São Paulo, sábado, 19 de abril de 1997.

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P. Renato, Kandir, Franco, Serra, Suplicy e Pelé

MATINAS SUZUKI JR.
do Conselho Editorial

Meus amigos, meus inimigos, o ministro Pelé enviará ao Congresso, em hora oportuna, a proposta de transformação dos clubes em empresas.
Cada país onde o futebol é altamente profissionalizado adotou um modelo para esse processo, e ainda não tenho detalhes sobre a proposta do ministro Pelé.
Mas a hora é bastante oportuna para o projeto: cresce, na opinião pública, como já demonstrou pesquisa do Datafolha, a convicção de que o futebol brasileiro não pode continuar eternamente sendo gerido tão ineficientemente.
Além disso, a chegada de patrocinadores de peso e o processo de internacionalização do esporte fazem com que o ``custo Brasil'' do futebol seja um entulho que precisa ser removido no processo de modernização geral do país.
O projeto de Pelé chega no momento em que o governo faz mudanças da mesma natureza em outros setores.
As medidas que o governo acaba de anunciar para o caso das faculdades privadas, transformando-as em empresas que podem gerar lucros, são igualmente válidas para os clubes de futebol.
``Até agora, as instituições privadas de ensino superior não podiam ter fins lucrativos -era essa a condição. Mas sabemos que isso é uma farsa, pois essas entidades usaram de todos os subterfúgios para burlar a lei'', disse o ministro da Educação, Paulo Renato.
Se você trocar as faculdades privadas pelos clubes de futebol, a realidade é exatamente a mesma. E se o projeto vale para um setor, por que não valerá também para outro?
Por que a evasão fiscal do futebol vai continuar sendo prestigiada pelo Estado, sendo que esse é um setor que movimenta recursos iguais ou talvez ainda maiores do que os das faculdades privadas?
Vejo que Pelé corre dois riscos. O primeiro, de misturar as coisas (a lei do passe com lei da modificação dos clubes), dificultando a obtenção de bons resultados em ambas.
A segunda, de não articular suficientemente um apoio político à sua proposta.
Nunca o ambiente brasileiro apresentou tantas condições de suporte a uma proposta como essa. Opinião pública, imprensa, patrocinadores, jogadores e até mesmo dirigentes de clubes mais esclarecidos são favoráveis à mudança.
No governo, o ministro Paulo Renato, um amante do futebol, é também ministro do Desporto. Pode agregar à sua pasta não só as mudanças na Educação, como também a salvação do futebol brasileiro.
No mistério ainda, Pelé deve procurar o Planejamento, onde encontrará Antônio Kandir, que segue o futebol de perto. No Banco Central, está o Gustavo Franco, filho de alto dirigente que tentou modernizar o Botafogo. No Senado, encontrará José Serra, outro apaixonado pelo futebol.
O ministro Pelé deve trazer esse debate para a cena aberta. Cobrar, por exemplo, do senador Eduardo Suplicy, outro que está sempre nos estádios, o posicionamento do PT.
O tema vai além das editorias de esportes. É, hoje, de interesse de todo cidadão. Não há mais dúvida que a sociedade brasileira quer o fim dos privilégios de uns poucos espertalhões no futebol.


Matinas Suzuki Jr. escreve às terças, quintas e sábados

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