São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2008

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Sem a camisa 10, clássico sai em busca de heróis

Após saídas de Valdivia do Palmeiras e de Adriano do do São Paulo, equipes seguem sem um grande destaque

Numeração fixa dos clubes ajudou a ofuscar o brilho da camisa ilustre, mas técnicos apontam a falta de craques como problema mais grave

RENAN CACIOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Parque Antarctica assistirá, hoje, a um clássico diferente. Independentemente de quem for o seu herói, ele não trará o número 10 às costas.
Na prática, a explicação por essa ausência é a numeração fixa. É graças a ela que as camisas pertencentes anteriormente a Valdivia, de um lado, e Adriano, do outro, não sairão dos cabides dos vestiários. Antes de o Brasileiro começar, os clubes interessados em adotar a numeração padrão enviaram à CBF a lista dos atletas inscritos com seus respectivos números.
Por outro lado, o sumiço dos camisas 10 no duelo desta tarde remete à falta de craques. "As equipes estão dependendo muito do conjunto. Não há um melhor do que o outro", analisa o técnico Muricy Ramalho.
O caso do time do Morumbi ilustra bem o fato. Sem um grande camisa 10 desde 2000, quando Raí parou, a diretoria aproveitou a visibilidade trazida pelo contrato com Adriano, e deu ao atacante o número que, historicamente, é utilizado pelos meias cerebrais.
A estratégia deu certo. Em cinco meses, o Imperador "vendeu", segundo o clube, cerca de 44 mil camisas tricolores, uma média de 280 unidades por dia.
"No mundo todo, o camisa 10 geralmente representa um expoente técnico do time. Com certeza pode ser um atacante, mas nunca será um volante. O Pelé era um meia-atacante", opina Raí, o antigo dono do meio-campo são-paulino.
O retorno de Adriano à Inter de Milão "aposentou" o místico número no São Paulo. A exceção foi Sérgio Mota, que o adotou na Copa Sul-Americana.
O Palmeiras ainda experimentou o sucesso recente de Valdivia, que resgatou um pouco do encanto do autêntico camisa 10 -número herdado por Denílson na Sul-Americana, já que no Nacional ele é o 19.
Sem o chileno, a esperança da torcida palmeirense, hoje, está nos pés de um camisa 7. "As duas equipes têm jogadores que atuam nessa função. Se não fosse pela numeração fixa, jogariam outros [com a 10]", afirma o meia Diego Souza.
Na opinião de quem já vestiu a tradicional camisa, é justamente o ex-gremista quem deverá assumir o papel de principal organizador do time.
"O Diego tem feito bons jogos desde a saída do Valdivia. Vendo de longe, acho que ele pode ser esse jogador", diz Alex, ex-camisa 10 do Palmeiras, que jogou no clube entre 1997 e 2000.
Desde 2004 no Fenerbahce, da Turquia, Alex acredita que as equipes brasileiras sofrem pela falta de jogadores com essas características. "O camisa 10 que eu gosto no Brasil está na segunda divisão: é o Douglas [meia do Corinthians]", disse.
À sombra de Ademir da Guia, Pedro Rocha, Raí e Alex, o clássico de hoje está órfão. Caberá a outro atleta, "disfarçado" com outro número, fazer história.
"O talento ainda faz a diferença. Está tudo muito equilibrado porque não existem mais os grandes times. Mas o grande jogador ainda aparece", disse Vanderlei Luxemburgo.
"Não é porque os times não têm, hoje, os camisas 10, que não contam com grandes jogadores. Acho que será um belo jogo porque são duas ótimas equipes", disse Hugo, um "falso 10" no São Paulo que veste a 18.



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