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XICO SÁ
Sartre na roda de bobinho
Quem saberá sair da Ilhade Lost? Imagine se o Brasileiro valesse algo para o Sport. Seria um estrago
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AMIGO TORCEDOR , amigo secador, como diz o Aldir Blanc,
aquele vascaíno bamba, eu estou bem comigo e isto é difícil, então
vamos aproveitar a buena onda e dar
tratos à bola, fazer um bobinho da
existência, botar Jean-Paul Sartre
na roda, esse enfezado de nascença,
e não levar nada tão a sério, afinal de
contas o capitalismo acabou, mas o
Mercado da Encruzilhada, no Recife, está inteiro, lá posso ruminar os
bodes, dormir após o almoço, reinventar Pasárgada, amar na rede e
gritar: menos Fiesp e mais "siestas".
Melhor ainda se o Sport for campeão paulista no domingo, quando
enfrenta o São Paulo na Ilha de Lost,
também conhecida como do Retiro.
Depois de bater o Timão, sorry, rapaziada guerreira, e de humilhar o
conglomerado Traffic/Luxa/Palmeiras diversas vezes, basta uma vitória simples contra o tricolor burguês para que o Leão do Norte, o
único brasileiro garantido na Libertadores desde que começou a brincadeira, assegure também o título
antecipado de campeão paulista.
Não à toa os tricolores já luxemburgaram, a velha mania de ter álibi
para as derrotas, como se os fracassos não fizessem parte da vida, qualé? Nas resenhas, só ouvi nego a falar
mal do gramado, a se queixar do clima, como se o Morumbi fosse outro
planeta, algo desaquecido, ecológico, um mundo cor de rosa e neutro.
Quem pretende ser campeão tem
que saber como sair da Ilha de Lost.
Sim, tem um probleminha grave:
quem vai orientar o caminho?
Perguntar para quem o destino?
Para os gremistas? Sempre acham
que estão nos Aflitos, nutrem-se das
ilusões de uma saga única na Conselheiro Rosa e Silva e nem com GPS
se recuperam das seguidas derrotas.
Imaginem se o Brasileiro valesse
para o Sport. Seria um estrago. É que
estamos só brincando de eu sou pobre-pobre-pobre de marré-marré-marré. Quem saberá sair da Ilha de
Lost? Não há GPS ludopédico que
oriente. Pergunte ao Mano Menezes, novo gênio da Série B. Ele até
confiou no Saci, porque ali, velho, só
com uma perna há chance de fuga.
Pena que não combinou com o deus
Carlinhos Bala, preferiram a soberba, que não veste a massa corintiana,
mas cai bem para a mídia sudestina.
Ah, velho Blanc, o Vasco não anda
lá essas coisas e andei pensando: não
teria o dedo de Eurico Miranda nesse rumo da Cruz de Malta? Só para
mostrar que, com Roberto, está tudo
certo como dois e dois são cinco?
Mas deixo a bola com quem entende e acabo aqui, num frio danado
de São Paulo, cantando, vê se me
acompanha, abro o vinho, e brindo
só, entre o Paraíso e a Consolação, o
último metrô, começo e fim dos
amores: "Acendo um cigarro molhado de chuva até os ossos/ E alguém
me pede fogo -é um dos nossos/ Eu
sigo na chuva de mão no bolso e sorrio/ Eu estou de bem comigo e isto é
difícil/ Eu tenho no bolso uma carta/ Uma estúpida esponja de pó-de-arroz/ E um retrato meu e dela/ Que
vale muito mais do que nós dois/ Eu
disse ao garçom que quero que ela
morra/ Olho as luas gêmeas dos faróis/ E assobio, somos todos sós...".
É, dom Aldir, chama o João para
cantar no final, acabei a noite de ontem cantando essa com o velho e
bom Sócrates, sabe a felicidade de
um amigo novo que vem para sempre? Como é bom saber tocar de ouvido o tintim de um copo no outro!
xico.folha@folha.com.br
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