São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

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CIDA SANTOS

Grandes histórias

Bernardinho conta em livro choque de vaidades da geração de prata e da seleção feminina que comandou

PARA QUEM quem gosta de vôlei, vale ler "Transformando Suor em Ouro", do técnico Bernardinho. Alguns trechos e o formato lembram livros de auto-ajuda, mas isso acaba não sendo um problema já que as histórias e as reflexões do técnico tornam a obra essencial para se entender melhor o vôlei brasileiro.
O livro tem boas revelações. Não lembro de nenhum outro integrante da geração, vice-campeã olímpica em 84, que descrevesse com tanta clareza os conflitos que essa seleção passou nos Jogos de Los Angeles.
Bernardinho conta que na véspera da partida contra a Coréia do Sul o time perdeu mais de seis horas com discussões. Um das questões era que alguns jogadores, atraídos por uma oferta de US$ 500, queriam usar um tênis concorrente ao da marca com a qual a Confederação Brasileira de Vôlei tinha contrato exclusivo.
No dia seguinte, o time perdeu o jogo, mas mesmo assim chegou à final. Como o Brasil tinha arrasado os EUA por 3 sets a 0 na fase de classificação, a seleção achou que a vitória na decisão estava garantida.
"Estávamos tão convencidos de que venceríamos os EUA outra vez, que nos desconcentramos. Horas antes da decisão, enquanto víamos a fita da semifinal deles com os canadenses, lembro-me que um cochilava e outro rabiscava nas costas da cadeira à sua frente", diz Bernardinho.
As vaidades, a desunião e a falta de preparo para lidar com as pressões acabaram sendo fatais na derrota para os EUA na final olímpica. São essas lições que Bernardinho foi colecionando ao longo da carreira e depois passou a por em prática na sua trajetória vitoriosa como técnico.
Tanto que uma das palavras mais usadas por ele é armadilha. Todo seu trabalho é voltado para que a seleção, campeã olímpica e bicampeã mundial, não caia nas armadilhas do sucesso. Uma de suas preocupações é criar as zonas de desconforto para o time não se acomodar. No livro são saborosas algumas dessas situações.
Em 2002, o Brasil foi campeão mundial na Argentina. No dia seguinte, no aeroporto, Bernardinho deu parabéns a todos, mas logo tratou de manter a linha dura: anunciou que em 2003 os treinos iriam começar uma hora mais cedo, às 8h.
Os atletas protestaram. Mas foi só o começo. No fim de 2003, logo depois da conquista da Copa do Mundo, nova mudança: o treino passaria a ser às 7h. A idéia é a de um combate permanente contra a acomodação.
Bernardinho revela que percebeu logo no início de 2002 que treinava uma equipe campeã quando propôs que metade do valor dos prêmios individuais fosse dividida por todos. Eles aceitaram. No último Mundial, Giba dividiu metade do prêmio de US$ 100 mil com a equipe.
Em 94, quando era técnico da seleção feminina, Bernardinho fez a mesma proposta para as meninas. Elas recusaram. Daria para escrever dezenas de colunas com as histórias e as reflexões desse livro.

MAIS UM LIVRO
O levantador Ricardinho vai seguir o caminho de Bernardinho e anunciou que também vai escrever um livro, contando a história da sua carreira e, lógico, de todo período vitorioso com a seleção. Oba!

ITÁLIA 1
O presidente da federação italiana, Carlo Magri, disse que o técnico Gian Paolo Montali continuará na seleção masculina, apesar da má campanha na Liga e do quinto lugar no Mundial. O contrato é até 2009.

ITÁLIA 2
Havia muitas pressões, principalmente dos dirigentes de clube, para a substituição de Montali. O site italiano www.volleyball.it já até divulgou que Magri teria conversado com Renan, técnico do Florianópolis. Mas pelo que tudo indica, por enquanto não há mudanças.


cidasan@uol.com.br

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