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MOTOR
E agora?
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Parece até de propósito. Na
semana em que somos bombardeados com meia hora de Senna por dia, ficamos sabendo que a
Ferrari deu alforria a Barrichello.
Até Indianápolis, ou por meia
temporada, os dois companheiros
são também adversários.
Por meia temporada, brincaremos de torcer. Se a brincadeira será divertida ou não, isso está nas
mãos de Barrichello, uma tremenda responsabilidade. Saberemos então se ele é o que acredita
ser. E ele acredita que é muito.
Não duvido de Barrichello nem
de quem aposta em seu talento.
Percebo apenas um certo exagero
nas atitudes e nos discursos, uma
premência por se justificar mesmo quando não há necessidade.
Por exemplo, o melhor piloto
brasileiro da atualidade passou
os últimos anos tentando dizer
que não deveria ser o segundo.
Creio que seria bem mais fácil para ele afirmar, com todas as letras, em cada entrevista, que era o
segundo. Schumacher é mais rápido? "Sou o segundo." Seu carro
é diferente do dele? "Não, é que
sou o segundo." Você deixou ele
passar? "Eu sou o segundo, entendeu ou preciso repetir?"
Tivesse feito isso, evitado misturar a discussão de seu status na
Ferrari com a sua capacidade,
Barrichello poderia ter dito em
Sepang um simples e desafiador
"não sou mais o segundo". Bem
melhor do que o velho e surrado
"acredito que posso bater Schumacher", mantra que repetiu desde que entrou na equipe e que,
diante dos fatos, caiu no vazio.
Barrichello tem seus motivos.
Assumiu um papel que não deveria ser seu, pelo menos naquele
momento. Sem Senna, a F-1 no
Brasil era um paciente desenganado. E muita gente que ganhava
dinheiro com a categoria por aqui
encontrou no então jovem piloto
da Jordan um placebo, uma forma de manter a coisa andando,
mesmo que em outro patamar.
Barrichello seria apenas vítima
dessa extorsão, mas se deixou seduzir pela soberba. Tratado como
estrela sem ser, só percebeu que
não era uma quando tombou e
por pouco não foi parar no asilo
da Indy. Fato raro na F-1, foi capaz de se levantar e chegou ao sonho de ser um piloto Ferrari.
Só que, com o carro vermelho,
voltaram os venais, que deixaram
mais uma vez Barrichello entre a
realidade, a óbvia missão de escudeiro, e o delírio, imaginar que ele
pudesse se impor a uma estrutura
de centenas de milhões dólares
montada exclusivamente para o
alemão. Na qual, provou o tempo,
era mais uma das engrenagens.
O novo macacão não lhe tirou o
orgulho, característico de sua personalidade, mas deixou as coisas
muito mais difíceis. Barrichello se
viu dividido entre satisfazer seu
público ou a Ferrari. Raros foram
os momentos em que conseguiu
cumprir as duas funções, jogar o
ridículo da situação a seu favor. E
muito foram os momentos em
que ele é que caiu no ridículo.
Tudo isso mudou agora. Por
força das circunstâncias -ainda
não está claro o porquê da mudança ferrarista-, Barrichello
pela segunda vez em sua carreira
dá a volta por cima. Com a fundamental diferença de que, pela
primeira vez, ele tem a perspectiva, tênue ou não, de ser campeão.
Começou
Se a Williams, em silêncio, fechou as portas para a indústria de cigarro, a Ford foi bem mais longe nesta semana. Richard Parry-Jones, vice-presidente da montadora americana, afirmou ser contra a permanência do cigarro na F-1, mesmo que a base de corridas seja fora da
Europa, onde a legislação é mais branda. "A Ford e outras empresas
não querem estar ligadas a um esporte que precisa do cigarro para se
manter financeiramente saudável", disse o executivo. 2006 está aí.
Faça chuva, faça sol
O segredo da temporada está nos pneus ou na superioridade da Ferrari, confirmada pela liberação de Barrichello? O GP da Malásia pode
dar um desenho do Mundial. Ontem, uma diferença de apenas quatro graus na temperatura do asfalto foi suficiente para a Michelin.
E-mail mariante@uol.com.br
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