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FUTEBOL
Futebol pra quê?
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Em carta publicada anteontem no "Painel do Leitor" da
Folha, Luiz Augusto Módolo de
Paula, de São José dos Campos
(SP), escreveu o seguinte: "Triste
povo o brasileiro, que foi educado
(ou não...) para achar que os problemas de sua vida se resumem ao
futebol. É um lamentável desperdício de energia e tempo pessoas
darem-se ao luxo de um dia inteiro num aeroporto, sem trabalhar,
para jogar ovos nos outros, em vez
de parar por uma hora para pensar em como resolver seus problemas reais. E talvez chegar à conclusão de que os protestos deveriam se dirigir àquelas pessoas
que os deixaram sem emprego, escola e segurança".
Trata-se, de certo modo, de uma
argumentação irrespondível. Como negar que o futebol é algo fútil
quando comparado a questões
dramáticas como o desemprego, a
falta de escola ou a violência?
Como vibrar e chorar com uma
partida, mesmo que seja a decisão
de um campeonato, quando centenas de pessoas são mortas em
poucos minutos por um punhado
de bombas e milhões de outras
chafurdam na miséria e na ignorância?
Não é a primeira vez que o futebol sofre uma crítica desse tipo. De
tempos em tempos, surgem invectivas semelhantes que, por um lado, ecoam a velha idéia do "futebol como alienação", mas por outro nos obrigam a pensar um pouco na questão essencial: afinal,
para que serve o futebol?
Antes de esboçar uma resposta,
cabe uma observação: os energúmenos que agrediram os atletas
do Corinthians no aeroporto não
representam a maioria dos torcedores de futebol. Seu comportamento não pode ser tomado como
exemplo de paixão pelo esporte,
mas sim como sintoma de desorientação e ausência de valores.
Dito isso, voltemos à questão
central: futebol pra quê?
Devo dizer inicialmente que, até
os 20 anos de idade, essa pergunta
nunca me ocorreu.
O futebol até então sempre me
parecera um fato da vida, uma
coisa "eterna como a água e o ar",
para citar um verso de Jorge Luís
Borges a respeito de Buenos Aires.
Desde que a pergunta passou a
me acossar, tenho lido muitas explicações sobre a importância do
futebol. Sublimação de impulsos
agressivos, prática simbólica de
socialização, teatralização da vida social etc.
O ator Lima Duarte gosta de citar uma linda crônica de Carlos
Drummond de Andrade que exalta o futebol como encenação altamente abstrata (e portanto civilizada) da guerra. Em vez da cabeça do inimigo numa estaca, a vitória é estabelecida por uma geometria simples, uma esfera que
passa por uma linha.
No seu ponto ideal de realização, o futebol é uma atividade sublime, que funde a destreza mental e a perícia física. Algo como a
combinação entre o xadrez e a
dança. Algo que nos humaniza,
em suma.
No mundo real do cotidiano,
cheio de sujeira e ruído, esse estado ideal é raramente alcançado.
Mas isso não nos impede de reacender a esperança a cada pontapé inicial.
Favoritos em SP
Num mata-mata em confrontos únicos tudo pode acontecer,
mas, se eu tivesse que apostar,
jogaria minhas fichas em Santos, São Paulo, Paulista e Palmeiras como prováveis semifinalistas. Depois disso, não digo
mais nada.
Vaga solitária
No Estadual do Rio, o clássico
da rodada é Vasco x Flamengo,
no Maracanã, porém as atenções estarão voltadas para Moça Bonita, onde jogam Fluminense e Americano, e para
Campos, onde se enfrentam
Madureira e Botafogo. Se o Fluminense e o Botafogo vencerem, o clube da estrela solitária
tirará a última vaga nas semifinais do time do coração do famigerado Caixa d'Água, presidente da Federação do Rio. Vale torcer?
E-mail jgcouto@uol.com.br
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