TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Quando ler esta coluna, São Paulo e Liverpool já devem ter decidido o título mundial. Se o São Paulo jogar como nos seus melhores momentos da Libertadores, a partida deverá ser equilibrada.
A qualidade e a maneira de atuar dos jogadores das duas equipes podem ser hoje totalmente atípicas e/ou diferentes das que foram apresentadas durante este ano. Por isso, uma análise correta deveria ser feita pelo que jogaram durante a temporada, e não somente por uma ou poucas partidas.
O futebol não é só momento. Mas são esses momentos que ficam na história.
O técnico espanhol Rafael Benítez, do Liverpool, assistiu à partida do São Paulo contra o Al Ittihad e deve ter observado que é difícil conter as descidas de Cicinho -apesar de ele não ter brilhado-, que os alas e os volantes vão para o ataque quando a equipe brasileira está com a bola e que deixam os três zagueiros isolados e em linha.
Nas equipes que jogam com três zagueiros e dois alas, um dos zagueiros sai com freqüência na lateral e deixa um vazio no meio da área. Ou os três se juntam pelo meio e sobram amplos espaços nas laterais. A distância de uma linha lateral à outra é muito grande para três defensores.
Não dá tempo também para os alas recuarem e realizarem a cobertura dos zagueiros.
Se isso acontecesse, eles deixariam de ser alas, e o time ficaria com cinco defensores, além de dois volantes.
Como na maior parte de um jogo os três zagueiros marcam próximos da área, eles têm de atuar em linha. Se um jogasse mais atrás, trombaria com o goleiro.
Para haver um zagueiro livre na cobertura, os outros dois precisam marcar mais na frente. Nem isso aconteceu no jogo com o Al Ittihad, que explorou bastante os lançamentos longos nas costas dos defensores.
Depois da partida, o treinador Paulo Autuori afirmou que Mineiro avançou demais por causa de sua orientação.
Mas Mineiro sempre ataca. Se ele tivesse talento ofensivo, valeria a pena. Porém ele é confuso e raramente acerta um passe decisivo ou faz um gol.
O São Paulo não tem um meia de ligação. Danilo é mais um atacante pela esquerda. Por outro lado, os seus cruzamentos e finalizações são decisivos.
Paulo Autuori pode trocar hoje um dos zagueiros por um volante ou por um meia (Souza). Isso tem vantagens e desvantagens. Preferiria dessa forma, se Cicinho se posicionasse como lateral e avançasse no momento certo.
O treinador do São Paulo deve ter observado na partida contra o Deportivo Saprissa e, principalmente, durante o Campeonato Inglês que o Liverpool joga no tradicional 4-4-2, com dois volantes e um meia de cada lado, que prioriza as jogadas pelas laterais e que Gerrard é um armador pela direita que avança pelo lado e em diagonal para o meio.
Gerrard não tem a fantasia nem a habilidade em pequenos espaços dos grandes meias brasileiros, mas possui uma excepcional técnica. Capitão da equipe, ele marca, ataca, tem muita velocidade, faz cruzamentos, passa e finaliza com grande eficiência. Gerrard tem a disciplina de um jogador mediano e o brilho de um craque.
O Liverpool utiliza bastante os lançamentos longos diretos da defesa para o grandalhão centroavante Crouch, que ajeita a bola de cabeça para os companheiros. Em alguns jogos, o técnico troca Crouch por um atacante mais rápido.
Os laterais do Liverpool atuam a maior parte do jogo ao lado dos zagueiros formando uma linha de quatro defensores. No São Paulo, a linha é de três.
Por isso, o esquema com dois zagueiros pelo meio do time inglês é mais eficiente na defesa do que o com três zagueiros do São Paulo.
Às vezes, os dois zagueiros do Liverpool se adiantam, ficam em linha e deixam espaços para os lançamentos longos nas suas costas. Seria ótimo para o atacante Grafite.
Sei que muitos leitores, principalmente os jornalistas esportivos, detestam esquemas táticos.
Alguns acham que é um tema chato e menos inteligente. Outros não gostam porque não entendem. Nem querem entender.
Porém há os que apreciam e/ou dão importância.
Por isso e porque gosto e sou metido a entender, escrevo também sobre esse assunto.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


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