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BASQUETE
Carona
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Vince Carter, principal jogador do Toronto, torceu o
nariz para o novo gerente, Rob
Babcock. Não se empolgou com o
novo técnico, Sam Mitchell. Fez
pouco do novo colega, o pivô brasileiro Baby. Daí chamou a imprensa, previu um novo ano de
reveses e falou que ia embora.
Protegido por um contrato que
lhe pagará US$ 58 milhões até
2008, o ala sentiu-se à vontade
para bater o pé e chantagear: "Tenho o direito de buscar meu sucesso, de participar de um time de
ponta. E não será um bom negócio o Toronto despender tanto dinheiro em um atleta infeliz".
A situação segue em impasse.
Mas não importa aqui discutir o
futuro do clube canadense -e
sim constatar que não se fez outra
coisa nestas férias da NBA.
O armador Baron Davis criticou a diretoria do New Orleans e
requereu por escrito a transferência, lamentando a "falta de qualidade" dos companheiros reunidos para a próxima temporada.
O mesmo argumento (sic) bancou o protesto de Jason Kidd. Em
entrevista coletiva, sem o menor
pudor, o armador declarou que o
New Jersey juntou um grupo "incapaz de competir pelo título" e
que, por isso, não faz mais sentido
que ele continue na equipe.
O ala Tracy McGrady, cestinha
do campeonato passado e primo
de Carter, mandou o recado direto no fígado. Ou era envolvido em
um troca-troca com o emergente
Houston ou deixaria o fraco Orlando chupando o dedo em 2005,
tão logo expirasse seu contrato.
Outro gatilho rápido da liga
norte-americana, Ray Allen preferiu dissimular o ultimato. Avisou que ficaria "com gosto" no
Seattle, mas desde que os cartolas
se dispusessem a assinar por mais
de US$ 90 milhões por seis anos,
valor que até o armador sabe que
está acima do de mercado.
Em nome do imediatista "sonho de ser campeão", essas pseudo-estrelas não pensaram duas
vezes antes de atirar no lixo os
anos de identificação com a comunidade, de rasgar as promessas de sangue, suor e lágrimas que
fizeram quando firmaram seus
primeiros contratos zilionários.
Imagine se Michael Jordan, insatisfeito depois de cinco anos de
derrotas e provações na NBA, tivesse chamado o chefe e exigido
ser negociado para uma equipe
mais forte. Provavelmente estaríamos todos em outro mundo. O
craque não teria saído das quadras com seis títulos, você jamais
teria ouvido falar no Chicago
Bulls, eu não teria de encher semanalmente esta lingüiça.
Jordan não foi o primeiro nem o
único a perseverar. Outros grandes nomes de sua geração, como
Larry Bird e Isiah Thomas, como
David Robinson e John Stockton,
agüentaram as pontas em seus times na saúde e na doença.
Só é curioso verificar que o mais
influente nome do esporte mundial não tenha conseguido passar
adiante essa lição de coragem, de
respeito ao torcedor.
Seus herdeiros também raspam
a cabeça, penduram a língua, inventam acrobacias, capricham no
terninho e fazem propaganda de
tudo. Mas, percebe-se agora, têm
receio de assumir o volante. Ao
contrário do ídolo, preferem tocar
a vida do banco de trás.
Troca-troca 1
Ao menos 130 jogadores mudaram de uniforme nesta pré-temporada, o equivalente a um terço da mão-de-obra da NBA, um recorde.
Troca-troca 2
Para quem tirou férias de NBA, segue o melhor das transações: Shaquille O'Neal (Miami, ex-LA Lakers), Kenyon Martin (Denver, ex-New Jersey), Steve Nash (Phoenix, ex-Dallas), Gary Payton (Boston,
ex-Lakers), Antoine Walker (Atlanta, ex-Dallas), Lamar Odom (Lakers, ex-Miami), Jerry Stackhouse (Dallas, ex-Washington), Carlos
Boozer (Utah, ex-Cleveland), Erick Dampier (Dallas, ex-Golden State), Antawn Jamison (Washington, ex-Dallas), Antonio McDyess
(Detroit, ex-Phoenix), Jason Terry (Dallas, ex-Atlanta), Jamal Crawford (New York, ex-Chicago) e Mehmet Okur (Utah, ex-Detroit).
E-mail melk@uol.com.br
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