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MOTOR
Pacote sob encomenda
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
O pacote Mosley-Ecclestone
de moralização da F-1 ganhou novos contornos nesta semana após a Ferrari, mais uma vez, ameaçar abandonar a categoria e Ron Dennis, como Montezemolo, reclamar uma melhor distribuição do dinheiro da TV.
Aos poucos, a carta de nove
pontos da FIA e seu tom histérico
começam a fazer sentido. Assim
como a intenção de resgatar o esporte e sua competitividade parece, cada vez mais, só pretexto.
É evidente que o domínio ferrarista colaborou e muito para a
manobra, mas é evidente também que a FIA tem uma problema sério para resolver, que é a disputa com as montadoras.
Lembre-se de que, antes do festival de marmeladas e do penta do
alemão, a grande discussão da F-1 era a criação pelas grandes marcas da GPWC, holding que pretende montar um Mundial paralelo a partir de 2008.
E lembre-se também de que a principal reivindicação das fábricas era uma melhor divisão do bolo. Pois a discussão em torno do
pacote começa a expurgar uma série de informações importantes
para se entender essa disputa, essencialmente comercial.
A começar pelos números: o tal
do bolo agora tem tamanho, absurdos US$ 7 bilhões. E, responsável pelo confeito, a TV entra com
47% desse valor graças a um
acordo em que, acredite se quiser,
a audiência das corridas (a grande desculpa de Mosley para o pacote) conta pouco, muito pouco.
Segundo reportagem do francês
"Le Monde", a F-1 sai caro para
as emissoras de TV não pela falta
de público mas pelo sistema de cobrança criado por Ecclestone. Os
atuais contratos, além de estarem
antecipadamente pagos, têm valores calculados por aqueles índices de audiência global que a FIA
publica todos os anos -50 e tantos bilhões de telespectadores, em
que se conta tudo, até imagens
veiculadas em uma simples reportagem. Dessa numeralha toda, a transmissão ao vivo, que
caiu até na Alemanha neste ano,
responde apenas por 10%.
Ainda que fosse imediato, o
problema do dinheiro da TV é
pinto perto do da divisão do bolo.
Do total movimentado pela F-1,
estima-se que as equipes e suas
parceiras recebam uma fatia de
no máximo 25%. O restante fica
com o chefe, Ecclestone, que fez
sua parte do bolo crescer geometricamente com uma infinidade
de acordos de licenciamento e de
promoção de GPs. E que o levaram a encampar até a geração de
imagens das corridas.
Enquanto os times foram comandados exclusivamente por
seus donos, a coisa andou, já que
o dinheiro distribuído era farto.
Quando as montadoras entraram
no negócio, justamente em um
momento de crise mundial, foi
apenas questão de tempo para os
executivos das empresas fazerem
as contas e perceberem que poderiam ganhar muito mais, não fossem "os intermediários", como
disse Montezemolo nesta semana
(além de Ecclestone, os bancos
que compraram parte da Slec).
Enfim, as marmeladas se tornaram, no final das contas, uma excelente desculpa para mudar as
regras do jogo, ameaçar os grandes times e, principalmente, inibir
a fúria das montadoras, que podem, se levadas a cabo as idéias
da FIA, se tornar simples fornecedoras de material esportivo.
Uma cartada decisiva para o
futuro de Mosley e para o bolso de
Ecclestone. Mas também para o
público: a F-1 é que está em jogo.
Quem dá mais?
Sempre onde o dinheiro está, Mosley e Ecclestone anunciaram em
Xangai nesta semana o primeiro GP da China para 2004, ano em
que estréia também o de Bahrein. E quem vai sair do calendário?
Fala-se em Imola, Nurburgring e Zeltweg. O pau vai quebrar.
Outro Piquet
Nelsinho, filho do tricampeão, corre hoje em Jacarepaguá pelo título antecipado do Sul-Americano de F-3. Larga da pole, a 12ª em
13 etapas, domínio contestado pelos concorrentes, que denunciaram uma série de trapaças do herdeiro durante a temporada. Ignorando a polêmica, Piquet pai já vê Piquet filho no Inglês de F-3 no
ano que vem -pelo menos escreveu isso na "Autosport".
Ferrari-Indy
O carro que a escuderia construiu ao ameaçar sair da F-1 nos anos
80 está no museu de Maranello. Nunca correu.
E-mail mariante@uol.com.br
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