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Demitido, Mancini critica regalias ao goleiro Fábio Costa
Em entrevista à Folha, ex-treinador do Santos declara que capitão conta com tratamento especial na Vila Belmiro
Técnico faz um balanço dos 5 meses de trabalho e revela conflitos internos, mas se diz seguro de não ter sido derrubado pelos jogadores
DA REPORTAGEM LOCAL
Vagner Mancini, 42, deixou o
Santos na segunda-feira, depois de uma goleada por 6 a 2
aplicada pelo Vitória e a recepção da torcida com ovos e pipoca. Em entrevista exclusiva à
Folha, o treinador falou sobre
sua passagem pelo clube, os
problemas internos e mirou
Fábio Costa.
(RICARDO VIEL)
FOLHA - Com você, o time começou bem e depois caiu. Por quê?
MANCINI - Quando cheguei,
achava que precisava arrumar o
time taticamente. Chegou à final do Paulista. Mas aquele time aguentaria o Brasileiro?
Não. Eu disse várias vezes.
FOLHA - E as brigas, atrapalharam?
MANCINI - Não há desgaste no
elenco. Vou bater nessa tecla.
Acho que a grande dificuldade é
emocional. É um grupo que foi
mal em 2008. Conseguimos
motivar, e o time rendeu. Mas,
para o Brasileiro, tinha que ter
uma estrutura melhor.
FOLHA - Qual o papel de Neymar e
Paulo Henrique nesse sobe e desce?
MANCINI - Na queda, acho que
em razão de não terem vivido
ainda dentro do futebol o suficiente. Ajudaram, porque deram uma cara nova. Era uma
equipe extremamente madura,
não vou usar outro termo.
FOLHA - E por que o time, que vinha bem, não se sustentou?
MANCINI - A bola de neve vai
aumentando, e, emocionalmente, os pilares do grupo não
suportam. E não é Neymar,
Paulo Henrique quem vai segurar. São os mais velhos.
FOLHA - A proximidade do Luxemburgo com o clube atrapalhou?
MANCINI - Difícil falar. É óbvio
que lá tem gente da época dele.
Se falar, posso colocar o caráter
de alguém em dúvida. Eu sabia
que enfrentaria algumas coisas.
Tentei tirar o máximo de cada
funcionário, independentemente de quem seja e por quem
tenha sido trazido.
FOLHA - E o Fábio Costa? A ausência dele pesou na queda do time?
MANCINI - Ele se machucou,
saiu e ficou distante. Acho que,
se quisesse, estaria mais perto.
FOLHA - Ele quis se preservar?
MANCINI - O Santos tem os melhores equipamentos, bons
profissionais, e o cara se machuca e vai se tratar fora? Ele
fez o tratamento e não estava
em período integral no clube. A
gente queria ter informações.
FOLHA - Ele tem privilégios?
MANCINI - Acho que o Fábio deveria ser tratado como atleta no
clube. Se fosse, o Santos ganharia, ele ganharia, e não existiria
esse tipo de coisa. No contrato
há direitos e deveres.
FOLHA - Ele tem mais direitos?
MANCINI - Muito mais. Mas comigo ele andou na linha.
FOLHA - Quando você chegou, ele
tinha brigado com o Fabiano Eller...
MANCINI - Não tive nenhum
problema no grupo. Nenhum.
Lá era tudo às claras. Essas discussões são normais no futebol,
mas será que não era interessante vazar isso para a imprensa para minar o trabalho?
FOLHA - E a briga dele com o Eduardo Bahia [preparador de goleiros]?
MANCINI - Vou contar o que
houve. O Bahia estava aquecendo o Fábio, no vestiário, e
achou que ele não estava se empenhando. Chamou a atenção
dele. Ele achou ruim, tirou a luva, foi na minha sala e disse que
não ia jogar, que havia sido desrespeitado e que não tinha condições emocionais. Falei: "Você
vai botar sua luva, vai pro jogo.
O problema com ele [Bahia] você resolve depois. Não vai botar
um trabalho a perder". O
Eduardo aqueceu o Douglas
[reserva]. O Fábio não acabou o
aquecimento. Quando o aquecimento geral acabou, ele botou a luva, fez a oração e entrou.
FOLHA - E se machucou. Você acha
que tem alguma relação?
MANCINI - Não. Foi fatalidade.
No campo, se aqueceu de novo.
FOLHA - Como a briga vazou?
MANCINI - Um deve ter falado
pra um amigo, que falou pra outro... Mas também vazou porque tem um monte de gente no
Santos que não gosta dele.
FOLHA - Os jogadores acham que o
Fábio Costa é mais valorizado?
MANCINI - Não acham, têm certeza. Todo mundo que vive o
Santos sabe que o Fábio não é
tratado como atleta. Isso atrapalha, embora eu volte a dizer
que no meu grupo ele foi 100%.
Não dei chance para ele.
FOLHA - Se arrepende de ter dito
que havia um dedo-duro no clube?
MANCINI - [pausa] Acho que eu
falaria de novo. Porque minha
intenção naquela hora foi intimidar as pessoas, ou as pessoas
que estavam fazendo aquilo.
FOLHA - E funcionou?
MANCINI - Melhorou.
FOLHA - E você sabe quem é?
MANCINI - Vou sempre ter uma
desconfiança, porque, se eu
soubesse, eu teria tirado...
FOLHA - E essa pessoa estava fazendo isso para derrubá-lo?
MANCINI - Acho que não. O cara
acha que, se ele estiver de bem
com a imprensa, vai ser defendido. Era mais para se manter
do que para me derrubar.
FOLHA - Você acha que os jogadores contribuíram na sua queda?
MANCINI - De maneira alguma.
Falo de boca cheia. Em momento algum vi corpo mole.
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