São Paulo, quinta-feira, 19 de março de 2009

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FUTEBOL

A crise do calcio em debate


A Copa dos Campeões só escancarou a decadência do futebol na Itália, que já se mexe para tirar a diferença

RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

ANTES DE VIAJAR a Brasília para acompanhar a Soccerex, feira e fórum de futebol internacional, tinha na cabeça escrever a coluna sobre a crise do futebol italiano. Bom, mas que crise? Gattuso, minutos após a final da Copa, foi indagado sobre como era voltar à realidade do futebol italiano, na época ainda abalado com escândalo de manipulação de resultados. ""A realidade do futebol italiano é ser campeão do mundo", respondeu ele (muito bem, aliás).
Bom, os clubes italianos naufragaram na Europa nesta temporada. Não há calcio nas quartas da Copa dos Campeões, cuja decisão será em Roma, e nasce uma torcida coletiva na Itália agora a favor da Udinese na Copa da Uefa, pois é possível que a Alemanha tome o lugar da Itália no ranking da Uefa que rende vagas nas copas europeias.
""Os estádios na Itália estão velhos, o público não está indo a campo, há falta de estrutura", disse Jeff Slack, ex-executivo da Inter, ontem, em sua bacana explanação na Soccerex.
Bingo! Juntei a coluna que estava na cabeça com a viagem a Brasília. A Alemanha pós-Copa põe 40 mil pessoas em cada jogo de primeira divisão. A Inglaterra quase tem esse número, mas sua liga hoje dispensa comentários. Já o Italiano, eldorado da bola nos anos 80, sofre para levar 20 mil pessoas, em média, aos jogos.
""O Tottenham, que não é dos principais times da Inglaterra, fatura praticamente o dobro que a Inter em cada jogo", disse Slack, cuja formação americana de administração não o impediu de invejar a paixão pelo futebol - ele esteve no Brasil com o fundo HMTF nas parcerias com Corinthians e Cruzeiro e criticou erros dos americanos que assumiram o Liverpool. ""Eles [donos] não sabiam o que era o Liverpool."
Bom, Slack falou que o Italiano em 2010 seguirá modelo de sucesso do Inglês. Os direitos de TV serão negociados coletivamente. Há percepção geral de que a Premier League engoliu o Italiano em inúmeros aspectos.
Infelizmente, poucos dirigentes de clubes grandes do país (que estavam em Brasília para reunião do Clubes dos 13 anteontem) acompanharam a conferência ""Aprendendo Lições do Mercado Internacional do Futebol". Esteve Calzada, ex-diretor comercial e de marketing do Barcelona, falou da revolução no clube no período 2003-2007. Sem títulos e ofuscado pelo galáctico Real Madrid, o time apostou na internacionalização, na busca de torcedores, de fortalecer a marca. ""Mais que um clube", o time investiu em patrocínio social (Unicef), jogo atraente, "fair play", estrelas no time etc.
Além do sucesso em campo, saiu do vermelho e deu lucro em todos os anos desse período. Nos gráficos exibidos, percebia-se o avanço de Barça, Real e ingleses, claro. A Itália, hoje, não é exemplo. Ou melhor: é sim, ao contrário.

rodrigo.bueno@grupofolha.com.br


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