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São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2003

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FUTEBOL

Conta na Suíça

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um banco suíço tem salvo a Fifa recentemente. E a Fifa retribuiu tanta gentileza comprando um dos maiores terrenos desse banco nas últimas semanas.
Parece brincadeira, mas não é. Todos sabem do drama financeiro vivido pela Fifa na gestão do suíço Joseph Blatter. Falência da ISL, falência da Kirch e por aí vai. Seja com um aporte de US$ 420 milhões em 2001 que cobriu a Copa na Ásia ou com uma garantia de US$ 250 milhões no início deste ano que assegurou o Mundial de 2006, o Credit Suisse First Boston (CSFB) tirou Blatter e a Fifa do aperto em momentos cruciais.
Nas últimas horas, o Comitê Executivo da máxima entidade do futebol só ratificou a compra de um imóvel do Credit Suisse perto do zoológico (!) de Zurique.
A Fifa vai mudar de casa no ano que vem, quando celebra seu centenário. A tradicional sede em uma espécie de colina em Sonnenberg é passado. Blatter afirmou que novas instalações eram necessárias devido ao aumento do número de funcionários.
Em 1996, o presidente da Fifa era secretário-geral e coordenou a ampliação da sede em Sonnenberg (uma estalagem ao lado da sede foi adquirida na ocasião). ""Passamos de 16 para 46 funcionários em 20 anos", disse Blatter na época. Hoje, são cerca de 200 empregados. Daí já é possível saber quantas novas pessoas ele levou para sua "família", inchada especialmente pela criação forçosa da agência Fifa Marketing.
Michel Zen-Ruffinen, ex-secretário-geral de Blatter, foi sacado do cargo após fazer uma série de denúncias contra o chefe. Quem foi indicado para substituí-lo? Um economista que trabalhou por mais de 20 anos na cúpula do Credit Suisse, Urs Linsi. Ele mal completou um ano como efetivo no segundo posto mais importante da Fifa e deu sua ajuda na negociação com o seu ex-banco.
Se não há irregularidade na compra, que envolveu valores ainda não conhecidos, há ao menos questão ética a ser discutida.
Comunicado da Fifa destaca que a entidade sondou 30 locais, todos em Zurique e em suas cercanias, até escolher onde seria sua nova casa. O terreno do Credit Suisse, que conta com um belo prédio, teria sido o escolhido pelo seu tamanho, pela sua qualidade e por estar bem localizado. Além do centro de operações da Fifa, o local vai ter um campo de futebol (um centro esportivo e um restaurante que já funcionam na área seguirão abertos até março).
Blatter quer reunir sob um teto só empregados que estariam dispersos em seis escritórios diferentes. Beleza, mas o acerto com o Credit Suisse se deu antes de uma posição final do Comitê Executivo da Fifa. E autoridades de Zurique ainda não avalizaram juridicamente a compra do imóvel.
""Zurique é a casa da Fifa, e o meu desejo é aproveitar melhor as vantagens de sua localização", diz Blatter, orgulhoso da compra.
Definida essa negociação, agora é esperar para ver como será a venda da sede em Sonnenberg, um antigo hotel pomposamente restaurado não faz muito tempo.
Possuir conta na Suíça não é crime, mas isso dá status e também o que falar. A Fifa que o diga.

Conta errada
""Tenho 23 anos de Fifa, 16 como secretário-geral. Acho que já é suficiente", disse Blatter em abril de 94, expondo o desejo de sair da entidade, que, após mudança de estatuto, não deve se realizar até 2007.

Conta justa
A Fifa confirmou na quarta-feira que o Brasil receberá ajuda financeira da entidade por meio de seu Projeto Goal, conforme antecipou a coluna no dia 20 de julho. Estão na berlinda projetos em 25 países, que custarão cerca de US$ 10 milhões à Fifa. Quem libera a grana é Mohamed Bin Hammam, dirigente do Qatar que teria intermediado a compra de votos para Blatter na eleição para presidente da Fifa em 1998. O destino do dinheiro no Brasil passa por Ricardo Teixeira, presidente da CBF, que deve definir o que será feito com a verba.


E-mail rbueno@folhasp.com.br


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