São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ilusão de óptica

Antonio Scorza/France Presse
Fred comemora o segundo gol brasileiro em Munique, e Schwarzer busca bola


FÁBIO VICTOR
GUILHERME ROSEGUINI
PAULO COBOS
RICARDO PERRONE
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A MUNIQUE

A vitória por 2 a 0 sobre a Austrália, ontem, produziu duas verdades inapeláveis: o Brasil garantiu vaga na segunda fase da Copa, mas não tem ainda um time pronto.
Graças ao empate entre Japão e Croácia, os outros integrantes do Grupo F, o placar de Munique garantiu a seleção nas oitavas-de-final com uma rodada de antecedência.
Pode parecer muito. Mas, à luz do que fez o time de Carlos Alberto Parreira nos dois primeiros jogos, é pouco.
Depois da performance sofrível contra a Croácia na estréia (1 a 0), viu-se ontem uma evolução tímida diante de um adversário sem tradição em Mundiais e que hoje é o 42º colocado no ranking da Fifa.
Em vez do jogo vistoso que tanto se espera dos originalmente megafavoritos, o que se viu foi, uma vez mais, o oponente vender caro a derrota.
Mesmo após o fraquíssimo primeiro tempo, terminado em 0 a 0, Parreira insistiu em manter os titulares para os 45 minutos finais, quando os atacantes Adriano e Fred marcaram.
A entrada de reservas -especialmente Robinho, mas também Fred-, apenas na segunda metade da etapa derradeira, gerou, enfim, lampejos ofensivos.
Mesmo assim, às vezes era difícil assimilar o que se passava no fantástico Estádio de Munique. No final do jogo, os australianos atacaram seguidamente o Brasil, criando três sérias ameaças à meta de Dida.
Ronaldo novamente deixou evidente sua má fase e, cansado, foi de novo substituído no segundo tempo. O fato de ter sido um dos mais ativos da seleção na etapa inicial só confirmou quão mal o time esteve nos primeiros 45 minutos.
Os três gols marcados até aqui configuram o pior saldo ofensivo do Brasil neste estágio do torneio desde a Copa de 90.
O técnico da Austrália, o holandês Guus Hiddink, criticou a palidez da atuação brasileira. Até mesmo a Fifa, num relato sobre o confronto, afirmou que o triunfo da seleção não foi "de todo convincente".
Parreira parece ter visto outra partida. Disse que seu time teve "com certeza uma melhora acentuada". "Houve evolução nas partes física, técnica e tática, e a tendência é crescer", declarou o treinador.
Entre os jogadores, o espírito de valorizar o futebol de resultados também campeou. "Os resultados estão aí. Classificamos a seleção antecipadamente, com duas vitórias. Se você não falar que é o ideal, é difícil a gente saber o que é", disse Cafu.
Eleito o melhor em campo pela Fifa, o meia Zé Roberto tornou ainda mais clara a filosofia incutida por Parreira. "Todo mundo espera espetáculo, mas o Brasil está mentalizado em vitórias", afirmou.
Para o duelo da próxima quinta contra o Japão, Parreira, que só garantiu a escalação de Ronaldo, terá de resolver o dilema entre colocar força total para dar ritmo ao time ou poupar alguns jogadores, entre eles os quatro pendurados com cartão amarelo -e que, se levarem uma segunda advertência, ficam de fora da primeira partida do mata-mata.
O resultado em Munique ampliou duas marcas do futebol brasileiro. Desde 1982, na Copa da Espanha, a seleção avança com antecipação para a segunda fase. E o time soma, agora, nove vitórias consecutivas em Mundiais, recorde histórico.
Números que instigam. Com a mesma força com que iludem.
Acompanhe em tempo real os jogos que encerram a 2ª rodada www.folha.com.br/copa2006


Texto Anterior: Painel FC na Copa
Próximo Texto: Ronaldo evolui, mas bate recorde negativo em Copa
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.