São Paulo, sexta-feira, 19 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

XICO SÁ

Que lástima!


A desolação do narrador fanático pelo Cerro na derrota para o Corinthians foi a mais genial que ouvi na vida


AMIGO TORCEDOR , amigo secador, Ronaldo, cada vez mais fenomenal e milagroso no Corinthians, faz o gol do triunfo no Defensores del Chaco, e o narrador da rádio Cardinal, de Assunção, não aguenta, olhos marejados, repete, incrédulo: "Que pena, que lástima!".
Parecia que estava dormindo, diz o locutor paraguaio, quase não tocou na pelota, e de repente... "Que pena, que lástima!", manda outra vez, diante do silêncio do estádio.
Depois do "puta que pariu, pra fora" daquele radialista de Pato Branco (PR), em 2007, quando o time local perdeu um pênalti e a chance de subir para a primeira divisão do Estadual, a desolação do "speaker" fanático pelo Cerro foi a mais genial que ouvi na vida. O áudio está na internet, e o caro leitor pode conferir a angústia do irradiador da peleja.
Nem os torcedores do Santa Cruz, que dominou o Botafogo e parecia renascer do inferno da quarta divisão para a elite, demonstraram tanta tristeza como a do nosso hermano paraguasito. É que Brasão, o novo gênio, o Eto'o do Arruda, não estava em uma noite de sorte. Que lástima!
O mesmo pode dizer a fiel torcida alvinegra do ASA de Arapiraca, obrigado injustamente a atuar em Maceió, e não na sua cidade, a terra do fumo. Pôs o todo-poderoso Vasco na roda e amargou um empate. Que lástima, repete no meu ombro o urubu Augusto, que substitui o corvo Edgar -secador exclusivo neste ano da Libertadores- na Copa do Brasil.
Augusto, homenagem ao poeta dos Anjos, se deu bem com o Chapecoense e bateu o Atlético-MG de Luxemburgo pelo mesmo torneio -o mais democrático e importante do país, a Coluna Prestes ludopédica, pois corta do litoral aos sertões.
Que lástima também a derrota do Bahia, 2 a 0 contra o Atlético-GO.
Que todos os santos e orixás se vinguem no jogo da volta. Nada como a Copa do Brasil para reerguer gigantes, como os tricolores recifense e soteropolitano, dois dos maiores times brasileiros de todas as décadas.
Pênalti para o Sport contra o Paraná. O empate em 1 a 1 já estava ótimo, mas, imagina: com um a menos, o rubro-negro pernambuco levaria para a Ilha do Retiro, que tenta retomar a mística da vitoriosa Lost do ano da graça de 2008, uma vantagem hiperbólica. O menino Eduardo Ramos chuta e a nuvem de cal encobre toda a área. A poeira branca dissipa, e vemos que o goleiro defendeu a cobrança. Que lástima!
Que lástima, agora com uma entonação para lá de irônica, o frango do Bruno, na derrota do Flamengo no Chile, embate da Libertadores da América. Aqui grasna Edgar, óbvio, feliz da vida com o seu primeiro triunfo no seca-seca da continental peleja. "Depois de pegar dois pênaltis em um jogo, todo goleiro está condenado a levar peru nos jogos que seguem", vaticina o agourento.

Craques x brucutus
Para que haja o craque, o brucutu deve e tem que existir. É preciso exaltar o futebol moleque, mas nem por isso vamos pregar a extinção de grossos e beques de fazenda. Os grossos são necessários, inclusive para o brilho dos que dominam os segredos da bola. Sem o tosco, não saberíamos o que seria a arte. Um carece do outro. Viva Messi, viva Obina e Brasão. Salve Neymar e Robinho, salve Domingos!

xico.folha@uol.com.br


Texto Anterior: Carlos Sarli
Próximo Texto: Nova liga, pró-Cuba, convoca 3 brasileiros
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.