São Paulo, domingo, 20 de março de 2011

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TOSTÃO

Livre, sem amarras


Para ser um grande craque, não basta ter somente uma técnica excepcional


ASSIM COMO existem na vida momentos especiais, que marcam nossa existência, alguns poucos lances no futebol, brilhantes e decisivos, eternizam a história de um grande craque e de um grande time. O restante é rotina, repetição, passagem.
A espetacular cena final do filme "Cisne Negro", em que a bailarina, vivida pela atriz Natalie Portman, dança, incorporada, possuída pela história, acompanhada de uma belíssima e emocionante música, vale por mil ingressos.
É bonito também o momento em que o exigente professor diz à bailarina, obcecada pela perfeição, que não basta ter uma grande técnica e que ela, para atingir a perfeição, precisa se libertar das amarras e da técnica perfeita. Só assim, sem rígidas regras, ela pode voar, livre, como um pássaro.
Os grandes craques não são os que têm somente excepcional técnica. São os que transgridem, vão além, e que, no momento certo, executam lances surpreendentes e decisivos.
Alguns ótimos jogadores chegam perto, mas não conseguem dar o pulo do gato. Isso não se ensina nem tem explicação.
Os jogadores, grandes craques ou não, precisam também encontrar seu jeito de jogar. Cada um tem o seu. Uma das principais funções do técnico é ajudá-los. É o que Cuca tem feito no Cruzeiro.
Roger tem atuado muito bem, de uma maneira diferente do que sempre fez, pela esquerda, mais recuado, próximo dos dois volantes, marcando, avançando e ainda fazendo gols.
Iniciando as jogadas de trás, ele, com a cabeça em pé, com uma ampla visão do que está à sua frente, pode fazer excelentes lançamentos.
Roger e Montillo, em posições e funções diferentes, completam-se. Roger é mais organizador, meia-armador. Montillo é mais agressivo, meia-atacante.
Vejo, com muita frequência, principalmente na Europa, os treinadores colocarem os melhores jogadores em posições em que eles deixam de ser especiais.
Na final da Copa dos Campeões da Europa de 2009, entre Manchester United e Barcelona, o excelente técnico Alex Ferguson, o mais experiente treinador do mundo, colocou Cristiano Ronaldo de centroavante, fixo, de costas para o gol, e Rooney pela esquerda, para correr atrás do lateral do Barcelona. Os dois em posições equivocadas.
Quando um técnico faz besteiras e seu time vence, às vezes até jogando bem, por outros motivos, ele é chamado de grande estrategista.
Ganhou, é ótimo. Perdeu, é péssimo. Ponto final. É uma visão estreita do futebol.


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