São Paulo, domingo, 19 de julho de 2009

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Demitido, Mancini critica regalias ao goleiro Fábio Costa

Em entrevista à Folha, ex-treinador do Santos declara que capitão conta com tratamento especial na Vila Belmiro

Técnico faz um balanço dos 5 meses de trabalho e revela conflitos internos, mas se diz seguro de não ter sido derrubado pelos jogadores

DA REPORTAGEM LOCAL

Vagner Mancini, 42, deixou o Santos na segunda-feira, depois de uma goleada por 6 a 2 aplicada pelo Vitória e a recepção da torcida com ovos e pipoca. Em entrevista exclusiva à Folha, o treinador falou sobre sua passagem pelo clube, os problemas internos e mirou Fábio Costa. (RICARDO VIEL)

 

FOLHA - Com você, o time começou bem e depois caiu. Por quê?
MANCINI -
Quando cheguei, achava que precisava arrumar o time taticamente. Chegou à final do Paulista. Mas aquele time aguentaria o Brasileiro? Não. Eu disse várias vezes.

FOLHA - E as brigas, atrapalharam?
MANCINI -
Não há desgaste no elenco. Vou bater nessa tecla. Acho que a grande dificuldade é emocional. É um grupo que foi mal em 2008. Conseguimos motivar, e o time rendeu. Mas, para o Brasileiro, tinha que ter uma estrutura melhor.

FOLHA - Qual o papel de Neymar e Paulo Henrique nesse sobe e desce?
MANCINI -
Na queda, acho que em razão de não terem vivido ainda dentro do futebol o suficiente. Ajudaram, porque deram uma cara nova. Era uma equipe extremamente madura, não vou usar outro termo.

FOLHA - E por que o time, que vinha bem, não se sustentou?
MANCINI -
A bola de neve vai aumentando, e, emocionalmente, os pilares do grupo não suportam. E não é Neymar, Paulo Henrique quem vai segurar. São os mais velhos.

FOLHA - A proximidade do Luxemburgo com o clube atrapalhou?
MANCINI -
Difícil falar. É óbvio que lá tem gente da época dele. Se falar, posso colocar o caráter de alguém em dúvida. Eu sabia que enfrentaria algumas coisas. Tentei tirar o máximo de cada funcionário, independentemente de quem seja e por quem tenha sido trazido.

FOLHA - E o Fábio Costa? A ausência dele pesou na queda do time?
MANCINI -
Ele se machucou, saiu e ficou distante. Acho que, se quisesse, estaria mais perto.

FOLHA - Ele quis se preservar?
MANCINI -
O Santos tem os melhores equipamentos, bons profissionais, e o cara se machuca e vai se tratar fora? Ele fez o tratamento e não estava em período integral no clube. A gente queria ter informações.

FOLHA - Ele tem privilégios?
MANCINI -
Acho que o Fábio deveria ser tratado como atleta no clube. Se fosse, o Santos ganharia, ele ganharia, e não existiria esse tipo de coisa. No contrato há direitos e deveres.

FOLHA - Ele tem mais direitos?
MANCINI -
Muito mais. Mas comigo ele andou na linha.

FOLHA - Quando você chegou, ele tinha brigado com o Fabiano Eller...
MANCINI -
Não tive nenhum problema no grupo. Nenhum. Lá era tudo às claras. Essas discussões são normais no futebol, mas será que não era interessante vazar isso para a imprensa para minar o trabalho?

FOLHA - E a briga dele com o Eduardo Bahia [preparador de goleiros]?
MANCINI -
Vou contar o que houve. O Bahia estava aquecendo o Fábio, no vestiário, e achou que ele não estava se empenhando. Chamou a atenção dele. Ele achou ruim, tirou a luva, foi na minha sala e disse que não ia jogar, que havia sido desrespeitado e que não tinha condições emocionais. Falei: "Você vai botar sua luva, vai pro jogo. O problema com ele [Bahia] você resolve depois. Não vai botar um trabalho a perder". O Eduardo aqueceu o Douglas [reserva]. O Fábio não acabou o aquecimento. Quando o aquecimento geral acabou, ele botou a luva, fez a oração e entrou.

FOLHA - E se machucou. Você acha que tem alguma relação?
MANCINI -
Não. Foi fatalidade. No campo, se aqueceu de novo.

FOLHA - Como a briga vazou?
MANCINI -
Um deve ter falado pra um amigo, que falou pra outro... Mas também vazou porque tem um monte de gente no Santos que não gosta dele.

FOLHA - Os jogadores acham que o Fábio Costa é mais valorizado?
MANCINI -
Não acham, têm certeza. Todo mundo que vive o Santos sabe que o Fábio não é tratado como atleta. Isso atrapalha, embora eu volte a dizer que no meu grupo ele foi 100%. Não dei chance para ele.

FOLHA - Se arrepende de ter dito que havia um dedo-duro no clube?
MANCINI -
[pausa] Acho que eu falaria de novo. Porque minha intenção naquela hora foi intimidar as pessoas, ou as pessoas que estavam fazendo aquilo.

FOLHA - E funcionou?
MANCINI -
Melhorou.

FOLHA - E você sabe quem é?
MANCINI -
Vou sempre ter uma desconfiança, porque, se eu soubesse, eu teria tirado...

FOLHA - E essa pessoa estava fazendo isso para derrubá-lo?
MANCINI -
Acho que não. O cara acha que, se ele estiver de bem com a imprensa, vai ser defendido. Era mais para se manter do que para me derrubar.

FOLHA - Você acha que os jogadores contribuíram na sua queda?
MANCINI -
De maneira alguma. Falo de boca cheia. Em momento algum vi corpo mole.


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