São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006

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RODRIGO BUENO

Cafu, Cannavaro, Mineiro e Puskas

Morte do lendário húngaro alimenta saudosismo, mas não deveria desvalorizar os craques do físico e da tática

A EDIÇÃO de hoje de Esporte começa com Cafu e acaba com Puskas, nomes que as Copas eternizaram. Tive a oportunidade e a sorte de ver o primeiro iniciar a carreira, ainda não acabada (apesar do desejo de alguns após o último Mundial). E, infelizmente, as poucas e boas imagens que acompanhei do craque húngaro foram no museu do Real Madrid no Santiago Bernabéu.
Imagino que, neste momento em que o mundo reverencia com toda a justiça um dos melhores jogadores de todos os tempos, alguns saudosistas possam olhar para a eleição do zagueiro italiano Cannavaro como ganhador da ""Bola de Ouro" (o melhor da Europa) e lamentar o futebol contemporâneo. Podem até escolher o volante são-paulino Mineiro como craque do Campeonato Brasileiro, mas usando ""craque" entre aspas. Seria blasfêmia, concordo, comparar a técnica refinada e a incrível capacidade de fazer gols de Puskas com a disposição física e tática de Cafu, Cannavaro e Mineiro. Mas por que desmerecer esses últimos?
Puskas está na galeria dos gênios, imortais, um herói dos tempos em que o futebol era outro, mais ofensivo, mais vulnerável etc. E é aí que está, basicamente, a questão. O futebol mudou muito, mesmo com as regras praticamente iguais. As táticas, a preparação física, a exigência, o profissionalismo, a pressão psicológica, tudo mudou. O futebol atual não é pior nem melhor, é sim diferente.
O garoto Cafu era um superatleta no São Paulo. Fenômeno segundo os preparadores físicos, ostentava números assombrosos. Sua velocidade máxima mantida em corridas de média distância era de 18 km/h (velocidade máxima sem déficit de oxigênio). Tinha o talento de Puskas? Não. É melhor que o húngaro por ter ganho duas Copas e ter sido o único a disputar três finais do Mundial?
Não. Mas correspondeu bem à sua época, menos artística seguramente, mas não menos valorosa. Cannavaro, que falhou até de forma tosca no gol sofrido pela Itália no amistoso com a Turquia, fez uma Copa sensacional. Se não apareceu um Puskas ou um Ronaldinho para encantar na frente, por que o capitão da Azzurra não pode ser reverenciado? Preconceito por ser zagueiro?
Puskas só não foi campeão mundial em 1954 porque os alemães o quebraram no jogo da fase de classificação. Por isso, ele não enfrentou o Brasil e ""apenas" fez número na famosa final (essa é a explicação científica para o ""Milagre de Berna").
Hoje, o ""Major Galopante" poderia ser substituído se tivesse alguma contusão. Poderia provocar facilmente a expulsão de um ""brucutu" (já que não havia nem cartão amarelo na Copa da Suíça). Poderia usufruir das vantagens do futebol contemporâneo, inclusive da capacidade atlética e tática de Cafu, Cannavaro e Mineiro. Esses poderiam dar incansável retaguarda e apoio na hora certa para Puskas triunfar. Se esses três tivessem jogado na Hungria de 1954... Se Puskas jogasse hoje...

CAFU
O lateral-direito do Milan diz estar disposto a voltar para o Brasil para ficar perto dos pais, mas também para acompanhar melhor sua fundação, que está com 340 crianças fixas, mais de 2.600 atendimentos mensais, mais cursos e à espera de mais empresários parceiros.

CANNAVARO
Nos últimos anos, o nome do vencedor da ""Bola de Ouro" tem vazado. E o resultado tem batido com o divulgado antes. Mas na eleição da Fifa a história é outra. E não são jornalistas especializados que votam. São técnicos e jogadores, alguns pouco informados (que votam nos mais conhecidos, populares...).

MINEIRO
Foi para ele meu voto de melhor do Brasileiro. Curiosamente, ele é "trintão" como Cafu e Cannavaro.


rbueno@folhasp.com.br

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