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FUTEBOL
Com gosto e com vontade
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Para um placar de antigamente, uma palavra que a
minha avó usava: o Santos se esbaldou na Vila, diante do União
São João. (o Aurélio traz "esbaldar-se", mas o Michaelis registra
um sentido bem diferente do que
eu conheço; porém vi, na internet,
que muita gente ainda usa o termo como minha avó e eu.)
A goleada melhorou muito meu
fim de semana futebolístico -no
sábado, vi o sofrível Portuguesa x
Ponte Preta no Canindé. Os jogos
de futebol internacional no domingo de manhã não melhoraram muito a minha disposição.
Adorei o comentário de um
amigo meu sobre o Santos: "É legal ver esse time porque eles gostam de jogar". Bingo! Depois das
palavras "atitude", "garra", "pegada", "união", que tal incorporar mais uma à lista do que um time precisa ter? "Gosto".
Já se fala muito em "prazer de
jogar bola", mas "gosto" me parece um pouco diferente. Prazer é o
resultado, gosto é a causa. O prazer pode aparecer fortuitamente,
dependendo da sua disposição no
dia. O gosto é cultivado, renovado. Tem a ver com lembrar por
que você faz o que faz. Por que
quis ser jogador de futebol -para
jogar, oras. Driblar, fintar, matar
uma bola difícil, desarmar, salvar
em cima da linha, fazer o gol.
Brincar com a bola, mandar nela.
Sábado, parecia que os jogadores da Ponte não faziam mais
questão de jogar futebol. Poderiam ser quaisquer outros, de
qualquer time -aconteceu de ser
o jogo que vi. Time recuado, com
o atacante isolado esperando um
chutão, visivelmente interessado
em um "empate-fora-de-casa".
Muito providencial, mas... E o futebol? Os jogadores não têm vontade de jogar para valer? Não para marcar um ponto, mas para
marcar meia dúzia de gols? O técnico não tem vontade de ver e comandar um jogo bonito?
O empate entre Vasco e Americano ganhou muito destaque por
força das circunstâncias, mas como tem jogo feio por aí. E feio por
opção, por decisão estratégica -e
é com isso que eu não me conformo. O time pode ser "pequeno",
chato, marcador, sem grandes talentos, mas jogar bola para valer!
Já pensou se os jogadores de um
time se "amotinassem" e jogassem com gosto, com loucura pelo
jogo, como se estivessem em uma
festa com os amigos ou em um comercial da Nike? Ainda que faltasse talento, alguma afinidade
com a bola apareceria, por mais
que um padrinho tenha forçado a
contratação de alguém meio sem
jeito. Não é possível que um jogo
profissional tenha mais lances
feios que uma pelada na praia.
Escrevo antes de ver o jogo da
noite, mas uma partida não vai
mudar minha impressão: o time
do Santos gosta de futebol; os jogadores gostam de jogar juntos.
Isso vale mais do que qualquer
outra idéia de "grupo unido".
Com que alegria eles comemoravam os gols uns dos outros!
Felipe, do Flamengo, está gostando de jogar. Alex, do Cruzeiro,
também, e como dá gosto ver o
que ele faz. Jogadores de futebol
do Brasil, longe que estejam do
talento desses dois, rebelai-vos!
Exijam futebol em campo.
Concentração de renda
O país numa draga e o pay-per-view batendo recordes, segundo os responsáveis pelas vendas. Não acredito que melhorar
só na parte de cima seja a saída
para o futebol ou para qualquer
outra coisa.
Idem
Os times mais ricos, que vendem mais ingressos, pagam
mais barato por unidade (R$
0,25, contra os R$ 0,60 pagos
pelos menores).
Deprimente
Bandos de fanáticos criaram
cenas de guerra no metrô e na
marginal Tietê. Fica difícil acreditar em torcedores menos imbecis quando estudantes universitários também protagonizam barbaridades a título de
"recepção aos calouros".
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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