São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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Família de goleiro morto cobra gratidão do clube

Pai de Weverson diz que apenas elenco ofereceu auxílio após morte do atleta

Inconformados por terem recebido R$ 2.000 pela rescisão do contrato com multa de US$ 10 milhões, familiares querem FGTS

DA REPORTAGEM LOCAL

Especial e diferenciado é o elenco do São Paulo; o clube é tão insensível como qualquer outro do futebol brasileiro.
A análise é de Marcos Cícero Saffiotti, 41. Ele é o pai de Weverson, goleiro do São Paulo morto aos 19 anos em um acidente de carro às vésperas da final da Libertadores e que será lembrado pelos atletas caso o título seja conquistado hoje.
Dos atletas, a família recebeu dinheiro e cartas de solidariedade. Do clube, o financiamento do enterro, uma cesta básica e ajuda de R$ 500.
"No dia do enterro, o São Paulo mandou do presidente à cozinheira que serviu a última refeição do Weverson no CT. Mas, depois, eles nos esqueceram. Podiam ter feito como o São Caetano fez com o Serginho, por exemplo, honrando o contrato dele até o fim."
Desempregado há anos, se queixa de não ter recebido auxílio jurídico do clube para transferir para si os compromissos financeiros de Weverson, única fonte de renda perene da família. "Corri atrás da papelada sozinho. Nem cópias dos documentos o clube fez", narra, aos prantos.
"O problema maior nem é o dinheiro, mas a falta de gratidão. Eles pagaram só os dias que ele trabalhou em agosto. O FGTS nós nunca recebemos", diz ele, que mantém o armário de Weverson intacto, com camisas, luvas e até cuecas.
Na hora de falar dos atletas, principalmente de Rogério, ídolo de Weverson, porém, o semblante fica menos tenso. "Eles fizeram uma vaquinha. Muitos mandaram cheques. Meu filho era muito querido, principalmente pelo Rogério, uma espécie de tutor dele. Acho que a falha na final da Libertadores foi influenciada pela morte do Weverson."
O diretor de futebol do São Paulo, João Paulo Jesus Lopes, ficou surpreso com as declarações. "Foi oferecido um emprego ao pai do jogador, mas ele recusou. Disse que o interesse dele seria um táxi. Os jogadores se cotizaram para dar um Santana, mas então ele preferiu o dinheiro, que depois recebeu."
Lopes disse entender a dor dos pais pela perda, mas falou que o clube não deixou ninguém abandonado. "Fizemos supermercado para eles. E não foi só uma vez. Com o Bruno -o outro goleiro que segue hospitalizado vítima do acidente- o clube já gastou R$ 400 mil em despesas médicas e hospitalares. E não nos queixamos", concluiu.
(LUÍS FERRARI E TONI ASSIS)


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