São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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FUTEBOL

Má atuação da seleção

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Foi uma vitória enganosa. A equipe jogou muito pior do que contra Portugal e Iugoslávia. De bom, somente um drible aqui, outro ali do Denilson, dois lances de habilidade do Ronaldinho Gaúcho em dois gols, e, em alguns poucos momentos, uma boa marcação por pressão.
Foi numa tomada de bola no campo do adversário, que saiu o segundo gol do Brasil.
Continuam os mesmos problemas. O principal é que há somente dois jogadores no meio campo. Emerson e Kleberson estão sobrecarregados e limitam-se a marcar. Não há troca de passes entre o meio campo e o ataque. Além disso, sempre que a fraquíssima seleção da Catalunha marcava por pressão, tomava a bola com facilidade.
Com Denilson atuando somente pela ponta esquerda, Ronaldo ficou isolado na frente, pelo meio, lento e sem inspiração. Não houve também jogadas ofensivas pela direita. No segundo tempo, com a saída dos dois Ronaldos e Denilson, o time ficou também sem qualquer brilho individual.
Após o jogo, fiquei mais preocupado. O consolo foram as derrotas da França e da Itália, duas candidatas ao título, para a Bélgica e a República Tcheca.

Capitão e líder
Emerson será o capitão da seleção na Copa. O capitão é o representante dos jogadores. Geralmente é o mais sociável dos atletas. Quando encerra sua carreira, tem emprego garantido como relações-públicas, gerente do clube ou ainda de marqueteiro, no bom sentido.
São funções do capitão: trocar flâmulas e figurinhas com o capitão adversário, reivindicar melhores prêmios para os jogadores, fazer discursos, saudações, escolher o lado do campo no início do jogo e levantar a taça na final da Copa. Para isso precisa ter estilo, porte físico e posar bem para os fotógrafos e câmeras de televisão. Já imaginou o Dida e o Rivaldo com as caras fechadas levantando a taça de campeão?
Algumas vezes o capitão é também o líder. Capitão é um só. Líder podem ser vários. Quanto mais líderes, melhor. O líder é o técnico em campo. Enxerga mais do que os outros, orienta e dá broncas. É respeitado e admirado pelos companheiros. Quando a bola pára, ele vai à lateral para conversar com o técnico.
Nos últimos tempos, o líder foi substituído pelo técnico. Esse, no lugar de observar o jogo, calado -como faz o Parreira-, fica gritando na lateral do campo, perturbando times, juízes e auxiliares. Os atletas não escutam nada.
Na Copa de 70, Carlos Alberto Torres era o capitão e um dos líderes. Gerson era o principal líder. Ele discutia bastante os problemas do time, antes, durante e após o jogo. Certo! Sempre depois de uma frase, Gerson dizia: Certo!
Dunga era o capitão e líder nas Copas de 90, 94 e 98. Ele não tinha o talento dos grandes armadores, mas era um bom volante, observador, um técnico em campo, admirado e respeitado pelos companheiros. Piazza também foi o capitão e líder do Cruzeiro nos anos 60. Difícil era convencê-lo a encerrar o discurso.
Emerson será bom líder e/ou capitão em 2002? Parece que sim. E, se os atletas estiverem inspirados, isso terá pouca importância.

Prêmio pelo título
Emerson, capitão da seleção, conversou com o presidente da CBF sobre os prêmios que os jogadores vão receber pelas vitórias e pelo título. Nada mais corriqueiro. Isso não significa que os jogadores só pensam em dinheiro, como alguns disseram.
Quando a bola rola numa Copa, muito mais importante que o prêmio é o orgulho, a vaidade, a ambição, a alegria de jogar bem, ser campeão e de corresponder à expectativa de um país. Quem nunca colocou a emoção na frente da razão e dos bens materiais passou pela vida e não viveu, como diz o poeta.
É preciso também desmitificar a idéia de que no passado os jogadores não pensavam nem falavam em prêmios. A única diferença é que os valores de hoje são muito superiores.
Em 70, o capitão Carlos Alberto Torres, em nome de todos os jogadores, discutiu com a CBD, antes do Mundial, os prêmios pelas vitórias e pelo título. O mesmo aconteceu em todas as Copas e com todas seleções do mundo.
Reivindicar prêmios não é crime nem pecado.
Além do mais, a CBF vai arrecadar um bom dinheiro, e os atletas, estrelas do espetáculo, merecem ser bem remunerados. A confederação não pode é gastar mal e mais do que arrecada.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br



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