São Paulo, sexta-feira, 20 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FÁBIO SEIXAS

A aposta de Massa

Ao comparar Ferrari antiga com a atual, brasileiro tenta ganhar a equipe, o que pode ser vital mais para a frente

A VITÓRIA no domingo foi acachapante, a mais significativa da carreira. Porque neste ano, afinal, ele está correndo pelo título. Isso tudo ficou nas entrelinhas do discurso de Massa, no Bahrein. Um discurso sóbrio, hábito que começamos a conhecer, e até estranhamos, após anos de choradeira, promessas e sambadinhas. Mais: um discurso inteligente. E que trazia uma frase que passou despercebida em meio ao tríplice empate na liderança, ao deslumbramento por Hamilton, ao turbilhão de conjeturas sobre os destinos da temporada.
"Eu acho que a nova Ferrari não deve nada para a Ferrari antiga." Dois dias depois, já em São Paulo, voltou a batucar a tecla e explicou o porquê. Contou que trabalha para motivar a equipe, dos mecânicos aos engenheiros, e que todos precisam acreditar que os resultados do passado podem voltar, com Schumacher ou sem Schumacher -o caso. É a tal da história da mentira -ou, vá lá, conto da carochinha, porque inofensivo- repetida mil vezes. Pode até virar verdade. Ou pode fazer com que as pessoas trabalhem mais duro para que se torne realidade.
Massa sabe, no fundo, que a tal "Ferrari antiga" dificilmente será superada. A Ferrari que entre 1999 e 2004 venceu cinco Mundiais de Pilotos e seis Mundiais de Construtores. A Ferrari que conquistou 63 vitórias e 53 poles em 101 corridas. Mas, o que fazer? Reclamar? O brasileiro optou por outro caminho. Em 2005, lembro, ele aproveitou o GP Brasil para levar os integrantes da Sauber, todos, a uma churrascaria de São Paulo. Ele já estava de saída da equipe, mas ainda havia três etapas pela frente e achou legal sair com uma boa impressão. Coincidência ou não, correu bem na China, deixou Villeneuve para trás na classificação e ganhou o carro de brinde.
Em 2006, repetiu a dose, levando os integrantes da Ferrari para uma noitada de picanha e caipirinha. Coincidência ou não, ganhou o GP. Coincidência ou não? A curto prazo, sim: é pueril imaginar a relação direta "ele-me-pagou-um-churrasco-ontem-vou-ajudá-lo-hoje". A longo prazo, não. É construção de relacionamento. E só para citar um exemplo, todo ano Schumacher levava a Ferrari para o kartódromo de Kerpen às vésperas de Nurburgring.
Ao comparar publicamente Mario Almondo e Luca Baldisseri a Ross Brawn, Aldo Costa a Rory Byrne e tantos outros da turma atual aos heróis das antigas conquistas, Massa dá uma no cravo em sua disputa com Raikkonen por espaço no time. A na ferradura é de ordem técnica. O conhecimento infinitamente maior que tem dos Bridgestone em relação ao finlandês explica o 0s479 que impôs ao companheiro no grid.
Raikkonen hoje é mais piloto? Ainda acho que sim. Mas, em se mantendo um cenário de equilíbrio entre os dois no Mundial, outros fatores podem nortear a decisão ferrarista pelo primeiro piloto. É nisso que Massa aposta. Acertadamente.

PUJANÇA
A Stock Car começa em Interlagos com 49 pilotos inscritos e uma quarta montadora. Na Stock Light há outros 32 participantes, mais 17 na Stock Jr. Tornamo-nos, já é fato, um país de pilotos de turismo.

REVEZAMENTO
Depois do banho da Ganassi em Homestead e da vitória da Penske em St. Petersburg, a IRL iniciou Motegi com favoritismo da Andretti. Apesar do grid magro, a disputa por lá também pinta com acirrada.

CAUSA E EFEITO
No domingo, Jeff Burton festejou a vitória no Texas empunhando dois revólveres. Ontem, a Nascar anunciou que homenageará as vítimas de Virginia com o logo da universidade nos carros. Não seria menos hipócrita e mais eficiente se vetasse celebrações como aquela?

fseixas@folhasp.com.br


Texto Anterior: Itália: Sob suspeita, sete árbitros recebem suspensão
Próximo Texto: Santos assegura 1º lugar geral na Taça Libertadores
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.