São Paulo, sábado, 18 de outubro de 2008

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Promotoria apura fraude no Palmeiras

Ministério Público investiga suspeita de esquema de notas frias; testemunhas falam em compra de dólares e de árbitros

Caso se estenderia desde a gestão de Mustafá Contursi e teria beneficiado empresas ligadas a pelo menos 16 cartolas do clube paulista


EDUARDO ARRUDA
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

O Ministério Público paulista investiga suposto esquema de emissão de notas frias no Palmeiras. De acordo com o órgão, o clube teria sido lesado ao menos entre 2001 e 2004.
Três dos depoentes afirmam que a operação envolveria compra de dólares e de juízes.
Foi aberto um procedimento criminal e outro cível para apurar, respectivamente, suposta prática de enriquecimento ilícito e superfaturamento por parte de dirigentes. Todos os citados negam as acusações.
São 16 os suspeitos de enriquecer ilegalmente. Esse é o segundo caso envolvendo notas fiscais num clube paulistano. O primeiro foi no Corinthians, arqui-rival palmeirense.
Nos dois casos, a suspeita principal é a de que o esquema serviria para remunerar dirigentes que, em tese, se dedicam aos clubes voluntariamente.
Por meio de depoimentos de ex-funcionários e de documentos, a Promotoria entende que a emissão de notas frias era prática comum e que há indícios de uso de empresas fantasmas. Agora o órgão quer saber o tamanho do rombo no caixa.
A primeira acusação foi feita por Carlos Kamal, ex-supervisor do vôlei do Palmeiras, que trabalhou no clube entre 1988 e 2004. Outros dois ex-funcionários da agremiação confirmaram o que foi dito por Kamal.
Em depoimento à Promotoria, Kamal afirmou que, entre 2001 e 2004, "foram praticados crimes de estelionato, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, entre outros".
De acordo com a versão dele, o esquema começou em 2001, quando o então jogador de vôlei do Palmeiras Talmo de Oliveira "pediu a emissão de nota fiscal para a empresa FT Esportes Ltda. para acerto de Imposto de Renda de R$ 5.000, sem que existisse contrapartida em serviços prestados ao clube".
O ex-funcionário afirmou ter recorrido a Durval Colossi [tesoureiro do Palmeiras na época], que teria dito que tal operação só poderia ser autorizada pelo então presidente do clube, Mustafá Contursi. Segundo ele, dois ou três dias depois, Colossi autorizou a emissão da nota para a FT Esportes. Cópia da nota, de 6 de junho de 2001, foi entregue à Promotoria.
Dias depois, ainda segundo Kamal, a então diretora do Palmeiras Dirce Pagnotta e Colossi voltaram a procurá-lo pedindo a emissão de outras notas frias por ordem de Mustafá "para a compra de dólares americanos para pagamento a árbitros de futebol profissional".
O Ministério Público também ouviu Luiz Simões de Oliveira, assistente técnico do vôlei entre 1990 e 2001, que afirmou ter visto "três ou quatro vezes o Talmo na sala do Kamal preenchendo notas frias". "A informação que tenho é que era para a compra de árbitros a pedido da diretoria, da Dirce [Pagnotta], do Luiz Carlos [Pagnotta] e do Mustafá", contou em seu depoimento.
Em março deste ano, foi ouvido Paulo César de Aguiar, preparador físico do time de vôlei entre 1995 e 2002.
Em depoimento, Aguiar disse que as declarações de Kamal são verdadeiras e que, por ter dividido a mesma sala de trabalho com o ex-supervisor, presenciou o preenchimento das notas e ouviu que o objetivo era comprar dólares e árbitros.
O ex-supervisor entregou ainda 21 notas à Promotoria, que totalizam R$ 94,78 mil. A suspeita da Promotoria, no entanto, é que o esquema tenha desviado quantia bem maior.
O Ministério Público analisa a situação patrimonial dos 16 membros da diretoria citados e de dez empresas ligadas a cartolas de Mustafá. Na esfera criminal, apura-se se as notas vieram de empresas fantasmas.


Colaborou ADALBERTO LEISTER FILHO, da Reportagem Local


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