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São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2003

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Promovido a manager no Cruzeiro, Wanderley Luxemburgo expurga seus problemas e conduz uma máquina de vitórias e de fazer dinheiro

Um homem de negócios

ALEC DUARTE
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE

EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL

Era tudo o que Wanderley Luxemburgo sonhava. Vinte anos depois de estrear como treinador de futebol, hoje ele possui a chave do cofre de um clubes mais poderosos -financeiramente e dentro do campo- do Brasil.
"No Cruzeiro, o Zezé [Perrella, superintendente de futebol] e o Alvimar [Perrella, presidente] acreditaram no meu potencial para contratar, observar e investir em jogadores", diz o treinador.
No clube mineiro, ao qual chegou em agosto de 2002, Luxemburgo foi enfim alçado à condição de manager. É ele quem determina como o dinheiro deve ser gasto no departamento de futebol.
Só agora, depois de duas experiências malsucedidas (no Corinthians, em 2001, e no Palmeiras, no ano seguinte), o treinador reconhece que está desempenhando plenamente a função.
"Aqui [no Cruzeiro] tem toda uma estrutura. No Corinthians, eu iria funcionar como um diretor de futebol e comandar a parte técnica no amador e no profissional. Só que, no amador, eu nunca consegui entrar", diz, insinuando que seu trabalho foi sabotado.
A combinação de profissional de futebol e homem de negócios deu tão certo que o contrato de Luxemburgo, que vencia em dezembro, foi prorrogado por mais 12 meses. Os motivos são evidentes. O Cruzeiro, que lidera com folga o primeiro Brasileiro de pontos corridos, também se transformou, subitamente, numa máquina de fazer dinheiro.
Levantamento da Teixeira e Advogados Associados, empresa de consultoria de Belo Horizonte, mostra que o clube já faturou, em 2003, mais do que 99% das 650 mil empresas mineiras.
Desde que assumiu o clube mineiro, Luxemburgo já negociou entrada e saída de 30 jogadores.
Pelas suas mãos chegou a maioria dos atletas que fizeram do Cruzeiro a melhor equipe do Nacional. As indicações custaram, ao todo, R$ 4 milhões.
Estrelas, como o meia Alex, e atletas menos badalados, como o zagueiro Edu Dracena, o lateral Maurinho e os atacantes Deivid e Aristizábal, foram escolhidos a dedo pelo técnico-gerente.
Antes mesmo do final do torneio, o clube praticamente recuperou em dobro o investimento: só as vendas do zagueiro Luisão (cedido ao Benfica) e do atacante Deivid (negociado com o Bordeaux) deixaram nos cofres cruzeirenses quase R$ 7 milhões.
"O Wanderley, nesse aspecto, é sensacional. Ele só pediu uma estrela, o Alex. Os outros, acreditou no potencial e nós contratamos. A margem de erro dele é muito pequena", diz Zezé Perrella, por meio de sua assessoria.
Mas a extensão do poder de Luxemburgo vai além da montagem da equipe e da definição do orçamento de seu departamento.
Ele chega a dar palpites em setores distantes do campo, como marketing. "Não dá para desprezar a experiência dele. Conversamos várias vezes, e ele sempre traz boas idéias", afirma Alessandro Marques, diretor-adjunto da área.
O sucesso na vida profissional representa, ainda, uma notável guinada para quem, em 2000, esteve no olho de um furacão.
Demitido da seleção, Luxemburgo ainda enfrentou acusações de recebimento de comissão por compra e venda de atletas e processo por falsidade ideológica (alterou documentos para jogar).
Foi condenado por sonegação fiscal. Tentou negociar pessoalmente a dívida com o então secretário da Receita, Everardo Maciel. O diálogo não lhe foi nada animador. "Pagando, tá bom", ouviu.
Luxemburgo escutou o conselho e parcelou seu débito, calculado em R$ 1,3 milhão. Limpar o nome ainda é seu maior negócio.



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