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morumbi, 16h
São Paulo joga hoje pelo título e por seus goleiros
Para 70 mil, time busca fechar conquista do Brasileiro e
homenagear jovens reservas vítimas de tragédia em agosto
Acidente, que há três meses mexeu com espírito do grupo, transforma-se em arrancada fulminante para
inédita conquista em casa
Antônio Gaudério/Folha Imagem
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Recuperado de lesão, o goleiro e capitão são-paulino Rogério corre ao lado do reserva Bosco |
LUÍS FERRARI
TONI ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Há três meses, para encarar
uma missão quase impossível,
derrotar o Internacional em
Porto Alegre e levantar a Libertadores, o São Paulo recorreu a
um inusitado "doping psicológico". Dedicaria a conquista aos
goleiros Bruno e Weverson, envolvidos em grave acidente de
carro dias antes da decisão.
A coroa continental não veio.
E a homenagem aos jogadores -o primeiro, tetraplégico e
ainda internado, o segundo,
morto- enfim pode acontecer
hoje, diante do Atlético-PR, a
partir das 16h, no Morumbi.
Caso feche a rodada com
mais de seis pontos sobre o Inter, o São Paulo conquistará o
Brasileiro com duas rodadas de
antecedência, encerrando um
jejum de 15 anos no Nacional. A
missão é bem mais simples que
a do rival: a folga atual sobre os
gaúchos é de sete pontos.
A conquista será como o ponto final de um dramático capítulo na história do clube. Até
quem não entrou em campo no
Beira-Rio sentiu o impacto do
acidente dos goleiros.
É o caso do volante Josué. "É
muito duro olhar para onde
eles ficavam e agora saber que o
Bruno está no hospital e o Weverson faleceu. Isso abalou a
gente demais. E pesou na final
de Porto Alegre", conta ele.
O duro golpe virou ponto de
honra. Se a superação não veio
na Libertadores, nos dias que
se seguiram à tragédia, no Brasileiro ela não poderia escapar.
Para tanto, a equipe de Muricy Ramalho engatou uma seqüência de 19 partidas na qual
perdeu somente uma vez. Nessa série, em apenas dois jogos a
equipe não balançou as redes.
A boa produção ofensiva, responsável por 36 tentos no período, foi acompanhada de uma
defesa sólida -a última vez que
o time levou mais de um gol foi
no dia 24 de setembro. Nos últimos três jogos, não foi vazado.
Fora de campo, os goleiros
Bosco -que atuou nas últimas
duas partidas- e Rogério, que
treinavam com Bruno e Weverson diariamente, lideraram o
movimento de apoio aos acidentados e seus parentes.
A perda dos atletas continua
latente. O zagueiro Alex Silva,
companheiro dos dois no CT da
Barra Funda, narra que, por
pouco, não estava no carro no
acidente de 11 de agosto na Régis Bittencourt.
"Morava com eles no CT e
éramos muito amigos. Eles me
convidaram para sair no dia do
acidente. Por Deus eu não fui.
Quando soube, chorei muito",
diz o defensor, um dos muitos
atletas que prometem alguma
homenagem aos arqueiros se o
título for confirmado hoje.
Assim como o zagueiro recém-promovido das categorias
de base, o tarimbado lateral-esquerdo Júnior também afirma
ter se abalado bastante com o
episódio. "Mesmo eu, um dos
mais velhos do grupo, chorei
bastante. Foi um choque."
Os jogadores avaliam que o
acidente afetou também Rogério, o capitão e líder do time,
que considerava os reservas como seus discípulos. Num treino
neste ano, o camisa 1 recebeu as
visitas de suas filhas gêmeas no
gramado. Ele estava sentado no
centro de um dos campos do
CT, ao lado de Weverson, a
quem uma das garotas chamou
de "estranho". "Ele não é estranho", respondeu Rogério à menina, "é um grande amigo do
papai", falou, aludindo ao goleiro de 19 anos a quem autorizava
raras liberdades.
Uma delas foi convidá-lo para dividir o quarto na concentração, depois de saber que Weverson teria de dormir no chão
de um dos quartos do CT. Rogério tem um quarto exclusivo e,
quando foi com a seleção para a
Copa, o deixou aos cuidados do
jovem goleiro, que, como o ídolo, batia faltas e se destacava ao
pegar pênaltis. Imitava Rogério
também nos detalhes -até o
chaveiro do carro era igual.
Detalhes de uma convivência
que virou tragédia que virou
promessa frustrada que virou
nova investida e que hoje, enfim, deve fazer o time alcançar
seu quarto título nacional, o
primeiro desde 1991, o primeiro no Morumbi, que até hoje só
viu forasteiros darem volta
olímpica por Brasileiros.
Uma homenagem feita apenas pelos jogadores, já que a diretoria são-paulina avalia que a
lembrança traria tristeza num
momento de alegria.
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