São Paulo, Quinta-feira, 20 de Maio de 1999
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A incrível carreira do "sonso" Louis van Gaal

MATINAS SUZUKI JR.
da Equipe de Articulistas

Nós, brasileiros, não gostamos do técnico do Barcelona, o holandês Louis van Gaal. Ele tem cara de sonso. Não se dá bem com Rivaldo e barrou Giovanni do time, razões suficientes para a pátria de chuteiras verde-amarelas não bicar com ele para o resto de nossas vidas.
Também os catalães não apreciam muito o diretor técnico do Barça. Ele não é simpático. Tirou os espanhóis do time e fez de um dos maiores orgulhos da Catalunha uma espécie de sucursal holandesa.
Van Gaal é quase carisma zero, e recaem sobre ele ainda outras acusações, uma delas, de ser muito autoritário.
Essas são as más notícias. Mas ele tem um outro lado que é muito pouco conhecido no Brasil, e, agora que está prestes a ser novamente campeão espanhol, creio ser o momento oportuno para mostrá-lo.
A afirmação pode soar ousada, mas esse holandês talvez seja o técnico da década de 90. Pouquíssimos têm tantos títulos em tão pouco tempo.
O time do Ajax, no qual iniciou a carreira como assistente técnico e que montou a partir de 91, foi hegemônico na Holanda até 95, quando conquistou a chamada ""tríplice coroa": ganhar o Nacional, a Copa nacional e a Copa dos Campeões da Europa.
No final daquele ano, o Ajax de Van Gaal passou pelo Grêmio, na Copa Toyota. Na temporada seguinte, com o time já em decadência, tendo vendido parte dos jogadores e perdido outros para uma série incrível de contusões, Van Gaal ainda arrastou-o para a final da Copa dos Campeões, que acabou ficando com a Juventus de um outro grande técnico da década, o italiano Marcelo Lippi.
Louis van Gaal vai então para o Barcelona, no qual consegue um fato raríssimo: ser campeão espanhol e campeão da Copa do Rei logo na primeira temporada (a primeira dobradinha do Barça desde 1959). De quebra, ele ainda fica com a Supercopa européia, obscurecida pela conquista da Copa dos Campeões pelo Real Madrid.
Agora, Van Gaal está próximo de seu segundo título espanhol, em uma trajetória incrível. O Barça de hoje não agrada à imprensa e aos críticos. Não chegou à regularidade em um nível de futebol proeminente. Também não teve, nesta temporada, êxito internacional.
Mas nada disso impede que seu técnico seja uma das personalidades dos anos 90. Ele teve faro para apostar na nova geração de jogadores do Ajax (Seedorf, Davids, Kluivert etc.) e se deu bem. Foi um dos inovadores táticos ao optar pelo 3-4-3, com ponta-direita e esquerda, como antigamente. Na Holanda, não falta quem o aponte como o mais importante técnico do Ajax, superando inclusive o revolucionário Rinus Mitchels e o lendário Johan Cruyff.
Não bastasse tudo isso, Van Gaal é meu herói por ser o único técnico importante do mundo que não tem medo de, de vez em quando, escalar cinco atacantes. Ocorre às vezes no Barça, mas ocorreu também em um momento importante de sua carreira, no memorável Ajax: quando pôs para jogar, no segundo tempo, o ataque com Finidi George, Kanu, Kluivert, Frank de Boer e Overmars, definindo um jogo que estava a favor do Milan, na final da Copa dos Campeões de 95, em Viena. E o que é melhor, meninos, eu estava lá e vi.


Matinas Suzuki Jr. escreve às quintas e é diretor editorial-adjunto da Abril S.A.


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