São Paulo, domingo, 19 de julho de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

O ídolo e a crise


Quantas vezes você viu um técnico ser ídolo de um clube? Felipão, no Palmeiras e no Grêmio, Telê, no São Paulo


TERÇA-FEIRA .
Muricy estava em casa e seu representante, Márcio Rivellino, tinha reunião agendada com o presidente do Santos, Marcelo Teixeira. O diálogo por telefone foi rápido. Muricy confirmou que havia uma negociação e ouviu a observação, do outro lado da linha.
"Você vai acabar estreando contra o São Paulo", afirmei.
"Por quê? Quando os caras jogam contra o São Paulo?", questionou.
"Domingo, agora", emendei.
A reação do ex-técnico e eterno ídolo são-paulino foi imediata.
"Ai, caramba!", ele disse.
A informação de que havia clássico no domingo ficou na cabeça e no coração do treinador. Era quase certo que Muricy seria o escolhido de Marcelo Teixeira. A coisa mudou de figura porque o presidente santista se sentiu ofendido por só conseguir falar com seu empresário. Muricy se esquivou para evitar o encontro com sua velha torcida, no clássico de hoje. Deu Luxemburgo na Vila.
Torcida que gritará seu nome em caso de derrota para o Santos.
Pense bem antes de responder quantas vezes você viu um técnico ser ídolo de um clube. Felipão, no Grêmio e no Palmeiras. Telê, no São Paulo. E você vai contar nos dedos quando encontrar outros exemplos.
Era diferente quando Serginho Chulapa, técnico interino do Santos, jogava. Em 1983, trocou o Morumbi pela Vila. Naquele ano, Santos e São Paulo duelaram quatro vezes, Serginho fez três gols. Era esquisito ver Chulapa fazendo gol em seu ex-clube. Era sofrido para o são- -paulino ver o ídolo do outro lado.
Na decisão do Brasileiro de 1977, o técnico são-paulino Rubens Minelli queria criar pânico no Atlético, com a informação de que Serginho, suspenso, seria liberado para participar do jogo. A estratégia só esbarrava no sumiço do centroavante. Minelli pediu ao melhor amigo no elenco que encontrasse Serginho. Foi Muricy quem o colocou no avião para BH.
Naquele tempo, ídolos eram os craques. Apenas os craques.
Minelli foi técnico de Corinthians, Palmeiras e Santos, além do São Paulo. E assim foi a vida de Osvaldo Brandão, Aymoré Moreira, Carlos Alberto Silva, Leão e Nelsinho Batista. Telê saiu do Palmeiras para o São Paulo, Ênio Andrade trocou o Inter pelo Grêmio. O problema não era com o técnico. Dramático era quando o seu craque ia jogar no rival.
Por que mudou, a ponto de muita gente apostar -e ganhar- que Muricy não iria para o Palmeiras? A ponto de o técnico evitar estar no Morumbi, hoje à tarde?
Um dos argumentos dos são-paulinos contra Muricy era uma sequência de 12 jogos com duas vitórias. Muricy se foi e, em cinco partidas, houve um triunfo. Com o velho treinador, com Ricardo Gomes e Milton Cruz, nos últimos 13 jogos só houve duas vitórias. A crise faz parecer que o elenco é péssimo. Há três meses, antes das semifinais do Paulista, era consenso que o São Paulo tinha mais time que o Corinthians.
Hoje é unânime entre os torcedores que Washington, Hernanes, Dagoberto, Hugo e Zé Luís não servem mais. A visão de alguns dirigentes do clube é outra, a de que vários atletas pensam ser melhores do que são. Pelos corredores do CT, Borges já foi visto dizendo frases como: "Eu sou bicampeão brasileiro". Pegou mal.
Borges, o São Paulo é tri...
Ou seria Muricy?


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