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dilema
Parapan do Rio exibe superação e dúvidas
"Processo em curso" e dissimulação tornam classificação de atletas desafio
Divisão das competições por grau de deficiência, alvo freqüente de protestos, é decisiva para a conquista de medalhas no paradesporto
PAULO COBOS
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
O primeiro Parapan da história realizado em conjunto com
o Pan-Americano termina hoje,
no Rio, com recorde de medalhas para o Brasil, mas com a
sombra da falta de clareza nos
critérios de triagem dos atletas.
Sombra que assola o esporte
paraolímpico como um todo. E
que ganhou evidência no país,
na última semana, diante de
tantas histórias de superação
em piscinas, quadras e pistas.
Como outros eventos envolvendo atletas portadores de deficiência, o Parapan começou
com uma triagem. Um complexo processo, recheado de critérios subjetivos, que separa os
competidores pelo grau de deficiência -quanto maior o número da categoria, menor é o
comprometimento do atleta.
Avaliação que começa pelos
classificadores locais e, nas
competições internacionais, é
confirmada ou retificada por
representantes do Comitê Paraolímpico Internacional. Protestos, claro, são comuns.
No Rio, até a última quarta-feira, por exemplo, quatro atletas tiveram suas classificações
colocadas em dúvida por adversários, segundo o Comitê Paraolímpico Internacional.
Faz parte do processo. Segundo Steffi Klein, gerente de
comunicações do comitê, 450
atletas, ou cerca de um terço
dos competidores, estavam sujeitos a mudar de categoria durante ou após a competição. A
grosso modo, poderiam estar
inscritos na prova errada.
"É o primeiro grande evento
na região em anos. Além disso,
vários atletas são estreantes e
ainda não foram vistos por classificadores internacionais", explica Klein. "A classificação é
um processo em curso", diz.
E a diferença entre uma e outra categoria é grande, mesmo
com um grande número de
classes. Na natação, por exemplo, que abarca dez classes de
deficiências físicas -há categorias para deficientes visuais-, a
diferença dos recordes mundiais na prova dos 200 m livre
varia quase dez segundos entre
as categorias S4 e S5.
A primeira, aliás, é a de Clodoaldo Silva, o maior atleta paraolímpico brasileiro e um personagem dessa confusão. No
último Mundial de natação,
após protesto espanhol, ele foi
remanejado para a S5, onde não
teve o mesmo sucesso. Recorreu e conseguiu voltar à S4.
Clodoaldo não é o único. No
site do Comitê Paraolímpico
Internacional, há outros quatro
brasileiros com registro de protesto. Para os classificadores
nacionais, a situação melhorou
nos últimos três anos, quando o
setor recebeu investimentos,
minimizando os equívocos.
"O problema era que colocávamos um atleta em uma prova, mas ele acabava desclassificado quando competia no exterior por não sabermos avaliar
bem sua classificação. Muitas
vezes um atleta saia daqui com
recorde e voltava com marcas
ruins porque lá fora mudavam
a classe dele", conta Patrícia
Silvestre de Freitas, coordenadora de classificadores do Comitê Paraolímpico Brasileiro.
Tanto ela quanto Klein, do
comitê internacional, que oferece curso de classificação on-line por US$ 400 (pouco mais
de R$ 800), reconhecem que a
dificuldade é descobrir atletas
que simulam problemas. "Em
determinados casos, dá certo
no início. Mas, na hora da competição, descobrimos. Lá, ele se
solta e a avaliação fica fácil."
Mas Patrícia admite que o
ideal do esporte, entre esses
atletas, é uma quimera. "Igualdade não vai existir nunca."
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