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Censura "esconde" crise no atletismo
Atletas classificados para o Mundial de Berlim deixam de reclamar da pista do Ibirapuera com medo de retaliação
Complexo, que é utilizado diariamente por quase a metade do time nacional, deve ser reformado pelo governo em setembro
JOSÉ EDUARDO MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL
A maior parte da delegação
brasileira que vai disputar o
Mundial de atletismo, entre os
dias 15 e 23 de agosto, em Berlim, não teve um local adequado para se preparar neste ano.
Dos 32 classificados para o
torneio, 14 treinam diariamente na deteriorada pista do estádio Ícaro de Castro Melo, no
Ibirapuera, em São Paulo. Com
seis anos de uso, o piso perdeu
parte da superfície de borracha
e causa ainda mais impacto.
As más condições colocam
em risco os atletas, que ficam
mais sujeitos a contusões.
De acordo com alguns competidores, que não quiseram
ter seus nomes identificados, a
precária situação não foi divulgada antes por medo de retaliação dos administradores. O temor era uma possível proibição
da entrada dos atletas no local.
Questionado, o diretor do
complexo, Eduardo Anastasi,
negou a coação. "Imagina, não
estou fazendo qualquer tipo de
censura. Não existe isso de a
gente bloquear", afirmou.
"No início do ano passado, o
presidente da Federação Paulista de Atletismo [José Antonio Fernandes] pediu para implantarmos um sistema para só
poder entrar no estádio quem
tivesse carteirinha de federado.
Aí, chegaram seis atletas não
identificados. Tiveram de pegar uma autorização e foram
reclamar na imprensa. Fizemos isso para manter o controle", completou Anastasi.
O orçamento para a reforma,
já liberado pelo governo do Estado, é de R$ 13 milhões para
este ano. Em 2010, serão investidos R$ 22 milhões, mais R$ 1
milhão em 2011, quando todo o
complexo deve ficar pronto.
O desentendimento entre os
dirigentes da BM&F, uma das
principais equipes do país, e a
direção do complexo do Ibirapuera também pode vir a gerar
polêmicas no futuro.
Em 2002, a BM&F e o governo do Estado acertaram acordo. A equipe deveria arcar com
a reforma da pista e com a construção de um alojamento para,
em contrapartida, utilizar a
área. O piso foi trocado, mas
não foi criado o alojamento.
"Por uma série de razões,
nunca nos foi oferecido o local
para construir o alojamento.
Depois, nos foi apresentado um
outro projeto do Estado, com
custo seis vezes maior. Não foi
viabilizado. O contrato ficou
com a pendência", diz Sérgio
Coutinho, diretor da BM&F.
Para tentar quitar a dívida, a
direção do time ofereceu a verba do alojamento para uma nova reforma da pista.
"Legalmente, não se pode alterar [a verba] para a reforma
da pista. A Procuradoria já deu
parecer contrário a isso", disse
Anastasi. "Hoje, a gente só empresta o espaço para a BM&F
treinar, e isso não vai mudar."
O único ponto com que todos
concordam é a necessidade da
reforma na pista. "É público e
notório que o piso está desgastado. O local é utilizado por cerca de 400 atletas toda semana.
Isso já há seis anos. Não temos
a condição ideal para um grande torneio", disse Fernandes, o
presidente da federação de SP.
"Na Guatemala, por exemplo, você encontra quatro estádios de nível, sendo que o país
não tem atletas bem colocados
no ranking", completou ele.
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