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FUTEBOL
É uma honra
ANDRÉ KFOURI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Hoje eu vou conhecer Pelé.
Estou entre os felizardos que
assistirão à pré-estréia do filme
"Pelé Eterno", de Anibal Massaini, no Palácio dos Bandeirantes.
Vou a trabalho, numa dessas ocasiões em que obrigação e diversão
se confundem.
Já estive com o Rei. Fiz uma ou
duas entrevistas com ele, vi vários
de seus mais de mil gols na televisão, li muito sobre o que ele fez
com a bola nos campos do mundo. Mas quem já viu o trailer ou
partes do filme de Massaini diz
que se trata de algo arrebatador,
de uma experiência que vai convencer até os filhos de Diego Maradona de que não há comparação entre os dois gênios. Ouvi isso
de quem teve a alegria de ver Pelé
jogar com freqüência. Imagine
quem não viu, como eu.
Na pele de Marty McFly, personagem de Michael J. Fox na série
"De Volta para o Futuro" que dirigia um carro que voava pelo
tempo, eu não teria nenhuma dúvida em digitar no painel os primeiros anos da década de 60 para
uma visita. Assim poderia ver Pelé jogando naquele fantástico time do Santos e saciar uma curiosidade antiga. Os arquivos de gols
que, vira e mexe, as TVs mostram
são ótimos para provar como Pelé
era craque, como criava, driblava
e finalizava.
Mas não respondem à pergunta: "Era assim em todos os jogos?". Claro que não, já me disseram. Mas também disseram que
ele decidia jogos com mais freqüência do que os craques de hoje. De certa maneira, continuo curioso. Queria passar um mês vendo o Rei jogando, só assim acho
que teria uma idéia do monstro
que ele foi.
E, depois, mudaria o rumo do
carro do tempo para 1970, para
ver a Copa do México.
Fantasias impossíveis.
Na Argentina, entre outras coisas, questiona-se o número de
gols que Pelé marcou. Um colega
da ESPN de lá me perguntou recentemente se estão computados
os gols que ele fez em treinos ou
em peladas entre amigos. Dizem
também que, enquanto Pelé jogou com Tostão, Rivellino e Gérson, Maradona teve companheiros infinitamente inferiores. E
concluem afirmando que "Dom
Diego" jogou em uma época em
que havia menos espaço, marcadores mais eficientes, um futebol
muito mais competitivo. E, mesmo assim, brilhou.
Eu vi Maradona jogar, ele foi o
maior craque que eu já vi. Mas
nasci em 1973, não vi Pelé. E acho
que quem usa o raciocínio acima
também não viu, ou quis esquecer. Será que conseguiu? Estou entre os que acreditam que, se jogasse hoje, Pelé seria um jogador tão
maravilhoso quanto foi. Teria o
mesmo talento, a mesma genialidade e o preparo físico necessário
para jogar mais, correr mais,
agüentar pancadas e, se algum
maluco exigisse, até marcar. Mas
essa é outra fantasia impossível.
Ainda bem que será possível vê-lo na tela grande marcando gols
quase inéditos, em imagens raras
que chegaram de todas as partes
do mundo durante os últimos
quatro anos.
O jogo contra o Benfica, que Pelé classifica como um dos melhores de sua carreira. A recriação do
"gol de placa" no Maracanã e do
"gol da Rua Javari".
Depoimentos de companheiros
e, claro, do próprio. Tudo narrado
por Fúlvio Stefanini, com texto de
Armando Nogueira.
No Brasil, há quem diga que,
com o passar dos anos, as gerações se distanciarão tanto de Pelé
que ele se transformará em um
mito, algo em que será difícil
acreditar. As cruéis comparações
entre o gênio da bola e o homem
comum ajudarão a diminuir seus
feitos, mesmo que a televisão continue repetindo seus gols.
Nem poderão chamá-lo de Atleta do Século, pois já estamos em
outro.
Tomara que "Pelé Eterno" consiga aproximar os infelizes que
nasceram depois que Pelé parou
daquilo que ele fazia quando jogava. Que seja um filme para ver
várias vezes no cinema, comprar
o DVD e assistir em casa quando
bater aquela saudade de futebol.
Um filme para apresentar o Rei
Pelé a quem não teve a chance de
conhecê-lo.
Minha alegria ao ser convidado
para ocupar excepcionalmente
este espaço tão nobre só não foi
maior do que a tristeza ao conhecer o motivo. Solidarizo-me com a
dor do genial Tostão, outro craque que eu não vi, colunista que
não deixo de ler.
André Kfouri, 30, é repórter da
ESPN Brasil
E-mail: andre.kfouri@espn.com.br
Excepcionalmente hoje Tostão não escreve neste espaço
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