São Paulo, quinta-feira, 19 de março de 2009

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Gasto com futebol faz as contas do Flamengo ruírem

Receitas saltam de R$ 53 milhões para R$ 117 milhões em 5 anos, mas despesas com a equipe crescem no mesmo ritmo

Conselho Fiscal aponta que a diretoria contrata sem ter dinheiro, enquanto vice de futebol diz que evita queda à Série B e cria patrimônio

Guilherme Gonçalves/CPDoc JB
Léo Moura, um dos atletas caros do Fla, no empate com o Tigres

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Início de 2008. Com a vaga na Libertadores, o Flamengo faz contratações caras. Intensifica o investimento para ganhar o Brasileiro. Sem sucesso.
Início de 2009. Asfixiado pela falta de dinheiro, o clube carioca tem poucas novidades no elenco e quase não tem renda. Acumula dois meses de salários atrasados no futebol -parte será paga com empréstimo.
Fato é que o Flamengo tem só R$ 20 milhões livres no ano -parte dos direitos de TV e rendas sociais- para despesas previstas de R$ 115 milhões. Resultado de gasto mensal com o futebol de R$ 4,7 milhões.
Em cinco anos de gestão Márcio Braga, afastado por problemas de saúde, o Flamengo mais do que duplicou suas receitas: chegou a R$ 117 milhões em 2008. No mesmo período, as despesas cresceram em ritmo igual, atingindo R$ 115 milhões. Com o excesso de dívidas (o total beira R$ 300 milhões), a conta não fecha.
Resultado: o clube antecipou receitas de material esportivo, bilheteria e direitos de TV de 2009. Seu patrocínio está travado por não pagar impostos.
Enquanto isso, o Flamengo torrava dinheiro comprando direitos sobre Bruno, Juan e Léo Moura, entre outros. E ainda fez aquisições caras, como as do atacante Josiel e dos meias Fierro e Sambueza.
Estudos do Conselho Fiscal e da comissão de dirigentes externa do clube estimam que o gasto com futebol tem que ser cortado em pouco mais da metade, chegando a R$ 3 milhões.
"Foi o futebol [que gerou o rombo]. Foram feitas contratações sem que houvesse receita", afirmou o presidente do Conselho Fiscal do clube, Leonardo Ribeiro, que é oposição.
O vice de futebol Kléber Leite julga as críticas políticas. Admitiu que investiu, mas defendeu que gerou patrimônio. O Flamengo deixou de lutar contra o descenso no Nacional e disputou o título em 2008.
"Nossa folha é igual à do Cruzeiro e menor do que a do São Paulo e a do Fluminense", afirma Leite. A ideia de cortar metade do orçamento do futebol é rechaçada por ele, que admite não renovar alguns contratos. "Mas, sem time, cai para a segunda divisão e perde receita."
No curto prazo, a solução é o empréstimo antecipado de receitas. Foram R$ 10 milhões, dos quais só R$ 6,9 milhões vão ao clube, após descontos. O valor deve cobrir salários atrasados do futebol até janeiro.
O time de basquete custa R$ 200 mil e amarga três meses sem pagamento. Fora isso, só o remo, que é obrigatório pelo estatuto, é mantido pelo clube.
No longo prazo, uma proposta de comissão do Conselho Deliberativo tenta regular as contas futuras. No grupo, o ex-presidente Hélio Ferraz fez documento obtido pela Folha em que propõe suspender por um ano contratos de funcionários, reduzir a jornada de trabalho e congelar o gasto total do clube em R$ 3,5 milhões mensais.
Quer ainda uma norma que limite a despesa com pessoal a 40% da receita, similar à lei de responsabilidade fiscal. O presidente que descumprir seria suspenso por 60 dias.
Questionado, Ferraz confirmou a proposta. "Ele [Delair Dumbrosck, presidente em exercício] quer fazer. Está demorando um pouco."
É certo que a diretoria, pressionada, aceita a redução de gastos neste ano. Mas resiste a novas normas de controle.
A fórmula escolhida traçará o início do Flamengo em 2010.


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