São Paulo, domingo, 19 de dezembro de 2010

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TOSTÃO

A festa já aconteceu


A unificação dos títulos não aumenta os méritos de quem foi campeão antes de 1971


JOSÉ TRAJANO, mestre do jornalismo esportivo e da cidadania, gosta de brincar ao dizer que o Tostão de hoje é um impostor, que finge ser o ex-jogador. Para Trajano, com humor, o Tostão atual não tem cara, jeito nem comportamento de um campeão do mundo, além de não lembrar de alguns fatos da carreira do atleta Tostão.
Confesso que sou distraído e que não tenho o hábito de falar sobre minha carreira de atleta nem de ir a festas relacionadas a esse passado.
Não tenho também costume de guardar fotos, reportagens e de colocar troféus na sala de minha casa. Tudo está em minha memória, com orgulho e carinho.
Entre 1973 e 1994, me dediquei integralmente à medicina. Minhas lembranças do futebol dessa época são somente as mais importantes, como as Copas do Mundo, a conquista da Libertadores pelo Cruzeiro em 1976 e outras.
Hoje, como tenho a obrigação de ser imparcial, tento descolar o presente do passado, apesar de utilizar em minhas análises muitos fatos que vi e vivi no futebol. É impossível não relacionar o presente com nossa memória histórica e afetiva.
Na semana passada, me perguntaram muito sobre a unificação dos títulos nacionais antes de 1971, da Taça Brasil e do Robertão (Taça de Prata), com o Brasileiro. Não dou a essa mudança nenhuma importância. Sinto-me campeão do Brasil desde 1966, quando o Cruzeiro ganhou a Taça Brasil, já que era o mais importante título nacional. Só vai mudar o nome.
Vivemos em um mundo simbólico, com preocupação excessiva em dar nomes a tudo. O símbolo representa a coisa, mas nenhum símbolo é capaz de explicar a essência da coisa. "O que saberás de mim é a sombra da flecha que atinge o alvo." (Clarice Lispector)
A unificação dos títulos não aumenta os méritos de quem foi campeão da Taça Brasil e do Robertão. Não serei mais reconhecido por me tornar também artilheiro do Campeonato Brasileiro, já que fui o maior goleador do Robertão de 1970, com 12 gols.
Não é necessário ainda juntar todas essas competições para se contar corretamente a história. Pelo contrário, as histórias são diferentes. Cada uma teve seu charme.
Se o Cruzeiro dá muito mais importância em ter dois títulos do Brasileiro, em vez de um e outro da Taça Brasil, o clube tem todo o direito e razão em comemorar.
Em 1966, eu já festejei bastante como campeão do Brasil. Está tudo muito bem cuidado e guardado em minha memória. Não preciso ir a outra festa.


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