São Paulo, sábado, 19 de outubro de 2002

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MOTOR

Pacote sob encomenda

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

O pacote Mosley-Ecclestone de moralização da F-1 ganhou novos contornos nesta semana após a Ferrari, mais uma vez, ameaçar abandonar a categoria e Ron Dennis, como Montezemolo, reclamar uma melhor distribuição do dinheiro da TV.
Aos poucos, a carta de nove pontos da FIA e seu tom histérico começam a fazer sentido. Assim como a intenção de resgatar o esporte e sua competitividade parece, cada vez mais, só pretexto.
É evidente que o domínio ferrarista colaborou e muito para a manobra, mas é evidente também que a FIA tem uma problema sério para resolver, que é a disputa com as montadoras. Lembre-se de que, antes do festival de marmeladas e do penta do alemão, a grande discussão da F-1 era a criação pelas grandes marcas da GPWC, holding que pretende montar um Mundial paralelo a partir de 2008.
E lembre-se também de que a principal reivindicação das fábricas era uma melhor divisão do bolo. Pois a discussão em torno do pacote começa a expurgar uma série de informações importantes para se entender essa disputa, essencialmente comercial.
A começar pelos números: o tal do bolo agora tem tamanho, absurdos US$ 7 bilhões. E, responsável pelo confeito, a TV entra com 47% desse valor graças a um acordo em que, acredite se quiser, a audiência das corridas (a grande desculpa de Mosley para o pacote) conta pouco, muito pouco.
Segundo reportagem do francês "Le Monde", a F-1 sai caro para as emissoras de TV não pela falta de público mas pelo sistema de cobrança criado por Ecclestone. Os atuais contratos, além de estarem antecipadamente pagos, têm valores calculados por aqueles índices de audiência global que a FIA publica todos os anos -50 e tantos bilhões de telespectadores, em que se conta tudo, até imagens veiculadas em uma simples reportagem. Dessa numeralha toda, a transmissão ao vivo, que caiu até na Alemanha neste ano, responde apenas por 10%.
Ainda que fosse imediato, o problema do dinheiro da TV é pinto perto do da divisão do bolo. Do total movimentado pela F-1, estima-se que as equipes e suas parceiras recebam uma fatia de no máximo 25%. O restante fica com o chefe, Ecclestone, que fez sua parte do bolo crescer geometricamente com uma infinidade de acordos de licenciamento e de promoção de GPs. E que o levaram a encampar até a geração de imagens das corridas.
Enquanto os times foram comandados exclusivamente por seus donos, a coisa andou, já que o dinheiro distribuído era farto. Quando as montadoras entraram no negócio, justamente em um momento de crise mundial, foi apenas questão de tempo para os executivos das empresas fazerem as contas e perceberem que poderiam ganhar muito mais, não fossem "os intermediários", como disse Montezemolo nesta semana (além de Ecclestone, os bancos que compraram parte da Slec).
Enfim, as marmeladas se tornaram, no final das contas, uma excelente desculpa para mudar as regras do jogo, ameaçar os grandes times e, principalmente, inibir a fúria das montadoras, que podem, se levadas a cabo as idéias da FIA, se tornar simples fornecedoras de material esportivo.
Uma cartada decisiva para o futuro de Mosley e para o bolso de Ecclestone. Mas também para o público: a F-1 é que está em jogo.

Quem dá mais?
Sempre onde o dinheiro está, Mosley e Ecclestone anunciaram em Xangai nesta semana o primeiro GP da China para 2004, ano em que estréia também o de Bahrein. E quem vai sair do calendário? Fala-se em Imola, Nurburgring e Zeltweg. O pau vai quebrar.

Outro Piquet
Nelsinho, filho do tricampeão, corre hoje em Jacarepaguá pelo título antecipado do Sul-Americano de F-3. Larga da pole, a 12ª em 13 etapas, domínio contestado pelos concorrentes, que denunciaram uma série de trapaças do herdeiro durante a temporada. Ignorando a polêmica, Piquet pai já vê Piquet filho no Inglês de F-3 no ano que vem -pelo menos escreveu isso na "Autosport".

Ferrari-Indy
O carro que a escuderia construiu ao ameaçar sair da F-1 nos anos 80 está no museu de Maranello. Nunca correu.

E-mail mariante@uol.com.br



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