São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 2006

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Não joga 10

Puxados por Ronaldinho, o mais badalado deles, camisas 10 se tornam coadjuvantes na Copa que inicia hoje segunda metade

EDUARDO ARRUDA
PAULO COBOS
RICARDO PERRONE
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A BERGISCH GLADBACH

Ela já era objeto de desejo de qualquer aspirante a craque. Agora é exaltada até em campanhas de marketing da Nike e da Adidas. Mas, com raras exceções, quem a usa na Copa da Alemanha decepciona.
Puxados pelo brasileiro Ronaldinho, o mais famoso deles, os camisas 10 das seleções que disputam o Mundial se transformaram em coadjuvantes.
A começar pela artilharia. Ao final da primeira metade da Copa, só 5 dos 75 gols marcados (ou menos de 7%) foram de jogadores que vestem o número que consagrou Pelé.
Ronaldinho, que disse à Folha querer fazer mais gols, só finalizou três vezes até agora. E quase não tem driblado. A bola passa muito por seus pés, mas isso é pouco para quem é protagonista de campanha mundial exaltando a 10 e que já fez declarações de amor à camisa.
"Sempre sonhei em seguir os passos dos gigantes do futebol. Vestir a 10 é algo especial para mim, porque a maioria de meus ídolos a vestiam", disse o atleta do Barcelona, que tem ilustres companhias na apatia dos 10.
Em seu adeus ao futebol, o francês Zidane é uma caricatura do craque de outrora. Em dois jogos contra adversários medianos, o meia não fez gols nem assistências decisivas para companheiros de equipe.
O mesmo aconteceu até agora com o inglês Michael Owen, o sueco Ibrahimovic, o sérvio Stankovic e o holandês Van der Vaart. Alguns tiveram brilhos fugazes, como o italiano Totti, responsável pela assistência de um gol da sua equipe, e o japonês Nakamura, autor do único gol da sua seleção na Copa.
Alguns dos 32 "sortudos" que receberam a 10 nem titulares absolutos são (caso do australiano Kewell) ou nem o gosto de entrar em campo tiveram (como o espanhol Reyes).
Todos esses jogadores são badalados, seja em seus países ou em escala mundial.
Tanto que muitos deles são astros de campanhas publicitárias. A Nike criou o "Joga bonito" para reverenciar o futebol de Ronaldinho. A Adidas lançou uma edição de chuteiras com a inscrição "Zinedine Zidane 10" para celebrar a despedida do francês dos gramados.
A má fase dos 10 é um replay do que ocorreu em 2002. Nas duas primeiras rodadas dos grupos na Ásia, os que usavam esse número marcaram seis vezes -só uma a mais do que agora. Ao final daquele Mundial, o único dono da camisa mais famosa do futebol que brilhou de forma consistente foi Rivaldo, vice-artilheiro do Brasil.
Essas duas edições vão destoar de boa parte das histórias das Copas, que só adotou a numeração fixa em 1954, na Suíça.
O mesmo Zidane que agora decepciona foi o craque de 1998. Maradona brilhou em 1986. Pelé ganhou três Copas do Mundo, fato inédito como atleta, usando a 10 que agora é maltratada na Alemanha.


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