São Paulo, Segunda-feira, 19 de Julho de 1999
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Brasil não fez mais que a obrigação

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

A seleção brasileira cumpriu sua obrigação. Numa Copa América desfalcada e desprestigiada (até pelo público), com o mais baixo nível técnico dos últimos tempos, o Brasil era a única grande equipe que jogava com sua formação máxima. Resultado: seis vitórias em seis jogos, 17 gols a favor e só dois contra. Palmas para Luxemburgo e seus pupilos. Mas não dá para se entusiasmar muito. Apesar dos números, a verdade é que a seleção ainda está muito aquém do que se pode esperar dela. E não adianta o treinador reclamar das críticas, brandindo como argumento os resultados positivos. Se o time tivesse perdido, ouviríamos a velha história de que o importante não era o resultado, e sim o trabalho de formação da equipe, de aquisição de entrosamento e ritmo etc. Se é assim, ninguém negará que muita coisa tem de melhorar para podermos enfrentar seleções de gente grande: o posicionamento da defesa (os garotos uruguaios, além de chutar uma bola na trave, chegaram várias vezes diante de Dida), a saída rápida do meio-campo, a variação de jogadas ofensivas. O que fica, em contrapartida, de saldo positivo? Muita coisa. Primeiro, um goleiro firme, maduro e no auge da forma técnica: Dida. Se todo grande time começa com um grande goleiro, estamos começando bem. Segundo: a boa experiência, tentada só nos dois últimos jogos, de uma "dobradinha de alas" pela esquerda. A troca de posições e de passes entre Zé Roberto e Roberto Carlos confundiu as zagas adversárias e criou algumas das melhores jogadas de ataque brasileiras na semifinal e na final. Pena que, pelo menos por enquanto, essa opção só exista pela esquerda. Talvez, com a volta de Vampeta ao time, possa ser tentada também na direita. Cada vez mais fica claro que a perspectiva de um único jogador responsável pela faixa lateral do campo -o ala propriamente dito, que floresceu na última década- é uma idéia ultrapassada. Como já notou o ex-craque Cruyff, é muito difícil um atleta sair de sua defesa, dar um pique de mais de 50 metros junto à lateral e ainda ser capaz de dar um passe ou um cruzamento bem feito. Estará o "jogador de corredor", como dizem os franceses, com os dias contados? Espero que sim, pelo bem do futebol bonito. Um ganho suplementar que a Copa América nos deu foi a certeza de contar com um novo craque, o Ronaldinho do Sul. Na Copa das Confederações, ele terá tudo para carimbar seu passaporte para a Olimpíada de 2000 e para a Copa de 2002. Por último: a visível evolução e o comovente esforço do outro Ronaldo. Apesar dos gols que perdeu, mostrou vislumbres de seu futebol exuberante.   Parece até que Rivaldo leu a coluna de Juca Kfouri na sexta-feira e se encheu de brios. Sua exibição ontem, contra o Uruguai, foi simplesmente majestosa -e não só pelos gols que fez, mas também pelos deslocamentos, passes e lançamentos. E o mais interessante é que ele mostrou, na mesma partida, todos os seus defeitos: prendeu demais a bola, tentou às vezes um drible a mais, armou o contra-ataque uruguaio. Foi como se ele dissesse: o meu futebol é esse, a genialidade e as deficiências, a inspiração e a teimosia, tudo misturado. Quem quiser, que compre o pacote todo. O Barcelona comprou e não se arrependeu. Luxemburgo idem.


José Geraldo Couto escreve às segundas e aos sábados

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