São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

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XICO SÁ

Dezesseis e setecentos!


Enquanto a CBF insiste em ignorar o que se passou no futebol nacional antes de 1971, sou LDU desde pequeno

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, encontrei nesta semana o Lugones, na Mercearia São Pedro, taberna do portunhol e da psicanálise selvagens, e ele, bom hermano argentino, torcedor do San Lorenzo, "el cuervo", bravíssimo, ficou maluco quando falei que Pelé, segundo as regras da CBF, não era campeão brasileiro. Como assim?
"Qué pasa?", berrou o chico, já um tanto borracho e com todas as interrogações de ponta-cabeça. E olhe que o hermano é um daqueles malucos que insistem que Maradona é melhor que o genial negão do Peixe.
Tempos atrás, em peleja etílica e ludopédica com Jonathan, outro amigo estrangeiro, escocês legítimo, daqueles que bebem e sobem na mesa para discursar, deu-se o mesmo espanto. É mesmo um assombro que o país pentacampeão do mundo conte seus campeões nacionais só de 1971 para a frente. Aí é que nos deparamos com o absurdo: Pelé, a tomar como idéia o ranking da CBF, com quem a maioria dos jornalistas esportivos concorda, nunca ganhou um Nacional por estas plagas.
Diante da contagem da CBF, só me lembro da música de Luiz Gonzaga: "Mas se eu lhe dei vinte mil réis/ Pra pagar três e trezentos/ Você tem que me voltar/ Dezesseis e setecentos!/ Mas dezesseis e setecentos?/ Dezesseis e setecentos! Por que dezesseis e setecentos?/ Dezesseis e setecentos!..."
Só a gloriosa entidade e a mídia não enxergam o óbvio, assim como o personagem que teima com a matemática no clássico gonzagueano.
É, amigo, o Brasil ignorou tudo o que ocorreu antes de 1971, como se Almir, o Pernambuquinho, Garrincha e Jairzinho não tivessem existido. Eis o AI-5 ludopédico. E que se danem vocês, bando de nostálgicos.
É complô contra a memória do futebol, como escreveu, em artigo no Observatório da Imprensa, Antonio Carlos Teixeira. Um desrespeito às torcidas de Santos, Botafogo, Fluminense, Bahia, Cruzeiro e Palmeiras.
Mesmo nos rankings supostamente mais honestos, caso desta Folha, tudo o que foi ganho antes da década de 70 vale menos.
Aqui se leva mais a sério a finada Copa Toyota, que não passava de Desafio ao Galo com direito a jipão para o nome do jogo, do que todos os Nacionais antes de 1971.
Por essas e outras é que é bonito ver a imprensa inglesa e a torcida do Manchester revoltados com a ida do time ao Japão para disputar o tal de Mundial de Clubes -e olhe que esse torneio natalino até que tem um modelo menos picareta.
Eu sou LDU e estou com Bolaños desde pequeno. Para o futebol do Equador, é a glória, não para nós.
Mais vale meio Paulista do que os jipes da terra do sol nascente. Nem o Jeca Tatu, genial criação do Lobato, era tão provinciano e cedia tanto respeito a eventos globalizados.

Copa das minas
Com zilhões de neurônios a mais que nós e beleza de sereias da Baixada, as meninas do Santos foram campeãs da Copa do Brasil na última quarta. O Sport, campeão da versão macho, ficou com o vice.
O Peixe tem ganhado tudo nas divisões de base. Se não anda nada bem com os marmanjos, faz festa com os garotos e as mulheres.
Quem ama mulheres e protege meninos tem sempre um belo futuro!

xico.folha@uol.com.br


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