São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2008

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VELA

Trabalho iniciado após 2004 coroa dupla brasileira

Fernanda e Isabel buscam intercâmbios e dissecam palco olímpico para alcançar resultado histórico

Após marcar adversárias israelenses na última regata e superarem amigas de treino, velejadoras fazem festa em família no píer


DO ENVIADO A QINGDAO

Ao aportar no píer de Qingdao, o barco de Fernanda Oliveira e Isabel Swan foi erguido por familiares e grupo de apoio, com as duas atletas dentro. A euforia era a principal conseqüência de uma história iniciada após a Olimpíada de 2004.
Isabel atribuiu o êxito da dupla à experiência de Fernanda e, da parte dela, à dedicação. Sem segredo. "Na segunda volta, quando estávamos perto do barco de Israel e distante da flotilha, senti confiança. Era só usar a cabeça", falou Fernanda.
E foi o que aconteceu. Elas não deram chances às rivais.
A gaúcha Fernanda já tinha experiência de duas Olimpíadas (Sydney-00 e Atenas-04), sempre como timoneira.
Após atuar, em 2004, sem a preparação adequada e com um barco defasado, de 1999, enquanto rivais tinham o do ano, Fernanda montou um projeto olímpico, com investimento em treino, intercâmbio e equipamento, visando Pequim.
Até então, era apenas sonho. Não havia resultados expressivos. Mesmo assim, convenceu patrocinadores e obteve a garantia de investimento no ciclo 2004-2008. Faltava decidir quem seria sua proeira, que na 470, a classe mais técnica da vela olímpica, tem também papel decisivo na embarcação.
Fernanda escolheu a carioca Isabel, então com 21 anos (hoje tem 24), que aceitou o convite e se mudou para Porto Alegre, para treinar no rio Guaíba.
A dupla superou expectativas desde o início. Com um ano juntas, em 2006, elas ficaram em quarto na Semana de Kiel, na Alemanha, a mais tradicional disputa da vela. De lá para cá, colocaram-se entre as dez primeiras em seis das 7 competições de peso que disputaram.
Um desses eventos, o Mundial-06, foi em Rizhao, na China. Ficaram em quarto, melhor resultado da vela feminina do país em classes olímpicas em Mundiais e Olimpíadas até então. Ainda em 2006, veio outro quarto lugar, na Pré-Olímpica, na mesma raia de Qingdao onde, agora, conquistaram o bronze olímpico. Na ocasião, enfrentaram as mesmas condições climáticas, com ventos fracos e forte correnteza.
As dificuldades vistas à época fizeram com que as atletas atacassem em duas frentes: precisavam treinar de forma mais apurada, com intercâmbios, e ser bem rigorosas a cada passo.
Devido a isso, Fernanda e Isabel passaram a ter como constantes colegas de treino as italianas Giulia Conti e Giovanna Micol, líderes do ranking mundial antes de Pequim e fortes concorrentes na China -obtiveram o quinto lugar.
"Só no mastro, fizemos medição de três diferentes para ver os detalhes de cada um. Foi um trabalho de detalhe, e uma Olimpíada é feita de detalhes", disse Fernanda, que, além de um barco de ponta, contou com preparadora física, fisioterapeuta e psicólogo. Até seu corpo foi moldado para melhor executar as estratégias de regata -a dupla ajustou tanto o peso de uma como da outra.
Após a definição da regata da 470, que teve ainda as austríacas Elise Rechichi e Tessa Parkinson (ouro, com 43 pontos perdidos) e as holandesas Marcelien de Koning e Lobke Berkhout (prata, com 53 pontos perdidos) no pódio, as brasileiras, com 60 pontos perdidos, festejaram e acertaram contas.
Na zona fechada do píer, invadida por brasileiros na festa da chegada, Fernanda não perdeu tempo e cobrou promessa do noivo Diogo: "Fiz a minha parte, agora é a sua. Ele disse que, se eu ganhasse medalha, ia pendurá-la no pescoço no dia do casamento [em novembro]. Eu vou bonita, com meu vestido". Ao lado, Diogo declarou que vai cumprir: "Ponho a medalha por cima da gravata".


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