São Paulo, quarta-feira, 19 de setembro de 2007

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TOSTÃO

Não é humano


O São Paulo é melhor porque os jogadores não se acham melhores do que são e não cometem nenhum pecado


FORMAR UM time compacto, criar espaços e não dar espaços para o adversário é o sonho de todos os treinadores.
Como fazer isso?
Se os zagueiros marcam muito atrás e os meias e atacantes muito na frente, ficam muitos espaços entre a defesa e o meio-campo e entre esse setor e o ataque. Isso facilita a organização das jogadas do adversário.
No Brasil, os zagueiros têm o hábito de jogar recuados, quase encostados na linha da grande área. Isso acaba com os espaços nas suas costas, mas permite ao meia do outro time receber a bola livre entre os zagueiros e volantes. Se esses recuam, diminuem esses espaços, porém, dão ao outro time mais chances de pressionar e dominar o jogo. O time que marca muito atrás fica também muito longe do outro gol.
Se o meio-campo se adianta para marcar por pressão e os zagueiros não acompanham, ficam muitos espaços entre esses setores. Isso acontece demais no Cruzeiro e ocorria no São Paulo tempos atrás, quando Josué e Mineiro avançavam e os zagueiros ficavam recuados. Se os volantes e zagueiros avançam juntos, sobram espaços nas costas dos defensores para lançamentos longos.
Para o time ficar mais compacto e diminuir os espaços entre defesa, meio-campo e ataque, é necessário que os zagueiros marquem um pouco mais na frente, perto dos volantes, e que os meias e atacantes iniciem a marcação um pouco mais atrás. Ficam dez jogadores em uma pequena faixa de campo. É isso que o São Paulo tem feito com sucesso. Não há espaço para o outro time armar as jogadas.
Se a bola é lançada nas costas dos zagueiros, é necessário que o goleiro jogue fora do gol e que saiba atuar bem com os pés, como um líbero. O São Paulo tem o goleiro que mais sabe fazer isso no mundo.
Muricy deve ter aprendido a fazer uma marcação compacta vendo os jogos da Europa pela televisão. Nisso eles são melhores.
O que falta ao São Paulo é mais talento quando recupera a bola. Essa deficiência diminuiu no segundo turno, graças ao crescimento técnico de vários jogadores, principalmente do Hernanes.
Já as grandes qualidades do Cruzeiro são a velocidade e o grande número de jogadores que chegam ao gol rival. Mas o time marca mal.
Por isso, o São Paulo é mais equilibrado e nitidamente superior. O equilíbrio é essencial. Só raríssimos gênios não precisam de equilíbrio.
Além disso, Rogério Ceni não engole frangos, os zagueiros não fazem lambanças, os jogadores não reclamam do clube, não desobedecem ao professor Muricy, não se acham melhores do que são, não querem aparecer mais do que os outros nem colocam sapato alto. Não cometem nenhum pecado. Isso não é humano.

Drible da foca
É lamentável, mas não foi surpresa, por causa do momento ruim do Atlético no jogo e pelo preconceito dos jogadores, a agressão do Coelho ao Kerlon. O drible da foca é lindo, feito em direção ao gol, diferente e deve ser repetido. Mas não é um ótimo recurso técnico. Muito melhor são os passes decisivos, surpreendentes e as precisas finalizações do Guilherme, união de técnica e arte.

tostao.folha@uol.com.br


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