São Paulo, terça-feira, 19 de outubro de 2004

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BASQUETE

Carona

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Vince Carter, principal jogador do Toronto, torceu o nariz para o novo gerente, Rob Babcock. Não se empolgou com o novo técnico, Sam Mitchell. Fez pouco do novo colega, o pivô brasileiro Baby. Daí chamou a imprensa, previu um novo ano de reveses e falou que ia embora.
Protegido por um contrato que lhe pagará US$ 58 milhões até 2008, o ala sentiu-se à vontade para bater o pé e chantagear: "Tenho o direito de buscar meu sucesso, de participar de um time de ponta. E não será um bom negócio o Toronto despender tanto dinheiro em um atleta infeliz".
A situação segue em impasse. Mas não importa aqui discutir o futuro do clube canadense -e sim constatar que não se fez outra coisa nestas férias da NBA.
O armador Baron Davis criticou a diretoria do New Orleans e requereu por escrito a transferência, lamentando a "falta de qualidade" dos companheiros reunidos para a próxima temporada.
O mesmo argumento (sic) bancou o protesto de Jason Kidd. Em entrevista coletiva, sem o menor pudor, o armador declarou que o New Jersey juntou um grupo "incapaz de competir pelo título" e que, por isso, não faz mais sentido que ele continue na equipe.
O ala Tracy McGrady, cestinha do campeonato passado e primo de Carter, mandou o recado direto no fígado. Ou era envolvido em um troca-troca com o emergente Houston ou deixaria o fraco Orlando chupando o dedo em 2005, tão logo expirasse seu contrato.
Outro gatilho rápido da liga norte-americana, Ray Allen preferiu dissimular o ultimato. Avisou que ficaria "com gosto" no Seattle, mas desde que os cartolas se dispusessem a assinar por mais de US$ 90 milhões por seis anos, valor que até o armador sabe que está acima do de mercado.
Em nome do imediatista "sonho de ser campeão", essas pseudo-estrelas não pensaram duas vezes antes de atirar no lixo os anos de identificação com a comunidade, de rasgar as promessas de sangue, suor e lágrimas que fizeram quando firmaram seus primeiros contratos zilionários.
Imagine se Michael Jordan, insatisfeito depois de cinco anos de derrotas e provações na NBA, tivesse chamado o chefe e exigido ser negociado para uma equipe mais forte. Provavelmente estaríamos todos em outro mundo. O craque não teria saído das quadras com seis títulos, você jamais teria ouvido falar no Chicago Bulls, eu não teria de encher semanalmente esta lingüiça.
Jordan não foi o primeiro nem o único a perseverar. Outros grandes nomes de sua geração, como Larry Bird e Isiah Thomas, como David Robinson e John Stockton, agüentaram as pontas em seus times na saúde e na doença.
Só é curioso verificar que o mais influente nome do esporte mundial não tenha conseguido passar adiante essa lição de coragem, de respeito ao torcedor.
Seus herdeiros também raspam a cabeça, penduram a língua, inventam acrobacias, capricham no terninho e fazem propaganda de tudo. Mas, percebe-se agora, têm receio de assumir o volante. Ao contrário do ídolo, preferem tocar a vida do banco de trás.

Troca-troca 1
Ao menos 130 jogadores mudaram de uniforme nesta pré-temporada, o equivalente a um terço da mão-de-obra da NBA, um recorde.

Troca-troca 2
Para quem tirou férias de NBA, segue o melhor das transações: Shaquille O'Neal (Miami, ex-LA Lakers), Kenyon Martin (Denver, ex-New Jersey), Steve Nash (Phoenix, ex-Dallas), Gary Payton (Boston, ex-Lakers), Antoine Walker (Atlanta, ex-Dallas), Lamar Odom (Lakers, ex-Miami), Jerry Stackhouse (Dallas, ex-Washington), Carlos Boozer (Utah, ex-Cleveland), Erick Dampier (Dallas, ex-Golden State), Antawn Jamison (Washington, ex-Dallas), Antonio McDyess (Detroit, ex-Phoenix), Jason Terry (Dallas, ex-Atlanta), Jamal Crawford (New York, ex-Chicago) e Mehmet Okur (Utah, ex-Detroit).

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