, mas só tem
acumulado derrotas.
E-mail
pfraga@folhasp.com.br
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