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A incrível carreira do "sonso" Louis van Gaal
MATINAS SUZUKI JR.
da Equipe de Articulistas
Nós, brasileiros, não gostamos do técnico do Barcelona, o
holandês Louis van Gaal. Ele
tem cara de sonso. Não se dá
bem com Rivaldo e barrou Giovanni do time, razões suficientes para a pátria de chuteiras
verde-amarelas não bicar com
ele para o resto de nossas vidas.
Também os catalães não
apreciam muito o diretor técnico do Barça. Ele não é simpático. Tirou os espanhóis do time e
fez de um dos maiores orgulhos
da Catalunha uma espécie de
sucursal holandesa.
Van Gaal é quase carisma zero, e recaem sobre ele ainda outras acusações, uma delas, de
ser muito autoritário.
Essas são as más notícias.
Mas ele tem um outro lado que
é muito pouco conhecido no
Brasil, e, agora que está prestes
a ser novamente campeão espanhol, creio ser o momento
oportuno para mostrá-lo.
A afirmação pode soar ousada, mas esse holandês talvez seja o técnico da década de 90.
Pouquíssimos têm tantos títulos em tão pouco tempo.
O time do Ajax, no qual iniciou a carreira como assistente
técnico e que montou a partir
de 91, foi hegemônico na Holanda até 95, quando conquistou a chamada ""tríplice coroa": ganhar o Nacional, a Copa nacional e a Copa dos Campeões da Europa.
No final daquele ano, o Ajax
de Van Gaal passou pelo Grêmio, na Copa Toyota. Na temporada seguinte, com o time já
em decadência, tendo vendido
parte dos jogadores e perdido
outros para uma série incrível
de contusões, Van Gaal ainda
arrastou-o para a final da Copa dos Campeões, que acabou
ficando com a Juventus de um
outro grande técnico da década, o italiano Marcelo Lippi.
Louis van Gaal vai então para o Barcelona, no qual consegue um fato raríssimo: ser campeão espanhol e campeão da
Copa do Rei logo na primeira
temporada (a primeira dobradinha do Barça desde 1959). De
quebra, ele ainda fica com a
Supercopa européia, obscurecida pela conquista da Copa dos
Campeões pelo Real Madrid.
Agora, Van Gaal está próximo de seu segundo título espanhol, em uma trajetória incrível. O Barça de hoje não agrada
à imprensa e aos críticos. Não
chegou à regularidade em um
nível de futebol proeminente.
Também não teve, nesta temporada, êxito internacional.
Mas nada disso impede que
seu técnico seja uma das personalidades dos anos 90. Ele teve
faro para apostar na nova geração de jogadores do Ajax
(Seedorf, Davids, Kluivert etc.)
e se deu bem. Foi um dos inovadores táticos ao optar pelo 3-4-3, com ponta-direita e esquerda, como antigamente. Na Holanda, não falta quem o aponte
como o mais importante técnico do Ajax, superando inclusive o revolucionário Rinus Mitchels e o lendário Johan Cruyff.
Não bastasse tudo isso, Van
Gaal é meu herói por ser o único técnico importante do mundo que não tem medo de, de vez
em quando, escalar cinco atacantes. Ocorre às vezes no Barça, mas ocorreu também em
um momento importante de
sua carreira, no memorável
Ajax: quando pôs para jogar,
no segundo tempo, o ataque
com Finidi George, Kanu, Kluivert, Frank de Boer e Overmars, definindo um jogo que
estava a favor do Milan, na final da Copa dos Campeões de
95, em Viena. E o que é melhor,
meninos, eu estava lá e vi.
Matinas Suzuki Jr. escreve às quintas e é diretor editorial-adjunto da Abril S.A.
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