São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006

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Lotada e à deriva, Lusa tenta evitar o naufrágio

Após usar cinco técnicos e 73 jogadores, time luta contra queda para a Série C

Maré de azar e falta de planejamento já causaram descenso no Paulista e desgaste de um dos ídolos do clube, o técnico Candinho


Flávio Florido/Folha Imagem
Benazzi, treinador que tenta impedir a queda da Portuguesa à Série C


MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A colônia lusitana de São Paulo, orgulhosa do passado das grandes navegações, assiste hoje à Portuguesa enfrentar o Vila Nova como uma nau à deriva, superlotada, enfrentando o temor de descobrir as terras remotas da terceira divisão.
Num ano em que teve cinco técnicos e o extraordinário número de 73 jogadores no time profissional, a simpática Lusa agonizou em toda a temporada.
"Tinha jogador que eu dava bom dia e não dava boa tarde, porque já tinha ido", afirma um dos atletas do elenco principal, que não quis se identificar.
Tanta mão-de-obra não evitou o inédito rebaixamento para a Série A-2 do Paulista. Agora, o risco é de cair para a Série C do Brasileiro. O que mal se explica é como um time que terminou a Série B em quarto lugar em 2005 conseguiu se reforçar tanto para tão pouco.
"No fim do Paulista, o [técnico] Edinho trouxe um monte de desconhecidos", afirma André Heleno, diretor de futebol da Portuguesa, que assumiu ainda com Edinho. "Veio jogador que era reserva do Atlético Goianiense. Vai jogar aqui?"
Heleno, que é conselheiro eleito pela organizada Leões da Fabulosa, passou a restringir as contratações. Mas quando o técnico foi substituído por Luiz Carlos Barbieri, já no Brasileiro, não pôde mais controlar.
"O presidente [Manuel da Lupa] disse que era para dar carta branca ao treinador, então tive que deixar."
Tão logo Heleno contou o caso à Folha, o conselheiro Luiz "Yaúca" Azevedo, 62, que passou a colaborar com a diretoria de futebol a pedido de Manuel da Lupa a fim de evitar o desastre, perdeu as papas na língua. "Nós contratamos dez centroavantes e não temos meio", dispara o português de Vila Real, irônico. "Você [André Heleno] também é culpado disso."
Crítica e autocrítica também podem ser ouvidas na oposição da Lusa. "Fui vice administrativo na gestão do Joaquim Heleno, que nós consideramos um péssimo presidente, mas o Manuel da Lupa conseguiu ser pior", diz o conselheiro Mário Carvalho, que diz torcer para que o time se mantenha. "Depois volto à oposição ferrenha."
Realista, Yaúca dá apoio à equipe, que recebe rigorosamente em dia, mas também cobra retorno dentro de campo.
"Não há por que aumentar o bicho. No último jogo, contra o Ceará, nós aumentamos de R$ 20 mil para R$ 30 mil e eles perderam de 4 a 2. E os juízes não estão prejudicando a Portuguesa! Isso é choro de mau perdedor", resume o colaborador. Naquele jogo em casa, sábado passado, a Portuguesa dependia só de si para escapar.
Situação e oposição parecem juntas neste momento de desespero, em que o time se despede do Canindé -o jogo começa às 16h. A campanha, porém, manchou a imagem de um dos principais nomes do clube.
Vice-campeão nacional comandando a equipe em 1996, Candinho antecedeu Vágner Benazzi e fracassou.
Três atletas ouvidos pela Folha concordam que Candinho era "técnico para Série A". A expressão parece respeitosa, mas na realidade demonstra que o treinador não conseguiu motivar o grupo e se mantinha numa posição de superioridade.
"Ele ainda estava ligado na Portuguesa de 1996. O problema é que a gente estava vivendo a Série B, o hoje", afirmou um. "Ele não ajudou em nada".
O time entra sem dois titulares: o zagueiro Leonardo Silva, ex-Palmeiras, suspenso, e o meia Cléber, perseguido por contusões. Cleisson e Léo, com lesões no ombro e no joelho respectivamente, não voltam.


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