São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2007

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dilema

Parapan do Rio exibe superação e dúvidas

"Processo em curso" e dissimulação tornam classificação de atletas desafio

Divisão das competições por grau de deficiência, alvo freqüente de protestos, é decisiva para a conquista de medalhas no paradesporto

PAULO COBOS
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

O primeiro Parapan da história realizado em conjunto com o Pan-Americano termina hoje, no Rio, com recorde de medalhas para o Brasil, mas com a sombra da falta de clareza nos critérios de triagem dos atletas.
Sombra que assola o esporte paraolímpico como um todo. E que ganhou evidência no país, na última semana, diante de tantas histórias de superação em piscinas, quadras e pistas.
Como outros eventos envolvendo atletas portadores de deficiência, o Parapan começou com uma triagem. Um complexo processo, recheado de critérios subjetivos, que separa os competidores pelo grau de deficiência -quanto maior o número da categoria, menor é o comprometimento do atleta.
Avaliação que começa pelos classificadores locais e, nas competições internacionais, é confirmada ou retificada por representantes do Comitê Paraolímpico Internacional. Protestos, claro, são comuns.
No Rio, até a última quarta-feira, por exemplo, quatro atletas tiveram suas classificações colocadas em dúvida por adversários, segundo o Comitê Paraolímpico Internacional.
Faz parte do processo. Segundo Steffi Klein, gerente de comunicações do comitê, 450 atletas, ou cerca de um terço dos competidores, estavam sujeitos a mudar de categoria durante ou após a competição. A grosso modo, poderiam estar inscritos na prova errada.
"É o primeiro grande evento na região em anos. Além disso, vários atletas são estreantes e ainda não foram vistos por classificadores internacionais", explica Klein. "A classificação é um processo em curso", diz.
E a diferença entre uma e outra categoria é grande, mesmo com um grande número de classes. Na natação, por exemplo, que abarca dez classes de deficiências físicas -há categorias para deficientes visuais-, a diferença dos recordes mundiais na prova dos 200 m livre varia quase dez segundos entre as categorias S4 e S5.
A primeira, aliás, é a de Clodoaldo Silva, o maior atleta paraolímpico brasileiro e um personagem dessa confusão. No último Mundial de natação, após protesto espanhol, ele foi remanejado para a S5, onde não teve o mesmo sucesso. Recorreu e conseguiu voltar à S4.
Clodoaldo não é o único. No site do Comitê Paraolímpico Internacional, há outros quatro brasileiros com registro de protesto. Para os classificadores nacionais, a situação melhorou nos últimos três anos, quando o setor recebeu investimentos, minimizando os equívocos.
"O problema era que colocávamos um atleta em uma prova, mas ele acabava desclassificado quando competia no exterior por não sabermos avaliar bem sua classificação. Muitas vezes um atleta saia daqui com recorde e voltava com marcas ruins porque lá fora mudavam a classe dele", conta Patrícia Silvestre de Freitas, coordenadora de classificadores do Comitê Paraolímpico Brasileiro.
Tanto ela quanto Klein, do comitê internacional, que oferece curso de classificação on-line por US$ 400 (pouco mais de R$ 800), reconhecem que a dificuldade é descobrir atletas que simulam problemas. "Em determinados casos, dá certo no início. Mas, na hora da competição, descobrimos. Lá, ele se solta e a avaliação fica fácil."
Mas Patrícia admite que o ideal do esporte, entre esses atletas, é uma quimera. "Igualdade não vai existir nunca."


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