|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FÁBIO SEIXAS
A aposta de Massa
Ao comparar Ferrari antiga com a atual, brasileiro tenta ganhar a equipe, o que pode ser vital mais para a frente
A VITÓRIA no domingo foi acachapante, a mais significativa
da carreira. Porque neste ano,
afinal, ele está correndo pelo título.
Isso tudo ficou nas entrelinhas do
discurso de Massa, no Bahrein.
Um discurso sóbrio, hábito que
começamos a conhecer, e até estranhamos, após anos de choradeira,
promessas e sambadinhas. Mais: um
discurso inteligente. E que trazia
uma frase que passou despercebida
em meio ao tríplice empate na liderança, ao deslumbramento por Hamilton, ao turbilhão de conjeturas
sobre os destinos da temporada.
"Eu acho que a nova Ferrari não
deve nada para a Ferrari antiga."
Dois dias depois, já em São Paulo,
voltou a batucar a tecla e explicou o
porquê. Contou que trabalha para
motivar a equipe, dos mecânicos aos
engenheiros, e que todos precisam
acreditar que os resultados do passado podem voltar, com Schumacher ou sem Schumacher -o caso.
É a tal da história da mentira -ou,
vá lá, conto da carochinha, porque
inofensivo- repetida mil vezes. Pode até virar verdade. Ou pode fazer
com que as pessoas trabalhem mais
duro para que se torne realidade.
Massa sabe, no fundo, que a tal
"Ferrari antiga" dificilmente será
superada. A Ferrari que entre 1999 e
2004 venceu cinco Mundiais de Pilotos e seis Mundiais de Construtores. A Ferrari que conquistou 63 vitórias e 53 poles em 101 corridas.
Mas, o que fazer? Reclamar? O
brasileiro optou por outro caminho.
Em 2005, lembro, ele aproveitou
o GP Brasil para levar os integrantes
da Sauber, todos, a uma churrascaria de São Paulo. Ele já estava de saída da equipe, mas ainda havia três
etapas pela frente e achou legal sair
com uma boa impressão. Coincidência ou não, correu bem na China,
deixou Villeneuve para trás na classificação e ganhou o carro de brinde.
Em 2006, repetiu a dose, levando
os integrantes da Ferrari para uma
noitada de picanha e caipirinha.
Coincidência ou não, ganhou o GP.
Coincidência ou não? A curto prazo, sim: é pueril imaginar a relação
direta "ele-me-pagou-um-churrasco-ontem-vou-ajudá-lo-hoje". A
longo prazo, não. É construção de
relacionamento. E só para citar um
exemplo, todo ano Schumacher levava a Ferrari para o kartódromo de
Kerpen às vésperas de Nurburgring.
Ao comparar publicamente Mario
Almondo e Luca Baldisseri a Ross
Brawn, Aldo Costa a Rory Byrne e
tantos outros da turma atual aos heróis das antigas conquistas, Massa
dá uma no cravo em sua disputa com
Raikkonen por espaço no time.
A na ferradura é de ordem técnica.
O conhecimento infinitamente
maior que tem dos Bridgestone em
relação ao finlandês explica o 0s479
que impôs ao companheiro no grid.
Raikkonen hoje é mais piloto?
Ainda acho que sim. Mas, em se
mantendo um cenário de equilíbrio
entre os dois no Mundial, outros fatores podem nortear a decisão ferrarista pelo primeiro piloto. É nisso
que Massa aposta. Acertadamente.
PUJANÇA
A Stock Car começa em Interlagos com 49 pilotos inscritos e uma
quarta montadora. Na Stock Light
há outros 32 participantes, mais 17
na Stock Jr. Tornamo-nos, já é fato,
um país de pilotos de turismo.
REVEZAMENTO
Depois do banho da Ganassi em
Homestead e da vitória da Penske
em St. Petersburg, a IRL iniciou
Motegi com favoritismo da Andretti. Apesar do grid magro, a disputa
por lá também pinta com acirrada.
CAUSA E EFEITO
No domingo, Jeff Burton festejou a vitória no Texas empunhando
dois revólveres. Ontem, a Nascar
anunciou que homenageará as vítimas de Virginia com o logo da universidade nos carros. Não seria menos hipócrita e mais eficiente se vetasse celebrações como aquela?
fseixas@folhasp.com.br
Texto Anterior: Itália: Sob suspeita, sete árbitros recebem suspensão Próximo Texto: Santos assegura 1º lugar geral na Taça Libertadores Índice
|