São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 2006

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Mesmo na rua e longe da TV dá para acompanhar o jogo e a análise do Galvão

MASSIMO GENTILE
EDITOR DE ARTE

São Paulo, 13h30.
Faz quatro minutos que o atacante Robinho entrou no lugar de um Ronaldo ainda fora de forma e o jogo promete ser mais animador.
Talvez seja o cansaço, mas agora a Austrália parece estar mais disposta a abrir espaços para as jogadas de Kaká e para as invenções de Ronaldinho.
O gol está no ar, só que o dever profissional chama: um sol tímido convida a deixar o carro em casa e ir ao trabalho a pé.
Um silêncio surreal abre o caminho até a redação: não ha ninguém na rua! São Paulo é um deserto que lembra os domingos preguiçosos de uma cidade do interior.
Não há o alegre passeio pelas ruas de Higienópolis nos fins de semana, não há cachorros empurrando os próprios donos em direção da praça Buenos Aires, não há o mendigo da esquina que diariamente pede uma moeda e um cigarro. Não há nenhuma mesinha na calçada. Não há carros nem ônibus. Não passa um táxi.
Todo mundo está sofrendo e gritando colado na frente de uma TV, não importa onde: na sala de casa, no bar da esquina, no restaurante.
Os comentários de Galvão Bueno atravessam as janelas e acompanham o passeio: mesmo na rua e longe da TV dá para participar do jogo.
Cada "ohh" é um ataque da Austrália, cada grito, um lance errado do Brasil. Se percebe que, atrás das paredes, os torcedores esperam impacientes uma goleada, mas o tom sério da voz de Galvão Bueno deixa entender que o adversário não é tão fácil assim. Até a explosão geral: impossível ter dúvidas, é 2 a 0.
Agora se respira menos nervosismo: são poucos os gritos e menos ainda os "ohh". É o sinal que falta pouco para o fim. Mais uma explosão, e depois o silêncio: até a eco do Galvão some do ar. Desta vez não é gol.
Devagar reaparecem os paulistas, as mesas nas calçadas, os cachorros com seus donos, os carros, os táxis, bem como os ônibus e até as motocicletas. O barulho do trânsito toma de novo posse da cidade. Acabou o jogo, o Brasil está nas oitavas e, para mim, só falta uma quadra para entrar na redação.


Massimo Gentile é italiano


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