São Paulo, sábado, 20 de março de 2004

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FUTEBOL

Futebol pra quê?

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Em carta publicada anteontem no "Painel do Leitor" da Folha, Luiz Augusto Módolo de Paula, de São José dos Campos (SP), escreveu o seguinte: "Triste povo o brasileiro, que foi educado (ou não...) para achar que os problemas de sua vida se resumem ao futebol. É um lamentável desperdício de energia e tempo pessoas darem-se ao luxo de um dia inteiro num aeroporto, sem trabalhar, para jogar ovos nos outros, em vez de parar por uma hora para pensar em como resolver seus problemas reais. E talvez chegar à conclusão de que os protestos deveriam se dirigir àquelas pessoas que os deixaram sem emprego, escola e segurança".
Trata-se, de certo modo, de uma argumentação irrespondível. Como negar que o futebol é algo fútil quando comparado a questões dramáticas como o desemprego, a falta de escola ou a violência?
Como vibrar e chorar com uma partida, mesmo que seja a decisão de um campeonato, quando centenas de pessoas são mortas em poucos minutos por um punhado de bombas e milhões de outras chafurdam na miséria e na ignorância?
Não é a primeira vez que o futebol sofre uma crítica desse tipo. De tempos em tempos, surgem invectivas semelhantes que, por um lado, ecoam a velha idéia do "futebol como alienação", mas por outro nos obrigam a pensar um pouco na questão essencial: afinal, para que serve o futebol?
Antes de esboçar uma resposta, cabe uma observação: os energúmenos que agrediram os atletas do Corinthians no aeroporto não representam a maioria dos torcedores de futebol. Seu comportamento não pode ser tomado como exemplo de paixão pelo esporte, mas sim como sintoma de desorientação e ausência de valores.
Dito isso, voltemos à questão central: futebol pra quê?
Devo dizer inicialmente que, até os 20 anos de idade, essa pergunta nunca me ocorreu.
O futebol até então sempre me parecera um fato da vida, uma coisa "eterna como a água e o ar", para citar um verso de Jorge Luís Borges a respeito de Buenos Aires.
Desde que a pergunta passou a me acossar, tenho lido muitas explicações sobre a importância do futebol. Sublimação de impulsos agressivos, prática simbólica de socialização, teatralização da vida social etc.
O ator Lima Duarte gosta de citar uma linda crônica de Carlos Drummond de Andrade que exalta o futebol como encenação altamente abstrata (e portanto civilizada) da guerra. Em vez da cabeça do inimigo numa estaca, a vitória é estabelecida por uma geometria simples, uma esfera que passa por uma linha.
No seu ponto ideal de realização, o futebol é uma atividade sublime, que funde a destreza mental e a perícia física. Algo como a combinação entre o xadrez e a dança. Algo que nos humaniza, em suma.
No mundo real do cotidiano, cheio de sujeira e ruído, esse estado ideal é raramente alcançado. Mas isso não nos impede de reacender a esperança a cada pontapé inicial.

Favoritos em SP
Num mata-mata em confrontos únicos tudo pode acontecer, mas, se eu tivesse que apostar, jogaria minhas fichas em Santos, São Paulo, Paulista e Palmeiras como prováveis semifinalistas. Depois disso, não digo mais nada.

Vaga solitária
No Estadual do Rio, o clássico da rodada é Vasco x Flamengo, no Maracanã, porém as atenções estarão voltadas para Moça Bonita, onde jogam Fluminense e Americano, e para Campos, onde se enfrentam Madureira e Botafogo. Se o Fluminense e o Botafogo vencerem, o clube da estrela solitária tirará a última vaga nas semifinais do time do coração do famigerado Caixa d'Água, presidente da Federação do Rio. Vale torcer?


E-mail jgcouto@uol.com.br


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