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Mesmo na rua e longe da TV dá para acompanhar o jogo e a análise do Galvão
MASSIMO GENTILE
EDITOR DE ARTE
São Paulo, 13h30.
Faz quatro minutos que o
atacante Robinho entrou no
lugar de um Ronaldo ainda
fora de forma e o jogo promete ser mais animador.
Talvez seja o cansaço, mas
agora a Austrália parece estar mais disposta a abrir espaços para as jogadas de Kaká e para as invenções de Ronaldinho.
O gol está no ar, só que o
dever profissional chama:
um sol tímido convida a deixar o carro em casa e ir ao
trabalho a pé.
Um silêncio surreal abre o
caminho até a redação: não
ha ninguém na rua! São Paulo é um deserto que lembra
os domingos preguiçosos de
uma cidade do interior.
Não há o alegre passeio pelas ruas de Higienópolis nos
fins de semana, não há cachorros empurrando os próprios donos em direção da
praça Buenos Aires, não há o
mendigo da esquina que diariamente pede uma moeda e
um cigarro. Não há nenhuma mesinha na calçada. Não
há carros nem ônibus. Não
passa um táxi.
Todo mundo está sofrendo e gritando colado na frente de uma TV, não importa
onde: na sala de casa, no bar
da esquina, no restaurante.
Os comentários de Galvão
Bueno atravessam as janelas
e acompanham o passeio:
mesmo na rua e longe da TV
dá para participar do jogo.
Cada "ohh" é um ataque da
Austrália, cada grito, um lance errado do Brasil. Se percebe que, atrás das paredes, os
torcedores esperam impacientes uma goleada, mas o
tom sério da voz de Galvão
Bueno deixa entender que o
adversário não é tão fácil assim. Até a explosão geral: impossível ter dúvidas, é 2 a 0.
Agora se respira menos
nervosismo: são poucos os
gritos e menos ainda os
"ohh". É o sinal que falta
pouco para o fim. Mais uma
explosão, e depois o silêncio:
até a eco do Galvão some do
ar. Desta vez não é gol.
Devagar reaparecem os
paulistas, as mesas nas calçadas, os cachorros com seus
donos, os carros, os táxis,
bem como os ônibus e até as
motocicletas. O barulho do
trânsito toma de novo posse
da cidade. Acabou o jogo, o
Brasil está nas oitavas e, para
mim, só falta uma quadra para entrar na redação.
Massimo Gentile é italiano
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