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Estudo da Uefa aponta um rombo de US$ 7,78 bilhões e revela que clubes de Itália, Inglaterra, Alemanha, Espanha e França operam com as contas no vermelho
Futebol europeu afunda e deve mais de 150 Ronaldos
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Tido até há pouco tempo como
exemplo a ser seguido pelo futebol brasileiro, o futebol europeu
passa por seu inferno astral.
Estudo preparado pela União
Européia de Futebol mostra que a
soma das dívidas dos clubes das
cinco principais ligas do continente chega a US$ 7,78 bilhões
-156 vezes o que o Real Madrid
desembolsou para ter Ronaldo.
Alemães, espanhóis, franceses,
ingleses e italianos estão no vermelho. A situação é pior no caso
da Itália, onde só para o governo
federal a soma das dívidas dos times da primeira divisão ultrapassa os US$ 600 milhões.
No Brasil, a estimativa do Clube
dos 13, entidade que reúne 20 dos
principais times do país, é que a
dívida do futebol com o Instituto
Nacional do Seguro Social é de
cerca de US$ 150 milhões.
No início da temporada 2002/
2003, o endividamento acumulado de todos os clubes da Itália, de
acordo com os dados da Uefa,
chegava a US$ 2,29 bilhões. No
mês passado, quando foi feito o
estudo, ela já atingia os US$ 3,21
bilhões, já que apenas um time
-a Juventus- lucrou em 2003.
Devido à crise do setor, o governo italiano já admite a adoção de
medidas para ajudar os clubes de
futebol. ""Vamos ver, estamos discutindo [a questão]", disse ontem
o premiê Silvio Berlusconi, ele
mesmo proprietário de um dos times da Série A italiana, o Milan,
que tem dívidas estimadas em
US$ 150 milhões.
O premiê enfrenta, no entanto,
oposição na iniciativa dentro do
próprio governo, já que foram
comprovadas manipulações de
balanços em 7 das 18 equipes da
primeira divisão do Italiano.
Elas sofreram devassa das autoridades locais depois dos escândalos financeiros dos grupos Cirio, ex-controlador da Lazio, e
Parmalat, que possuía mais de
95% das ações do Parma.
""Nos anos 90, o futebol europeu
teve uma grande expansão, mas o
que houve foi uma bolha, como a
da internet. Os clubes receberam
uma enorme ingestão de recursos, especialmente da TV, mas
não souberam administrá-los da
forma correta e saíram gastando
mais do que deviam", disse Patrick Foer, um dos consultores de
marketing contratados pela Uefa.
Para ele, um dos principais problemas deu-se com a folha salarial. ""Na maioria dos clubes analisados, não só no mercado italiano, mas também na Espanha, na
Inglaterra, na Alemanha e na
França, os salários cresceram
mais do que as receitas. Enquanto
elas aumentavam no máximo
10% por ano, o que já é muito, encontramos casos em que a folha
de pagamentos chegava a crescer
até 80% de um ano para o outro."
Na Alemanha, onde os clubes
deviam, em conjunto, US$ 109
milhões em 2000, o débito do futebol passou para US$ 920 milhões no início do ano.
A crise começou com a quebra
da ISL, gigante de marketing esportivo que foi parceira da Fifa
desde os anos 70 e detinha parte
dos direitos de transmissão das
Copas de 2002 e 2006. Em 2001,
parte de sua massa falida foi para
o grupo Kirch, da Alemanha, que
passou a ter, sozinho, os direitos
de TV dos dois Mundiais.
Só que, com problemas financeiros, o grupo de mídia não conseguiu vender os direitos como
esperava -o continente africano,
por exemplo, exceção feita à África do Sul, recebeu-os de graça- e
também foi à bancarrota.
A Bundesliga, responsável pelo
torneio alemão, sofreu prejuízos
com a crise do grupo Kirch, e as
receitas dos clubes foram reduzidas. Só as ações do Borussia Dortmund caíram 39% entre 2001 e
2002, quando os direitos de TV na
Alemanha foram renegociados.
Segundo o consultor de gestão
Luiz Augusto Veloso, para tentar
sair do buraco o Borussia passou
a negociar com um fundo de investimentos londrino empréstimo emergencial de US$ 123,5 milhões -a ser pago em 12 anos
com uma porcentagem da renda
de seus jogos em casa.
Além disso, o clube acertou com
seus jogadores uma redução salarial de 20%, aproveitando parte
da economia com a folha para
formar um fundo para premiação
em futuras competições.
É uma saída que, segundo Veloso, que é ex-presidente do Flamengo, poderia ser estudada pelos dirigentes. ""Quando você analisa os orçamentos dos clubes brasileiros, a primeira coisa que vai
ver é que o fator salário tem um
peso incompatível com as receitas
que eles têm. Você não pode mais
dolarizar os salários dos atletas."
"O mercado de trabalho do futebol é globalizado, e Brasil e Argentina fornecem os maiores craques. É ilusão pensar que no auge
da carreira deles vamos conseguir
segurá-los aqui", concluiu.
Com agências internacionais
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