|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RODRIGO BUENO
Cafu, Cannavaro, Mineiro e Puskas
Morte do lendário húngaro alimenta saudosismo, mas não deveria desvalorizar os craques do físico e da tática
A EDIÇÃO de hoje de Esporte começa com Cafu e acaba com
Puskas, nomes que as Copas
eternizaram. Tive a oportunidade e
a sorte de ver o primeiro iniciar a
carreira, ainda não acabada (apesar
do desejo de alguns após o último
Mundial). E, infelizmente, as poucas
e boas imagens que acompanhei do
craque húngaro foram no museu do
Real Madrid no Santiago Bernabéu.
Imagino que, neste momento em
que o mundo reverencia com toda a
justiça um dos melhores jogadores
de todos os tempos, alguns saudosistas possam olhar para a eleição do
zagueiro italiano Cannavaro como
ganhador da ""Bola de Ouro" (o melhor da Europa) e lamentar o futebol
contemporâneo. Podem até escolher o volante são-paulino Mineiro
como craque do Campeonato Brasileiro, mas usando ""craque" entre aspas. Seria blasfêmia, concordo, comparar a técnica refinada e a incrível
capacidade de fazer gols de Puskas
com a disposição física e tática de
Cafu, Cannavaro e Mineiro. Mas por
que desmerecer esses últimos?
Puskas está na galeria dos gênios,
imortais, um herói dos tempos em
que o futebol era outro, mais ofensivo, mais vulnerável etc. E é aí que está, basicamente, a questão. O futebol
mudou muito, mesmo com as regras
praticamente iguais. As táticas, a
preparação física, a exigência, o profissionalismo, a pressão psicológica,
tudo mudou. O futebol atual não é
pior nem melhor, é sim diferente.
O garoto Cafu era um superatleta
no São Paulo. Fenômeno segundo os
preparadores físicos, ostentava números assombrosos. Sua velocidade
máxima mantida em corridas de
média distância era de 18 km/h (velocidade máxima sem déficit de oxigênio). Tinha o talento de Puskas?
Não. É melhor que o húngaro por ter
ganho duas Copas e ter sido o único
a disputar três finais do Mundial?
Não. Mas correspondeu bem à sua
época, menos artística seguramente, mas não menos valorosa.
Cannavaro, que falhou até de forma tosca no gol sofrido pela Itália no
amistoso com a Turquia, fez uma
Copa sensacional. Se não apareceu
um Puskas ou um Ronaldinho para
encantar na frente, por que o capitão
da Azzurra não pode ser reverenciado? Preconceito por ser zagueiro?
Puskas só não foi campeão mundial em 1954 porque os alemães o
quebraram no jogo da fase de classificação. Por isso, ele não enfrentou o
Brasil e ""apenas" fez número na famosa final (essa é a explicação científica para o ""Milagre de Berna").
Hoje, o ""Major Galopante" poderia ser substituído se tivesse alguma
contusão. Poderia provocar facilmente a expulsão de um ""brucutu"
(já que não havia nem cartão amarelo na Copa da Suíça). Poderia usufruir das vantagens do futebol contemporâneo, inclusive da capacidade atlética e tática de Cafu, Cannavaro e Mineiro. Esses poderiam dar incansável retaguarda e apoio na hora
certa para Puskas triunfar. Se esses
três tivessem jogado na Hungria de
1954... Se Puskas jogasse hoje...
CAFU
O lateral-direito do Milan diz estar disposto a voltar para o Brasil
para ficar perto dos pais, mas também para acompanhar melhor sua
fundação, que está com 340 crianças fixas, mais de 2.600 atendimentos mensais, mais cursos e à espera
de mais empresários parceiros.
CANNAVARO
Nos últimos anos, o nome do
vencedor da ""Bola de Ouro" tem
vazado. E o resultado tem batido
com o divulgado antes. Mas na eleição da Fifa a história é outra. E não
são jornalistas especializados que
votam. São técnicos e jogadores, alguns pouco informados (que votam
nos mais conhecidos, populares...).
MINEIRO
Foi para ele meu voto de melhor
do Brasileiro. Curiosamente, ele é
"trintão" como Cafu e Cannavaro.
rbueno@folhasp.com.br
Texto Anterior: Competição se despede hoje das suas rodadas sabáticas Próximo Texto: Morre Puskas, o "Major Galopante" Índice
|