São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2004

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FUTEBOL

Lavando a alma

JORGE KAJURU
ESPECIAL PARA A FOLHA

Andava tão cansado. Não fosse o compromisso assumido com a Folha (e a honra em ocupar espaço tão nobre durante as férias do Tostão), acho que não teria forças nem mesmo para teclar estas maltraçadas.
Por uma semaninha fiquei fora de tudo. De repente, estressaram-me. O ouvido entupiu (nunca tinha ouvido falar em ouvido entupido, talvez porque sempre tenha tido os ouvidos entupidos...), a garganta falseou e, por São Caetano!, meu santo protetor, peguei uma gripe daquelas. Coisa brava!
Mas tudo bem. Fui para o Nordeste. Pena que não peguei a lavagem das escadarias do Senhor do Bonfim... Dizem que é uma beleza.
Conversei também com o Leão (calma, com o Leão técnico de futebol, não o da Receita Federal), e ele aumentou meu desânimo. Ficou uma fera com o Luxemburgo. Fiquei surpreso, porque eles pareciam tão amigos.
Leão mostrou sua diferença ética a semana passada, quando o Corinthians lhe fez uma proposta. Ele nem quis ouvir e tratou de avisar Oswaldo de Oliveira no mesmo dia.
Amigo é assim. Oswaldo me confirmou tudo, ficou magoado e preferiu entender como um fato normal no meio do futebol.
Enfim, entristeci. Sou assim, fazer o quê? Sou muito sensível (sei que não pareço, mas sou) e fico aborrecido quando vejo dois amigos brigarem.
Entristece-me até quando os inimigos de agora reagem achando que não fui eu quem escreveu sobre a "mídia de porre" aqui nesta Folha, há duas semanas.
Porque, como Narciso acha feio o que não é espelho, há quem julgue os outros por si e, como não são capazes de escrever, pensam que ninguém é.
Calejado após tantas tentativas de pauladas por falar o que penso, confesso que peço que alguém de minha confiança revise a coluna, para evitar gafes. E processos, porque está na moda processar jornalistas (atitude de pessoas incapazes de conviver com as críticas, que se julgam acima do bem e do mal e se fazem de santos, de perseguidos -santa hipocrisia!). Mas sei lá.
Quem sabe eu mereça mesmo ser preso. Pensando bem, seria um baita exemplo para o país, embora tenha gente muito melhor. Já pensou? Eu em cana e tanta gente boa solta por aí.
O filho da dona Maria José (que Deus a tenha) viraria mártir da liberdade de imprensa neste Brasil mais chegado à liberdade de empresa.
Quem sabe um período atrás das grades refrescaria meus pensamentos, não é mesmo?
Um brinde, mas com moderação! Porque a inveja é o mau hálito da alma -frase de Roberto Campos, diga-se de passagem.
O melhor é parar por aqui e lembrar João Saldanha, que ensinou-me que há horas em que nós devemos dar um passo atrás para dar dois à frente. Assim vou lavando, ops!, levando.

Somos os melhores
Arsenal, Ajax, Milan, Porto, Lyon, Werder Bremen e Valencia. Esses grandes tem algo em comum: foram campeões tendo o brilho de um, dois, três, até quatro brasileiros. Brasil, exportai vossos guerreiros, iluminai os gramados... europeus!

Perde e ganha
O Real Madrid é o melhor exemplo de que técnico perde jogo e títulos. Tudo bem que futebol é "association", jamais pode ser "individuation".

De seu bolso
Uma evolução patrimonial considerável para quem foi vendedor de carro e deputado. Foi o que vimos da CPI do Futebol quando se levantou a fortuna de Eurico Miranda. De onde veio essa dinheirama? Se amanhã o cartola tiver de pagar a causa trabalhista de Edmundo será injusto? Toma lá, dá cá.


Jorge Kajuru, 43, é apresentador do "Esporte Total", da TV Bandeirantes
Tostão está em férias


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