São Paulo, sábado, 19 de junho de 2010 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RITA SIZA O Pantera Negra
TODA A GENTE estava à espera da entrada do Didier Drogba no jogo contra Portugal para constatar se, afinal, a estrela da Costa do Marfim é o grande "animal" do futebol da África que o mundo inteiro diz que ele é. Fiquei um pouco irritada. Porque a verdade é que a África já teve o seu animal do futebol, e ele falava português: Eusébio da Silva Ferreira, o Pantera Negra, o primeiro -até agora único- futebolista africano global. Por uma questão de nacionalidade, injustamente, o Eusébio nunca foi considerado um jogador africano e, até hoje, não recebe o mesmo reconhecimento de outros prodígios que imigraram para a Europa, como o George Weah (que a mídia elegeu como o melhor jogador africano do século 20), ou, mais recentemente, Samuel Eto'o, Michael Essien ou Didier Drogba. Há quase 50 anos, foi o Eusébio quem deu o exemplo e trilhou o caminho agora seguido por esses novos craques, que, como ele, deixaram de jogar peladinhas na rua das cidades criadas pelos europeus e vieram maravilhar o povo nos estádios bem relvados dos países que antes reclamavam o seu território. Essas histórias, que à custa da repetição hoje se tornaram banais, eram inéditas no seu tempo. E por isso, a história de Eusébio é especial. Eu não era ainda nascida quando Eusébio carregou a seleção portuguesa para a sua melhor classificação em Copas do Mundo, em 1966. E foi o goleador do torneio, imortalizando o seu nome na galeria dos maiores da Fifa com a sua vontade indómita, técnica explosiva e estilo de jogo nunca antes visto. Como portuguesa e benfiquista, a minha dívida de gratidão com o Pantera Negra é impagável. Dito isso, tenho de confessar que sinto enorme respeito e admiração pelo Drogba, e não só como jogador. Ele conseguiu um cessar-fogo ao fim de cinco anos de guerra civil no seu país e acaba de financiar a construção de um hospital em Abidjan. Por azar, depois de mais uma temporada impressionante na Inglaterra, chegou minimizado à Copa por um braço partido. Mas nem assim Drogba deixa de ser um líder no campo, capaz de galvanizar todos os outros companheiros e virar um jogo num momento inspirado. E dificilmente ele jogará pior do que na partida contra Portugal. O meu aviso ao Brasil é: muito cuidado com ele amanhã! Texto Anterior: José Simão: Chuta a Jabuzebra Próximo Texto: Eto'o e treinador trocam farpas na véspera de partida decisiva Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |