São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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EUA mordem e assopram o Pan

Cartola diz que país gosta do torneio, mas vigia projeto de segurança e não manda atletas top ao Rio

Comandante do comitê olímpico, Jim Scherr conta que americanos fariam o evento sem verba pública, diferentemente do Brasil

GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os EUA confiam no projeto de segurança do Pan-Americano, mas elegeram um representante para ficar de olho nos brasileiros que cuidam do setor. Os EUA acreditam que o Rio vai organizar um campeonato inesquecível. Só que, caso fossem os anfitriões, fariam tudo diferente, sem retirar um centavo dos cofres públicos. Os EUA acham o evento importantíssimo para seus atletas. Não pretendem, porém, enviar os principais astros para a competição de 2007. As opiniões de Jim Scherr parecem contraditórias, às vezes inconclusivas. Afinal, o que o dirigente máximo do esporte americano pensa do Pan? Na primeira entrevista que concedeu para falar da competição, Scherr, um ex-praticante de luta livre que assumiu o Comitê Olímpico dos EUA em 2003, não elucidou tal questão. Diplomático, como todos os cartolas do Movimento Olímpico, evitou criticar duramente seu colega Carlos Arthur Nuzman, que chefia o Co-Rio, comitê organizador do Rio-2007. Em vários momentos da conversa com a Folha, todavia, deixou claras as diferenças que tem com os brasileiros em temas como a gestão dos recursos para esporte. Mostrou, além disso, que seu país não será apenas espectador em temas que envolvem o bem-estar dos esportistas. E deu pistas de como deve ser montada a equipe dos EUA que vai competir no Rio em julho do próximo ano.

 

FOLHA - O governo brasileiro é o grande financiador do Pan. Caso os EUA recebessem o torneio, haveria aporte de recursos públicos?
JIM SCHERR
- Não. Não usamos dinheiro público. Nos EUA, para se organizar uma Olimpíada ou um Pan-Americano, só levamos em conta verbas da iniciativa privada. O governo, aqui, não investe diretamente nesses eventos, não financia o nosso comitê olímpico nem atletas que competem no Pan ou na Olimpíada. Não posso dizer se o Brasil está certo ou errado. Nós fazemos de uma forma diferente. Cada país é único. O que funciona para um pode não funcionar para outro.

FOLHA - O Pan é um torneio importante para os EUA ou apenas mais um compromisso sem valor no calendário esportivo?
SCHERR
- Eu competi no Pan de 1987 [em Indianápolis, EUA] e tenho uma ótima imagem da competição. Acredito que seja uma grande oportunidade para duelarmos com nossos vizinhos e amigos nas Américas. Também é uma chance especial para treinarmos nossos atletas para a Olimpíada de Pequim, que ocorre em 2008.

FOLHA - Que tipo de atletas, então, os EUA pretendem mandar para o Rio? Os melhores em atividade ou as jovens revelações?
SCHERR
- Nós enviaremos uma excelente delegação, pode ter certeza. É claro que, para muitos esportes, há conflitos nos calendários, provas mais importantes que o Pan, como os Mundiais. Nesses casos, não teremos nossos times principais. Mas mandaremos talentos que podem despontar no futuro. Por enquanto, não posso dizer quem vai e quem não vai.

FOLHA - Você conhece o projeto de segurança que os governantes brasileiros criaram para os Jogos?
SCHERR
- Sim. E nós vamos trabalhar junto com as autoridades brasileiras na questão da segurança. Temos confiança que os organizadores podem assegurar o bem-estar de atletas de todos os países.

FOLHA - O senhor acaba de dizer que vai trabalhar junto com o Brasil. Há algum norte-americano acompanhando as ações brasileiras nessa área? Se sim, por quê?
SCHERR
- O chefe de segurança do Comitê Olímpico dos EUA tem encontrado autoridades brasileiras. Fazemos isso porque queremos manter um diálogo constante em questões relativas à segurança e ao bem-estar de nossos competidores. Tratam-se de temas importantes, que requerem muita atenção de nossa parte.

FOLHA - Alegando questões de segurança, os EUA já chegaram a hospedar atletas fora da Vila Pan-Americana em edições passadas. Agora, no Rio, qual é o plano visando 2007? Os norte-americanos vão ficar hospedados no mesmo local que os outros esportistas?
SCHERR
- A Vila é sempre o local mais seguro. Entretanto, a decisão de hospedar os atletas também obedece a critérios de performance. O esportista precisa ficar no melhor lugar, na melhor localização, para que esteja 100% preparado na hora de competir. Por isso, alguns de nossos times podem ficar em locais diferentes. Isso será definido em um futuro próximo.

FOLHA - Várias obras do Pan-Americano estão atrasadas. Notícias referentes a problemas na organização chegam aos EUA?
SCHERR
- O que nós sabemos é o que pudemos ver nos momentos em que nossos representantes estiveram no Rio, visitando oficialmente locais selecionados pela organização. Eles relataram que tudo caminha bem e que o Brasil fará o melhor Pan de todos os tempos.


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