São Paulo, sábado, 19 de junho de 2010

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XICO SÁ

Amor de goleiro


Por trás de um frango, na várzea ou em uma Copa, há uma dor amorosa. O medo diante do chifre


AMIGO TORCEDOR, amigo secador, não consigo esquecer um minuto a Sara Carbonero, repórter do canal "Telecinco", namorada do goleiro Casillas, a quem muitos espanhóis, com ciúme ou por despeito, culpam pelo fracasso da pátria em castanhola contra a Suíça.
A morena acompanha, profissionalmente, o time do amado, sempre a poucos metros da rede do guarda-metas. Segundo a versão mais fanática, aqueles "ojos verdes" teriam desconcentrado o pobre rapaz. Faz todo o sentido do mundo.
Amar e pegar no gol são ofícios incompatíveis. Imagine uma D.R., a mitológica discussão de relação, no dia do jogo, mesmo por telefone, mesmo por MSN ou por outra ferramenta moderna?! Imagine estar sofrendo de amor e, em vez do gandula, é ela, Sara, quem acaba devolvendo a bola!
Um volante, tudo bem, pode levar o maior pé na bunda e jogar melhor ainda: só vingança, vingança no bico da chuteira assassina e na cara feia para os inimigos. Um goleiro, não. Perde o equilíbrio, com ou sem a insustentável leveza da Jabulani.
Por trás de um frango, na várzea ou em uma Copa, há uma dor amorosa. O medo do goleiro diante do chifre.
Não foi à toa que os tabloides britânicos associaram o gol sofrido pelo Green, contra os EUA, à sua recente separação.
Leve-se em conta, amigo, que estamos falando de uma equipe cujos treinos estão mais para ensaios de Shakespeare do que para o futebol propriamente dito. Haja traições entre os boleiros, que o digam os colegas John Terry e Wayne Bridge.
Só sei, amigo, que não consigo esquecer os olhos de Sara Carbonero. Trabalharia qual um mouro para sustentá-la para o resto da vida.
Amor e vida debaixo das traves não combinam. Lembro de um belo conto do Flávio Moreira da Costa, "A Solidão do Goleiro". Relata a agonia de um camisa 1 do escrete canarinho que, às vésperas de uma peleja decisiva, descobre a traição da legítima esposa. O drama está no livro "22 Contistas em Campo" (Ediouro).
Não é o caso do arqueiro espanhol. A torcida o acusa apenas de perder a concentração diante da chica. E tem algo mais criminoso do que a beleza?
"Eu posso desestabilizar o time? Acho que isso não faz o menor sentido", disse a moça, em sua rede de televisão. Faz sim, querida Sara, sinto muito.

xico.folha@uol.com.br


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