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Brasil não fez mais que a obrigação
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
A seleção brasileira cumpriu
sua obrigação. Numa Copa América desfalcada e desprestigiada
(até pelo público), com o mais baixo nível técnico dos últimos tempos, o Brasil era a única grande
equipe que jogava com sua formação máxima. Resultado: seis
vitórias em seis jogos, 17 gols a favor e só dois contra.
Palmas para Luxemburgo e seus
pupilos. Mas não dá para se entusiasmar muito. Apesar dos números, a verdade é que a seleção ainda está muito aquém do que se
pode esperar dela.
E não adianta o treinador reclamar das críticas, brandindo como
argumento os resultados positivos. Se o time tivesse perdido, ouviríamos a velha história de que o
importante não era o resultado, e
sim o trabalho de formação da
equipe, de aquisição de entrosamento e ritmo etc.
Se é assim, ninguém negará que
muita coisa tem de melhorar para
podermos enfrentar seleções de
gente grande: o posicionamento
da defesa (os garotos uruguaios,
além de chutar uma bola na trave, chegaram várias vezes diante
de Dida), a saída rápida do meio-campo, a variação de jogadas
ofensivas.
O que fica, em contrapartida, de
saldo positivo? Muita coisa.
Primeiro, um goleiro firme, maduro e no auge da forma técnica:
Dida. Se todo grande time começa
com um grande goleiro, estamos
começando bem.
Segundo: a boa experiência,
tentada só nos dois últimos jogos,
de uma "dobradinha de alas" pela esquerda. A troca de posições e
de passes entre Zé Roberto e Roberto Carlos confundiu as zagas
adversárias e criou algumas das
melhores jogadas de ataque brasileiras na semifinal e na final.
Pena que, pelo menos por enquanto, essa opção só exista pela
esquerda. Talvez, com a volta de
Vampeta ao time, possa ser tentada também na direita.
Cada vez mais fica claro que a
perspectiva de um único jogador
responsável pela faixa lateral do
campo -o ala propriamente dito, que floresceu na última década- é uma idéia ultrapassada.
Como já notou o ex-craque
Cruyff, é muito difícil um atleta
sair de sua defesa, dar um pique
de mais de 50 metros junto à lateral e ainda ser capaz de dar um
passe ou um cruzamento bem feito. Estará o "jogador de corredor",
como dizem os franceses, com os
dias contados? Espero que sim, pelo bem do futebol bonito.
Um ganho suplementar que a
Copa América nos deu foi a certeza de contar com um novo craque,
o Ronaldinho do Sul. Na Copa das
Confederações, ele terá tudo para
carimbar seu passaporte para a
Olimpíada de 2000 e para a Copa
de 2002.
Por último: a visível evolução e o
comovente esforço do outro Ronaldo. Apesar dos gols que perdeu, mostrou vislumbres de seu
futebol exuberante.
Parece até que Rivaldo leu a coluna de Juca Kfouri na sexta-feira
e se encheu de brios. Sua exibição
ontem, contra o Uruguai, foi simplesmente majestosa -e não só
pelos gols que fez, mas também
pelos deslocamentos, passes e lançamentos.
E o mais interessante é que ele
mostrou, na mesma partida, todos os seus defeitos: prendeu demais a bola, tentou às vezes um
drible a mais, armou o contra-ataque uruguaio.
Foi como se ele dissesse: o meu
futebol é esse, a genialidade e as
deficiências, a inspiração e a teimosia, tudo misturado. Quem
quiser, que compre o pacote todo.
O Barcelona comprou e não se arrependeu. Luxemburgo idem.
José Geraldo Couto escreve às segundas e
aos sábados
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