São Paulo, quinta-feira, 19 de julho de 2007

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NATAÇÃO

Rotas de velocistas campeões dividem opiniões e CBDA

Cielo, ouro nos 100 m livre, treina nos EUA, enquanto Kaio, ouro nos 100 m borboleta, segue na Paraíba com verba estatal

Cartolas fazem pressão para que nadadores brasileiros, em vez de buscar centros de excelência no exterior, façam a preparação no país

DA SUCURSAL DO RIO
DO ENVIADO AO RIO

Foram duas medalhas de ouro que contam de maneira bem diferente como se forma um campeão pan-americano.
César Cielo Filho, 20, levou o ouro nos 100 m livre treinando em um centro de excelência, a Universidade de Auburn, no Alabama (EUA), a "meca" da natação. Kaio Márcio, 22, sagrou-se campeão dos 100 m borboleta realizando a preparação em João Pessoa (PB).
Essa diferença conceitual está no centro dos planos da CBDA (Confederação Brasileira de Desportes Aquáticos). Seus cartolas pressionam os nadadores para ficarem no país. O que aconteceu ontem dá subsídio para os dois lados.
O grandalhão Cielo, 1,95 m, bateu o recorde pan-americano com 48s79, que também basta para o índice olímpico de Pequim. Mesmo na prova que não é a sua mais forte, o "baixinho" Kaio, 1,77 m, triunfou em uma disputa que teve o medalhista de bronze do último Mundial, o venezuelano Albert Subirats (que foi só o terceiro).
Resultados tão próximos para realidades tão diferentes. Em Auburn, Cielo está na universidade que é pentacampeã do campeonato nacional americano. Na Olimpíada de Atenas, eram 12 atletas da instituição, defendendo diferentes países. Só Kirsty Coventry (Zimbábue) foi ao pódio três vezes.
Além das instalações de primeira linha e treinadores famosos, Cielo pode estudar no mesmo lugar -faz curso de criminologia. O nadador paulista evita entrar em atrito com os cartolas por sua opção pelos EUA. "Sempre mando o meu planejamento para eles [CBDA] com antecedência."
A falta de atrações de Auburn também ajuda o atleta. "Auburn é muito chato. Não tem nada para fazer lá. É treinar, estudar, dormir, treinar, estudar. Não tem escapatória. É por isso que eu continuo lá."
Para seguir na Paraíba, Kaio tem um patrocínio do governo estadual e da Prefeitura de João Pessoa. Cursa direito numa faculdade que lhe dá uma bolsa. E está bastante satisfeito.
"Não é uma estrutura como a do Michael Phelps, mas está boa. Sair de lá não vai fazer diferença. E lá é onde eu me sinto à vontade", declarou Kaio.
O articulado Cielo mostrou desconforto em disputar uma final pela manhã e com tempo nublado. "Não gosto de nadar nesse horário. E o tempo não ajudou. Mas eu já havia dito: se o tempo estivesse ruim, a gente iria lutar por medalhas, não por tempo", disse o velocista, que, no entanto, viu um lado bom de entrar na piscina para uma disputa de pódio nesse horário. "Vamos sair um pouco na frente em Pequim", falou Cielo, referindo-se ao fato de a próxima Olimpíada também ter suas decisões pela manhã.
Ele também explicou seu ritual de dar tapas no próprio corpo antes da largada.
"Vi uma vez um atleta do levantamento de peso fazendo isso. Se ela fazia aquilo para levantar mais peso, eu deveria fazer para nada mais rápido."
(FABIO GRIJÓ E PAULO COBOS)


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