São Paulo, quinta-feira, 19 de julho de 2001

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FUTEBOL

Superesquema de proteção montado para o Brasil não impede assédio dos torcedores no local de treinos da equipe

Tietes atormentam segurança da seleção

FÁBIO VICTOR
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A CALI

A cena se repete no final de todos os treinos da seleção do Brasil no CT do América de Cali.
Basta que os jogadores sejam liberados para que estoure a boiada: adolescentes perfumadas, crianças, famílias inteiras invadem a pista ao lado do gramado e se põem a pedir autógrafos, tirar fotos, apalpar e conversar com os atletas brasileiros.
Tudo normal, em se tratando de seleção brasileira, não fosse um detalhe. A tietagem passou a ser uma dor de cabeça para a segurança da delegação em Cali.
Traçado para isolar o time brasileiro, o superesquema de proteção, que envolve 80 policiais colombianos e cinco agentes da Polícia Federal brasileira, foi gradativamente cedendo espaço ao assédio da torcida.
E o CT do América é o único local onde esse contato acontece, principalmente pela permissividade com que a direção do clube colombiano encara a questão.
A maior parte dos fãs é composta por parentes e amigos de dirigentes do América.
""Eu comunico à polícia que é um familiar de um dirigente, um amigo, um ex-jogador, e aí eles deixam entrar", disse o administrador do centro de treinamento, Víctor Manuel Gómez, 53.
Na última segunda, quando havia cerca de 80 torcedores dentro do CT, o próprio administrador levou as três filhas e uma neta para ver a seleção. ""As pessoas que entram aqui são boas, não há riscos", comentou Gómez.
Aparentemente, os torcedores que têm conseguido entrar no local são de fato inofensivos, mas os agentes da PF avaliam que a aglomeração é um entrave ao esquema de segurança.
A Copa América chegou a ser cancelada por causa da série de atentados terroristas ocorridos no país nos últimos meses.
O número de torcedores aumentou bastante desde que a seleção brasileira passou a treinar no CT do América.
Para PF, quanto mais gente consegue entrar, maior o risco de entrar alguém mal-intencionado.
Anteontem, um dos chefes de Polícia Nacional da Colômbia em Cali levou seus filhos e sobrinhos para acompanhar o treino.
""Os meus filhos vieram especialmente de Bogotá para assistir ao treino da seleção. Não podia deixá-los de fora", disse o coronel Leonel Molina, que tirou várias fotos dos seus parentes com os jogadores da seleção.
Apesar de ocupar o alto escalação da polícia, o coronel disse desconhecer o motivo da proibição da entrada dos torcedores no CT do América de Cali.
""Não sabia que a entrada era restrita", disse o coronel.
A permissão para ultrapassar o portão do CT e encontrar os jogadores da seleção é dada pela polícia colombiana, mas há torcedores que disseram ter entrado com a ajuda de integrantes da delegação brasileira.
Foi o caso de Diego Fernando Mosquera, 31, motorista da Prefeitura de Cali. Na segunda-feira, ele levou o filho Diego Fernando Mosquera Patiño, 5, para ver o Brasil. Foi barrado no portão, mas insistiu e, de acordo com ele, foi colocado para dentro por um roupeiro da seleção.
""Não é justo que uma criaturinha dessas não possa entrar", afirmou Mosquera.
O garoto achava que encontraria Ronaldo e Rivaldo, mas no final se contentou com Denílson, o preferido dos fãs que vão ao CT.
Anteontem, Mosquera conseguiu entrar de novo, com a filha Stefania. ""Só deixam entrar um de cada vez", justificou.


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