São Paulo, quinta-feira, 19 de julho de 2007

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Gigante

Rebeca Gusmão remodela o corpo e, com 16 kg a mais do que no Pan-03, arrebata nos 50 m livre um ouro inédito

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Rebeca Gusmão, ouro nos 50 m livre

FABIO GRIJÓ
DA SUCURSAL DO RIO

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Para a cabeça, um grande amor. Para o corpo, muitos músculos. Essa foi a receita de Rebeca Gusmão para uma nadadora do Brasil obter, pela primeira vez nos Jogos Pan-Americanos, a medalha de ouro.
O feito foi conquistado nos 50 m livre, com o tempo de 25s05, novo recorde pan-americano e a melhor marca da carreira da atleta de 22 anos, que até a manhã de ontem vinha de três anos de declínio técnico.
"Esse dia 18 vai ficar para a história", comemorou Rebeca, que atribuiu o resultado ao coração e seu novo corpo -graças a ele, é apelidada de "Gigante".
"O maior doping que existe é estar apaixonada. Quando você fica assim, pode até treinar mal, mas vai bem na competição", suspirou a nadadora, ao falar de seu casamento com Gutenberg do Amaral, um cantor de ópera que foi seu professor de artes em um colégio de Brasília, quando ela ainda era adolescente. "Era uma paixão platônica. Aí eu o encontrei no ano passado e pensei que era agora ou nunca." Acabaram se casando. Ele a chama de "paçoca" -doce que Rebeca adora.
O trabalho do marido também ajuda. "Relaxa."
Só que o sucesso de Rebeca não acontece só pelo amor.
Nenhuma nadadora brasileira mudou tanto seu corpo em relação ao Pan de Santo Domingo, em 2003, como ela. Hoje ela tem 82 kg distribuídos em 1,78 m. Há quatro anos, com só um centímetro a menos do que hoje, pesava, segundo o Comitê Olímpico Brasileiro, 66 kg.
No mesmo período, Flávia Delaroli, 23, outra velocista brasileira (que ontem ficou em quarto lugar nos 50 m livre), ganhou apenas um quilo.
A nadadora gosta tanto do seu novo corpo que até tatuou em seu braço: "Gigante pela própria natureza". Segundo ela, fez isso para entrar no clima do Pan, por causa do Hino Nacional e para marcar seu apelido.
Rebeca treinou forte para ganhar tanta massa. Após o Pan da República Dominicana, passou a ter um preparador físico. Faz musculação de segunda a sábado. A cada dia, três sessões, num total de três horas.
A nadadora levanta, por exemplo, 160 kg no supino, aparelho para reforçar a musculatura do peitoral. "Abri mão da vaidade para ter resultado. Após o Pan de 2003, meu planejamento foi voltado para a parte física e para os treinos de saída e chegada na piscina, que ainda precisam ser corrigidas."
"Na Vila, tenho encontrado atletas do judô e do levantamento de peso. As meninas brincam, dizendo que eu poderia ganhar medalha fácil nesses esportes, que queriam ter meu corpo. Estou satisfeita."
Na preparação para a Olimpíada de Pequim-2008, competição para qual conseguiu índice durante a disputa do Pan, Rebeca diz que reforçará a flexibilidade e alguns grupos musculares. "Principalmente tríceps e peito", disse a nadadora, que não malha as pernas.
Que, aliás, são motivo de orgulho. "Minha mãe me disse que, quando era pequena, todos diziam que eu tinha pernas bonitas. Disseram que ela deveria me colocar na natação para elas ficarem lindas", falou Rebeca, que ainda pretende ir ao pódio no 4 x 100 m livre.


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