DA REPORTAGEM LOCAL

Às vésperas do GP Brasil, Rubens Barrichello resolveu falar. Mais que isso, resolveu peitar seu companheiro de equipe, o heptacampeão Michael Schumacher, e sua equipe, a poderosa Ferrari.
Em entrevista publicada ontem na Alemanha pelo diário sensacionalista "Bild", diz que é melhor que o alemão. "Isso não é uma fantasia, é a mais pura realidade."
Nesta temporada, Schumacher venceu 13 corridas, contra duas de Barrichello. Na Ferrari desde 1996, o alemão conquistou 64 vitórias (no total, são 83), 54 poles (63) e 43 melhores voltas (66).
O brasileiro, que foi para a escuderia italiana em 2000, tem nove triunfos, dez poles (são 12 no total) e 15 voltas mais rápidas.
Além disso, Schumacher conquistou cinco títulos com a equipe italiana -de 2000 a 2004- e acabou com um jejum da Ferrari que já durava 21 anos sem vencer o Mundial de Pilotos. O melhor resultado de Barrichello pela escuderia foram dois vice-campeonatos, em 2002 e neste ano.
Apesar dos números, Barrichel-lo não se abala. "Quero ser campeão do mundo contra ele. Vou atacar o Michael mais uma vez na temporada que vem", afirmou.
"Não vou desistir enquanto não achar que ele é melhor que eu, o que não foi o caso até agora. Sou tão veloz quanto o Michael."
Apesar de a corrida de domingo não valer mais praticamente nada -os Mundiais de Pilotos e de Construtores já foram definidos-, para Barrichello, vencer em Interlagos é quase uma questão de honra. "Quero ganhar pela primeira vez no meu país. Ao lado do título, é o meu maior sonho."
Desde que Schumacher conquistou o heptacampeonato, na Bélgica, no fim de agosto, começaram os rumores de que a Ferrari e o companheiro fariam de tudo para ajudar Barrichello a triunfar em casa pela primeira vez.
Mas após ganhar o GP do Japão, há uma semana, Schumacher fez questão de dizer que quer vencer em São Paulo. "Peço desculpas, mas sinto que quero ganhar mais uma neste ano. Tenho certeza que o Rubens estará forte e sei também que ele ficará mais feliz se vencer competindo, sem nenhuma ajuda", disse o alemão.
Barrichello, que, após duas vitórias seguidas, na Itália e na China, foi mal em Suzuka -não completou após envolver-se em um acidente com David Coulthard-, aproveitou para soltar mais farpas, desta vez contra a Ferrari.
"De repente eu tive mais apoio de parte da escuderia", alfinetou o brasileiro, referindo-se aos dois triunfos, que vieram na seqüência da conquista de Schumacher.
"Estou convencido de que Michael e eu temos o mesmo equipamento. A diferença é que ele está há mais tempo na Ferrari, há mais gente trabalhando com ele, além de ter um apoio psicológico mais intenso de parte da equipe."
Mas, mesmo com todas as críticas, Barrichello disse que aprendeu muito com a convivência. "Era muito emotivo, mas aprendi com meus erros. Hoje, guio como uma geladeira, igual ao Michael."
A Folha tentou entrar em contato com a assessoria da Ferrari, mas não havia ninguém no local.