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Árbitros são "caseiros" no Brasil, diz estudo
Tese de mestrado analisou cartões dados em 2.352 jogos
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS
Árbitros de futebol aplicam
mais cartões contra jogadores
de times visitantes e são mais
tolerantes com atletas de times
que jogam em casa. A tese do
"apito caseiro", que sempre foi
alvo de suspeita de torcedores,
jogadores e dirigentes, agora
ganhou fundamento científico.
Dissertação de mestrado defendida por Vanessa Bellissimo
na Faculdade de Educação Física da Unicamp analisou 2.352
partidas dos campeonatos Paulista e Brasileiro da Série A entre 2003 a 2006. O resultado
mostrou que os mandantes receberam cerca de 4.700 cartões, enquanto os visitantes,
aproximadamente 7.100.
O estudo apontou ainda que
o time mandante recebeu, em
média, um cartão vermelho a
cada cinco jogos. Para os visitantes, as expulsões foram bem
mais freqüentes -ocorreram
uma vez a cada três partidas.
A pesquisadora utilizou dados de sites, revistas e jornais
esportivos -ignorando as súmulas dos jogos, que são públicas. "Em todos os anos, nos dois
campeonatos analisados conjunta ou isoladamente, os visitantes receberam mais cartões
amarelos e vermelhos e venceram menos partidas, com uma
grande diferença", afirmou.
Nas 2.352 partidas pesquisadas, os visitantes venceram
apenas 592 (25%) e foram derrotados em 1.191 (50%). Os demais 569 jogos (24%) terminaram empatados.
Jogadores dos times da casa
foram advertidos, em média,
com dois cartões amarelos por
partida -menos advertências
que os visitantes, que receberam três por confronto.
Vanessa Bellissimo ainda associou o número de cartões
amarelos com o placar das partidas. "Tanto o mandante como
o visitante receberam menos
cartões quando venceram seus
jogos. Independentemente dos
resultados, os mandantes sempre receberam menos cartões."
Entre os duelos analisados
está o da 40ª (antepenúltima)
rodada do Brasileiro-2005, entre Corinthians e Internacional, no qual o time paulista foi
mandante no Pacaembu.
A partida, decisiva, ficou empatada em 1 a 1. Com isso, o Corinthians manteve a diferença
de três pontos para o vice-líder
Inter e se consagrou tetracampeão brasileiro na última rodada. No jogo, o time visitante recebeu um cartão vermelho e
dois amarelos, e o mandante,
apenas um cartão amarelo.
Na ocasião, o árbitro Márcio
Rezende de Freitas deixou de
marcar um pênalti para o time
gaúcho e ainda expulsou Tinga,
entendendo que o meio-campista simulara falta na área.
"Não analisei os times pelo
seus nomes. Para mim, eram
apenas mandantes e não-mandantes. Prefiro não especular",
disse a pesquisadora, que agora
quer aprofundar os estudos.
Para o professor Antônio
Carlos de Moraes, orientador
da pesquisa, o estudo é pioneiro
no país ao abordar a arbitragem
desse ponto de vista.
A Folha procurou a Comissão de Arbitragem da Federação Paulista de Futebol para
que alguém comentasse o estudo, mas a assessoria da entidade informou que nenhum árbitro o faria.
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) também foi
procurada, por meio de sua assessoria de imprensa, mas preferiu não comentar o estudo.
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