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NATAÇÃO
Rotas de velocistas campeões dividem opiniões e CBDA
Cielo, ouro nos 100 m livre, treina nos EUA, enquanto Kaio, ouro nos 100 m borboleta, segue na Paraíba com verba estatal
Cartolas fazem pressão para que nadadores brasileiros, em vez de buscar centros
de excelência no exterior, façam a preparação no país
DA SUCURSAL DO RIO
DO ENVIADO AO RIO
Foram duas medalhas de ouro que contam de maneira bem
diferente como se forma um
campeão pan-americano.
César Cielo Filho, 20, levou o
ouro nos 100 m livre treinando
em um centro de excelência, a
Universidade de Auburn, no
Alabama (EUA), a "meca" da
natação. Kaio Márcio, 22, sagrou-se campeão dos 100 m
borboleta realizando a preparação em João Pessoa (PB).
Essa diferença conceitual está no centro dos planos da
CBDA (Confederação Brasileira de Desportes Aquáticos).
Seus cartolas pressionam os
nadadores para ficarem no
país. O que aconteceu ontem dá
subsídio para os dois lados.
O grandalhão Cielo, 1,95 m,
bateu o recorde pan-americano
com 48s79, que também basta
para o índice olímpico de Pequim. Mesmo na prova que não
é a sua mais forte, o "baixinho"
Kaio, 1,77 m, triunfou em uma
disputa que teve o medalhista
de bronze do último Mundial, o
venezuelano Albert Subirats
(que foi só o terceiro).
Resultados tão próximos para realidades tão diferentes.
Em Auburn, Cielo está na universidade que é pentacampeã
do campeonato nacional americano. Na Olimpíada de Atenas, eram 12 atletas da instituição, defendendo diferentes países. Só Kirsty Coventry (Zimbábue) foi ao pódio três vezes.
Além das instalações de primeira linha e treinadores famosos, Cielo pode estudar no
mesmo lugar -faz curso de criminologia. O nadador paulista
evita entrar em atrito com os
cartolas por sua opção pelos
EUA. "Sempre mando o meu
planejamento para eles
[CBDA] com antecedência."
A falta de atrações de Auburn
também ajuda o atleta. "Auburn é muito chato. Não tem
nada para fazer lá. É treinar, estudar, dormir, treinar, estudar.
Não tem escapatória. É por isso
que eu continuo lá."
Para seguir na Paraíba, Kaio
tem um patrocínio do governo
estadual e da Prefeitura de
João Pessoa. Cursa direito numa faculdade que lhe dá uma
bolsa. E está bastante satisfeito.
"Não é uma estrutura como a
do Michael Phelps, mas está
boa. Sair de lá não vai fazer diferença. E lá é onde eu me sinto à
vontade", declarou Kaio.
O articulado Cielo mostrou
desconforto em disputar uma
final pela manhã e com tempo
nublado. "Não gosto de nadar
nesse horário. E o tempo não
ajudou. Mas eu já havia dito: se
o tempo estivesse ruim, a gente
iria lutar por medalhas, não por
tempo", disse o velocista, que,
no entanto, viu um lado bom de
entrar na piscina para uma disputa de pódio nesse horário.
"Vamos sair um pouco na frente em Pequim", falou Cielo, referindo-se ao fato de a próxima
Olimpíada também ter suas decisões pela manhã.
Ele também explicou seu ritual de dar tapas no próprio
corpo antes da largada.
"Vi uma vez um atleta do levantamento de peso fazendo isso. Se ela fazia aquilo para levantar mais peso, eu deveria fazer para nada mais rápido."
(FABIO GRIJÓ E PAULO COBOS)
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